Argentina: três fatos que complicam o voto no governo na eleição presidencial

Por Alenilton Malta | De cara com as feras

Segunda-Feira, 18/04/2023

Os argentinos elegem presidente no dia 22 de outubro ou no segundo turno, no dia 19 de novembro. A situação econômica complica os planos do governo. Mas a oposição também é criticada por falta de rumo.

s cotações para os consumidores na vitrine de uma loja no calçadão da Florida, em Buenos Aires, nesta terça-feira. (Foto: Juano Tesone)

Cerca de 35 milhões de eleitores argentinos poderão votar na eleição presidencial deste ano. A seis meses do pleito, nos bastidores do governo, já duvidam da possibilidade de o presidente Alberto Fernández buscar a reeleição. O cenário social e econômico não é favorável para as candidaturas governistas.

Na semana passada, o Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec) informou que a inflação de março foi de 7,7% e que nos 12 meses, entre março de 2022 e março de 2023, o índice acumulado chegou a 104,3%.

A remarcação de preços é notória no cotidiano dos argentinos. O dado pode influenciar o voto dos eleitores, de acordo com analistas de diferentes tendências. O problema é que não se percebe um plano para o combate à inflação e o foco do ministro da Economia, Sergio Massa, parece estar nas negociações com o Fundo Monetário Internacional (FMi). No governo, cresce o argumento de que a seca histórica registrada neste ano e os três anos seguidos do ‘efeito La Niña’ afetaram a produçâo agropecuária e, consequentemente, a geração de divisas das exportações, pressionando ainda mais a escassez de reservas no Banco Central da República Argentina (BCRA) e a inflação – especialmente a de alimentos, justifica-se.

Além da inflação e do que é apontado como “inércia” do governo diante do problema, a alta do preço do dólar paralelo contribui para gerar incertezas nos rumos da economia, mesmo sendo este um mercado menor, de acordo com os economistas, em relação aos outros indicadores econômicos. Mas o valor do chamado dólar ‘blue’, o paralelo, reforça, porém, a percepção de falta de um trabalho sério por parte dos governistas para tentar reduzir a escalada inflacionária.

Nesta terça-feira, o dólar ‘blue’ chegou ao recorde de 418 pesos, depois de ter ultrapassado, pela primeira vez, os 400 pesos, na sexta-feira passada.

Um terceiro fator que poderia complicar o voto no governo é a percepção, entre os eleitores, de que os seus problemas não estão sendo ouvidos pelas autoridades, por quem decide. Passou, então, a ser comum ouvir, principalmente entre os jovens, uma certa decepção com a política, o que, segundo pesquisas de opinião, poderia estar favorecendo o candidato Javier Milei, deputado federal que baseia seus discursos nos ataques contra a política.

Imagem: GETTY IMAGES

Mas na oposição reunida na coalizão Juntos por el Cambio (Juntos pela Mudança) as disputas internas passarão a ser mais intensas e públicas. O ex-presidente Mauricio Macri, que disse que não disputará a eleição, e o chefe de governo (equivalente a governador) da cidade de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta, se distanciaram. Larreta quer ser presidente e a ex-ministra da Segurança do governo Macri, Patricia Bullrich, também. Larreta e Bullrich passaram a trocar alfinetadas públicas. Macri mantém seu discurso de que a Argentina está nesta situação por culpa do governo – “a pior decadência da história argentina”, disse na semana passada. Mas também não anda contribuindo para o debate, segundo fontes da própria oposição. 

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