Segundo conversas obtidas pela Polícia Federal (PF), novas lideranças do Rio de Janeiro querem criar uma nova cúpula com apenas três ou quatro integrantes.
Por Adriana Cruz, Leslie Leitão e Paulo Renato Soares, TV Globo
19/04/2023 06h00
Em novembro do ano passado, uma interceptação de uma conversa telefônica pela Polícia Federal (PF) com membros de uma quadrilha que vendia cigarros sem recolher impostos no Rio de Janeiro mostrava um plano de expansão para o jogo do bicho, impondo uma nova cúpula da contravenção na cidade.
Agora, uma nova guerra por pontos já fez três vítimas só este mês.
De acordo com a polícia, de um lado estão Adilson Oliveira, conhecido como Adilsinho da Grande Rio, seu sobrinho Bernardo Coutinho e Flávio Santos, presidente da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel.
De outro, estaria a velha cúpula, formada por Rogério de Andrade, Vinícius Drumond (filho de Luizinho Drumond) e Bernardo Bello, que herdou os pontos do sogro, o bicheiro Waldomiro “Maninho” Garcia.
Entenda quem é quem na disputa
Adilson Oliveira, o Adilsinho da Grande Rio: Investigado como um dos chefes da máfia que vende cigarros ilegalmente na Região Metropolitana e no interior do estado, teve uma conversa interceptada pela PF querendo formar uma nova cúpula do jogo do bicho. É apontado em uma denúncia como o responsável pelos atentados deste mês. Também controla o jogo do bicho em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.
“Tenho certeza de que foi do pessoal Adilsinho, querendo tomar ponto de bicho nosso, Rogerio Andrade e o Vinícius Drumond. Trabalho com isso há 20 anos. Estão passando há 2 meses nos pontos, dizem que quem não trabalhasse com eles ia morrer”, denunciou o contraventor Luiz Cabral
- Bernardo Coutinho, sobrinho de Adilsinho e ligado à Acadêmicos do Grande Rio: Atuava com o tio no contrabando de cigarros sem pagamento de impostos. Foi preso em novembro do ano passado e interceptado pela PF falando sobre os planos de uma nova cúpula da contravenção no Rio de Janeiro.
- Flávio Santos, o Flavinho, presidente da Mocidade Independente de Padre Miguel: Citado em uma conversa entre Adilsinho e Bernardo Coutinho como apoiador do projeto dos dois.
“Tio, posso estar até equivocado, mas acho que o lado da verde e branca, acho que nunca teve história de traição. É tudo futebol clube. O Flavinho só fala de você”, disse Bernardo em conversa interceptada pela PF.
Rogério Andrade, herdeiro do contraventor Castor de Andrade e presidente de honra da Mocidade Independente de Padre Miguel: Controla os pontos da contravenção na Zona Oeste e Zona Norte. Investigado na “Operação Calígula”, que mostrava como ele expandia seus negócios de exploração de jogos de azar mediante a imposição de domínio territorial com violência, além da prática reiterada e sistêmica dos crimes de corrupção ativa, homicídio, lavagem de dinheiro, extorsão e ameaça. É apontado ainda como mandante do assassinato do também bicheiro Fernando Iggnácio, há dois anos.
- Vinícius Drumond, herdeiro do contraventor Luizinho Drumond, e presidente de honra da Imperatriz Leopoldinense: Seria o dono dos pontos do jogo do bicho na Zona Norte da cidade, e estaria alinhado com a velha cúpula.
- Bernardo Bello, que herdou pontos do bicho do sogro, Waldomiro “Maninho” Garcia: Concentra seus pontos na Zona Norte e Centro e é ex-presidente da escola de samba Unidos de Vila Isabel. Teria 47 pontos de contravenção em bairros das zonas Norte, Sul e Centro do Rio.
Guerra e terror
A guerra por pontos do jogo de bicho ou para instalar máquinas de caça-níquel é feita com tiros e violência.
- No último dia 6, um homem foi metralhado na porta de casa, na Tijuca, na Zona Norte da cidade.
- No dia 14, um homem teve o carro metralhado no Catumbi, na Região Central, mas sobreviveu. Nesse mesmo dia, no Andaraí, na Zona Norte, dois homens foram atacados a tiros por um grupo de criminosos. Um dos alvos era policial militar.
- No sábado (15), em Vila Isabel, também na Zona Norte, outros dois homens foram atacados a tiros em um bar que oferece jogos em máquinas caça-níqueis. Todos os ataques aconteceram na região controlada pela velha cúpula.
O clima de terror instaurado fez com que um contraventor, pai do homem que teve o carro metralhado, fosse a uma delegacia denunciar o que acontece na guerra do jogo do bicho.
“Eu trabalho há 20 anos para os Garcia. Tomo conta de pontos do Andaraí ao Leblon. São 47 pontos. E hoje todos os funcionários estão com medo. A briga não é só lá em cima, tem os funcionários. Eles vão matar. E a prova disso é meu filho. Ele não é do bicho”, disse contraventor Luiz Cabral.
As acusações feitas por Cabral foram registradas em seu depoimento e serão investigadas pelas forças policiais.