
As gestações da auxiliar de coordenação Heusiléia Coelho, 41 anos, de Goiás, nunca foram tranquilas. Seu primeiro filho, João Pedro, hoje com 17 anos, nasceu prematuro e ficou 11 dias na UTI. Na segunda gestação, sua filha Ana Pérola, 12 anos, também nasceu prematura e precisou ficar na UTI para ganhar peso.
O tempo passou e, já em um novo relacionamento, Heusiléia decidiu ter mais um filho. Bastou um mês para o teste de gravidez dar positivo. Apesar da felicidade que não cabia no peito, o medo e a insegurança pelo histórico das gestações anteriores eram inevitáveis.
Tudo ia bem até a 12ª semana de gestação quando um sangramento levou Heusiléia ao obstetra, que indicou o uso de progesterona. “Como havia corrimento, o médico suspeitou de infecção urinária”, conta. O exame de sangue mostrou uma forte anemia e um número aumentado nos leucócitos, o que indicava uma possível infecção.
Ela passou a tomar ferro na veia e retornou ao trabalho. Alguns dias depois, no entanto, o corrimento voltou e ela começou a sentir uma dor semelhante a uma contração. Dessa vez, o médico sugeriu o uso de uma pomada. “Usei a medicação por sete dias enquanto finalizava, a todo vapor, o quarto do nosso bebê, o Henrique. Na noite em que tudo ficou pronto, eu acordei com vontade de fazer xixi e senti um beliscão no colo do útero. Antes de levantar, a água começou a escorrer pelas minhas pernas”, lembra.
Por telefone, o obstetra avisou: “Você está em trabalho de parto! Precisa correr para o hospital”. E assim, Heusiléia e o companheiro, Wilson, procuraram a unidade mais próxima. Ao chegar no hospital de Minaçu (GO), cidade onde vivem, ela já sabia que seria transferida para Uruaçu que fica a 225 quilômetros de distância e com mais estrutura hospitalar, inclusive UTI neonatal.
“A verdade é que se meu bebê nascesse no hospital de Minaçu, sem UTI neonatal, ele não teria chance de sobreviver, mas a equipe médica me alertou que, se a vaga para Uruaçu não saísse rápido, eles teriam que fazer o parto ali mesmo, já que eu estava com corioamnionite materna, uma infecção nas membranas que envolvem o feto, e poderia se agravar e se tornar generalizada, causando risco para mim e para o bebê”, completa.
Como um milagre, a vaga saiu em uma hora. Ao chegar no hospital de Uruaçu, Heusiléia fez novos exames, recebeu soro e antibióticos para conter a infecção, mas não obteve bons resultados. A infecção aumentou, veio a febre e a pressão começou a preocupar. Não tinha saída: a gestação deveria ser interrompida com urgência, apesar de ela estar com apenas 23 semanas de gestação.
O parto cesárea aconteceu e, quando Henrique nasceu, com apenas 740 gramas, o pediatra chamou o pai, Wilson. “Foi um momento muito angustiante. Nós estávamos aflitos para saber se ele estava vivo. O pediatra foi sincero com meu marido: ‘O bebê tem apenas 1% de chance de sobreviver’. Apesar do desespero, eu pensei: ‘Enquanto houver chance, nós vamos lutar’”, conta.

Mãe de UTI
Após o parto, Heusiléia precisou ficar internada por sete dias. Assim que recebeu a liberação para ver o bebê, disse que foi uma “mistura de sentimentos”. “Me senti grata, mas senti medo ao ver aquele bebê tão pequenininho, entubado, com os pés e mãozinhas roxos”, revela. Os dias seguiram e, apesar de ter recebido alta, ela nunca foi embora do hospital. “Eu tinha tanto medo de perder Henrique, que dormi 4 meses em uma cadeira na UTI, olhando os parâmetros, vigiando meu filho, mas só pude segurá-lo no colo 28 dias depois”, diz.
Foram muitas intercorrências até que, após 4 meses de UTI, finalmente, Henrique recebeu alta. “Ele é o nosso milagre. Estamos em casa, mas continuamos o acompanhamento com a fisioterapeuta e pneumologista. Lutamos pela vida de Henrique quando ele tinha apenas 1% de chance e estamos aqui para festejar a nossa vitória”, finaliza Heusiléia, com muita emoção.

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