
A Polícia Civil concluiu um inquérito sobre a morte do jovem Welson Figueredo Macedo, de 28 anos. O funcionário terceirizado da Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa) morreu após ser baleado por um policial militar na noite de 9 de julho, no bairro de Castelo Branco.
À época, a PM disse que Welson era suspeito de roubar um casal e que ele teria sido atingido em meio a uma troca de tiros com os agentes. No entanto, imagens de câmeras de segurança contestaram essa versão.
Os vídeos obtidos com exclusividade pela produção da TV Bahia mostram que Welson saiu do trabalho de moto, deixou um colega em casa e, minutos depois, foi abordado pelos PMs. Ele estava desarmado, com as duas mãos no guidão, enquanto pilotava o veículo.
Em depoimento, as vítimas do assalto também disseram que não reconheceram Welson como um dos assaltantes.
Com base nessas e outras informações, os investigadores decidiram indiciar os três policiais militares envolvidos por homicídio e fraude processual. Os alvos são:
- Cabo PM Igor Portugal da Fonseca;
- Cabo PM Cládio Alves dos Prazeres Júnior, que estava no comando da guarnição durante a ocorrência;
- Soldado PM Rafael Vieira da Silva.
De acordo com o inquérito, a bala que atingiu Welson partiu da arma de Igor Portugal. Ele era soldado em julho, mas, em outubro, já com as investigações da morte do funcionário em curso, foi promovido a cabo.
O resultado da investigação foi remetido ao Ministério Público da Bahia (MP-BA). Agora cabe ao órgão avaliar o documento para oferecer denúncia criminal à Justiça ou pedir novas diligências, caso julgue necessário obter mais esclarecimentos.
Em nota, a Polícia Militar lembrou que aguarda apenas o resultado dos laudos periciais para a conclusão da sindicância aberta internamente. “A PMBA reitera seu compromisso com a transparência e a apuração de qualquer conduta que desvie dos protocolos da corporação, reafirmando seu compromisso com a legalidade e a confiança da sociedade”, diz o texto.
Família luta por justiça
Os parentes do jovem Welson Figueredo Macedo lutam por justiça à memória dele enquanto lidam com o luto da perda. Para o pai do jovem, Elieson Macedo, tem sido difícil lidar com a dor.
“A família está destruída. Destruíram toda a minha família e a família de meu filho”, declarou em entrevista ao Bahia Meio Dia, telejornal da TV Bahia.
De acordo com Macedo, a mãe de Welson precisou sair do trabalho, pois segue muito abalada. O jovem deixou ainda esposa e um filho de 8 anos.
Relembre o caso
Em nota divulgada à época, a PM disse que agentes da 47ª Companhia Independente (CIPM/Pau da Lima) faziam rondas na região, quando avistaram três suspeitos assaltando um casal. Com a aproximação, o trio teria atirado contra a viatura e fugido em seguida.
Momentos depois, a corporação teria recebido denúncias de que eles estavam no fim de linha do bairro. Com isso, teria ocorrido troca de tiros entre agentes e suspeitos, com um dos criminosos baleado. O suposto assaltante seria Welson, levado para o Hospital Eládio Lasserre, onde morreu durante uma cirurgia. Os militares teriam ainda apreendido com ele um revólver e munições de calibre 38, além da motocicleta.
Cerca de quatro meses após o crime, a TV Bahia reuniu informações que contestam os relatos policiais. Tanto imagens da área quanto os depoimentos das vítimas do assalto indicam que Welson não estava armado.
- De acordo com a Embasa, o funcionário trabalhou regularmente o dia inteiro no dia 9 de julho. Registros da empresa mostram que ele deixou o posto de trabalho às 19h18, pilotando uma moto e com um colega na garupa.
- Um outro vídeo, às 19h46, mostra Welson sozinho, trafegando pela praça de Castelo Branco após deixar o amigo em casa. Foram apenas quatro minutos entre o ponto onde ele deixou o parceiro e foi interceptado pela polícia, na Rua Caminho 35.
- O relógio marcava 19h50 quando Welson foi visto desarmado e recebendo o tiro. Pelas imagens, é possível ver que a vítima levantou uma das mãos no momento em que policiais e a viatura se aproximaram.
- Depois, às 19h52, um dos agentes levantou a moto e colocou o veículo no canto da pista.
- Na sequência, os agentes mudaram a posição de Welson e suspenderam a camisa dele. Oito minutos se passaram até que a viatura da 47ª CIPM/Pau da Lima se movimentou e uma segunda viatura, da mesma companhia, chegou ao local.
- Somente às 19h59, Welson foi colocado no carro dessa segunda equipe, que não participou da ação inicial. Às 20h, exatos 10 minutos após o disparo, ele foi levado para o Hospital Eládio Lasserre.
- O trabalhador chegou vivo à unidade de saúde, passou por cirurgia, mas morreu às 21h20. A perícia aponta que a causa da morte foi traumatismo abdominal provocado por arma de fogo