O idoso de 80 anos que foi readmitido para o trabalho em um banco na Bahia, 59 anos após ser preso pela ditadura, compareceu ao seu primeiro dia de trabalho nesta segunda-feira (15). Osmar Ferreira foi recebido com aplausos pelos novos colegas.
“Meu real direito é a minha reintegração ao meu trabalho e o pagamento de uma indenização de todos os valores que eu deveria ter recebido do dia 20 de abril de 1964 até hoje”, contou.
A história do bancário começou em 1960, em Feira de Santana, quando ele conquistou o primeiro emprego no então Banco do Estado da Bahia (Baneb). Osmar passou a fazer parte da diretoria da associação dos empregados, que ainda em 1964 virou o sindicato.
Com o golpe militar, os sindicatos e associações foram fechados, e ele foi preso por ser diretor sindical e líder de movimento trabalhista. Osmar Ferreira passou 12 dias sob tortura e foi demitido do serviço pela “acusação” de ser comunista.
Desempregado, ele ainda foi impedido de estudar Direito por 10 anos, pelo então Sistema de Segurança Nacional. A alternativa que ele encontrou para continuar trabalhando foi atuar como caminhoneiro, junto com o pai.
“Me inscrevia para os vestibulares de direito, que era o meu sonho ser advogado, e as minhas inscrições não eram deferidas pelas universidades. As torturas psicológicas continuaram sobre minha família. O sofrimento foi muito grande”, disse.
Apesar dos obstáculos, Osmar conseguiu entrar para a faculdade em 1974, se tornou advogado e atuou na área por 40 anos.
Em 2011, a criação da lei que instituiu a Comissão Nacional da Verdade – órgão que investiga as violações de direitos humanos cometidas entre setembro de 1946 e outubro de 1988 – deu um novo horizonte para Osmar.
O conhecimento adquirido na advocacia fez com que ele entrasse com um processo contra o banco (agora Bradesco) na Justiça e pedisse reparação e indenização por danos morais.
Readmitido nesta segunda-feira, Osmar trabalhará seis horas por dia como escriturário.