Veja quais são as cidades brasileiras na fronteira com região rica em petróleo disputada pela Venezuela e Guiana

 Foto: Caíque Rodrigues

Região alvo de uma disputa de quase dois séculos pela Venezuela e a Guiana, Essequibo fica localizado na fronteira com duas cidades brasileiras: Bonfim, que leva os turistas a um paraíso de compras baratas, e Pacaraima, a porta de entrada para migrantes venezuelanos que fogem da crise econômica no país vizinho. As duas estão em Roraima, o estado com a menor população do Brasil.

Os países vizinhos ao Brasil protagonizam uma disputa judicial pela região de Essequibo desde 2018, quando o caso passou a tramitar na Corte Internacional de Justiça (CIJ), quando a Guiana recorreu ao tribunal por não acreditar que teria mais condições de negociar a posse do território de forma conciliadora com a Venezuela

Em Roraima, as duas cidades brasileiras – Bonfim e Pacaraima – são consideradas cidades-gêmeas por estarem ligadas às cidades de Lethen, na Guiana, e Santa Elena, na Venezuela. Desta forma, possuem relações entre si, seja no dia a dia, com o vai e vem de pessoas entre os países vizinhos, ou nas relações comerciais de âmbito nacional.

Na avaliação do pesquisador sobre o litígio de Essequibo, Ricardo Salvador de Toma – doutor no assunto pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o que preocupa neste caso é que, geograficamente, Roraima tem um “vínculo permanente” com áreas de disputas.

“Roraima tem um vínculo permanente e eterno com áreas de disputa, porque o estado de Roraima tem, aproximadamente, 960 quilômetros de limites com o Essequibo. Se somarmos a isso os limites que existem com a Venezuela, e a se a Venezuela chegasse a recuperar integralmente o território de Essequibo, num eventual cenário, a fronteira entre o Brasil e a Venezuela ultrapassaria quase os 3 mil quilômetros e seria uma das maiores do mundo”, frisou.

O pesquisador ainda acrescentou que “tudo que acontece na região das Guianas tem repercussões automáticas no estado de Roraima e toda região Norte do Brasil. Para o estado de Roraima, o assunto tem que ser tratado de maneira estratégica e calma, e especialmente com coerência”, frisou.

Bonfim

Com uma população de 13.923 pessoas e localizada ao Norte de Roraima, Bonfim é cidade-gêmea de Lethem, a cidade guianense considerada o “paraíso das compras baratas”, com leis fiscais bem menos rígidas do que no Brasil. O acesso entre as duas é feito pela ponte sobre o rio Tacutu.

Foto: Caíque Rodrigues

Distante cerca de 125 km da capital Boa Vista – aproximadamente 1h30 de carro, Bonfim tem a economia movida pela agropecuária, 48%, e a administração pública, 34%.

Em 2020, Bonfim teve o maior Produto Interno Bruto (PIB) per capita de Roraima, com R$ 33.246, segundo dados da Secretaria de Planejamento e Orçamento (Seplan).

“Na prática Bonfim produz mais riqueza por população do que os demais municípios de Roraima”, explica o economista e secretário-adjunto da Seplan, Fábio Martinez, acrescentando que isso ocorre porque lá tem “uma população pequena, mas tem uma produção significativa, principalmente em relação a agropecuária”.

Além disso, Bonfim ocupa a 9ª posição entre os 15 municípios de Roraima com a maior população.

O prefeito do Bonfim, Joner Chagas (Republicanos), que está no segundo mandato, define como preocupante a situação da disputa por Essequibo. Segundo ele, a cidade tem uma boa relação com a Guiana e a situação tem que continuar como está: Essequibo sendo administrada pela Guiana.

“É muito preocupante a questão da Venezuela querer tomar aquilo que eu acho que não é deles. Eu acho que a Guiana está evoluindo, está crescendo e isso [o crescimento do país] vai ajudar muito o nosso município. Se tiver uma disputa dessa não vai ser bom para Guiana e nem para nós aqui do Brasil, não é bom para nossa fronteira não. Tem que continuar como está”, afirmou Joner.

O prefeito afirmou que no município as escolas recebem alunos da guiana e há casos em que brasileiros vão até em Lethen em busca de tratamentos de saúde.

Pacaraima

Fundada em 1995, Pacaraima faz divisa com a cidade de Santa Elena de Uairén, na Venezuela. O município roraimense é a porta de entrada para os venezuelanos que entram no Brasil por terra e o lar de 19.305 pessoas – o 5º município mais populoso de Roraima.

Foto: Caíque Rodrigues

No primeiro trimestre de 2023, cerca de 39.369 migrantes entraram no Brasil por Pacaraima. De lá, seguem para a capital Boa Vista ou outras cidades.

O município tem como economia principal o funcionalismo público – 69%. Os serviços que não envolvem a administração pública representam 22% do dinheiro que cirula na região. Em 2020, a cidade teve o quarto menor PIB per capita do estado: R$ 15.359 – ou seja, produz menos riqueza que Bonfim, por exemplo.

“No caso um dos mais pobres, a população de lá já é maior, mas não se produz muito, a cidade não pode crescer, por estar dentro de uma terra indígena”, explica Martinez. Isso faz com que a região dependa “apenas da administração pública e do comércio”.

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