Empresário argentino investigado por morte de brasileira em queda de prédio pode ser condenado à prisão perpétua, diz advogado

Corpo da baiana segue em Buenos Aires, capital argentina. Sepultamento será feito no Brasil, mas ainda não tem data.

Por g1 BA e TV Bahia

03/04/2023 12h46  Atualizado há 17 horas

O empresário Francisco Sáenz Valiente, de 52 anos, principal investigado por ter provocado a morte de Emmily Rodrigues, baiana de 26 anos que caiu de um prédio em Buenos Aires, na Argentina, pode ser condenado à prisão perpétua. A informação é do advogado da família da vítima, Ignacio Trimarco, que conversou com a reportagem com exclusividade.

O sepultamento será em Salvador, mas ainda não há previsão de quando ocorrerá a cerimônia. Nesta segunda-feira (3), Ignacio detalhou que o caso é tratado pela polícia argentina como feminicídio, ou seja, um homicídio qualificado – nos mesmos moldes da lei brasileira.

Francisco pode ter condenação perpétua porque, em 2012, a então presidente Cristina Kirchner aprovou a lei que determina este tipo de punição para os casos de feminicídios.

A lei argentina estabelece o agravante e a pena para o homem “que matar uma mulher ou uma pessoa que se autoperceba com identidade de gênero feminino”, o que também inclui mulheres trans e travestis. Esta é uma pena maior que a de homicídio sem agravos, que geram reclusão de 8 a 25 anos.

Ignacio afirmou que o laudo da autópsia ainda não foi liberado, e a previsão é de que seja disponibilizado na tarde desta segunda. O investigado, Francisco Valiente, já foi ouvido pela polícia em um depoimento que levou mais de quatro horas. Mesmo alegando inocência, ele segue detido.

O Ministério das Relações Exteriores, por meio do Consulado-Geral do Brasil em Buenos Aires, informou em nota que acompanha o caso com as autoridades argentinas e que presta assistência consular aos familiares da nacional brasileira.

Justiça não acredita no investigado

Francisco sustenta a versão de que Emmily estava sob efeito de bebidas alcoólicas e drogas, e se jogou de uma janela após entrar em surto. No entanto, exames feitos no corpo dele apontam a possibilidade de uma briga entre os dois.

“A Justiça não acreditou [na inocência] porque o acusado tinha lesões pelo corpo, punhos, arranhões que, claro, não eram compatíveis com o fato narrado por ele. Por isso ele foi preso e está sendo acusado de homicídio qualificado”, detalhou o advogado Ignacio.

Emmily Rodrigues — Foto: Redes sociais

Também de acordo com o advogado da família da vítima, as investigações seguem em curso para ouvir testemunhas, e imagens de câmeras de segurança serão analisadas. Além disso, o aparelho celular de Emmily também passará por perícia.

“Estamos com as tarefas de investigação anteriores à autópsia, para determinar quais lesões Emmily Rodrigues teve e, por sua vez, todas as evidências eletrônicas, como as filmagens das câmeras do prédio e todas as informações que possam surgir do celular dela”, detalhou Ignacio.

Ignacio Trimarco confirmou ainda a versão das amigas de Emmily de que a família de Francisco tem forte influência jurídica na Argentina. Segundo o advogado, o investigado possui uma empresa de mineração de petróleo.

Amigas relatam tentativa de depreciação da vítima

Uma das amigas de Emmily, a estudante Manoelle Assunção, relatou que Francisco pertence a uma família rica, que presta assessoria jurídica para um jornal famoso em Buenos Aires. Junto com a defesa, eles estariam usando a influência sóciofinanceira para depreciar Emmily.

“Estão tentando difamar ela de todas as formas aqui em Buenos Aires. Como a família dele é de advogados de um jornal bem famoso daqui de Buenos Aires, então eles estão comprando as mídias . Estão tentando difamar ela de todas as formas. Está sendo horrível, aqui está horrível”, disse Manoelle.

Outra amiga de Emmily, a gestora empresarial Joicy Cláudia, reiterou a tentativa da defesa de Francisco em desvalorizar a imagem da vítima.

“A gente não tem muita informação, só sabemos que os jornais lá estão falando mal dela, colocando meninas que nem conheciam a Emmily para falar, para manchar a imagem da menina. Isso está deixando a gente indignada”, destacou.

Joicy Claudia, Emmily Rodrigues e Manoelle Assunção — Foto: Reprodução/Redes Sociais

As amigas de Emmily rebatem a alegação da defesa do empresário, de que a jovem se jogou da janela após entrar em surto por abuso de álcool.

“Ela não faria isso nunca, com certeza absoluta. Ela era muito vaidosa, muito cuidadosa, nunca que ela tiraria a própria vida. Ela amava a vida que levava, ela amava tudo, todas as coisas. É impossível ela ter feito, isso impossível”, ponderou Manoelle.

Joicy sustentou a mesma consideração, e disse ainda que Emmily consumia pouco álcool, que não tinha o hábito de “beber até sair do controle”, como tem sido afirmado pela defesa do empresário.

Manoelle Assunção Joicy Claudia e Emmily Rodrigues — Foto: Reprodução/Redes Sociais

“Todas as amigas que conhecem ela sabe que ela não fazia isso. Essa é nossa indignação, essa imagem que estão tentando passar da menina, de coisas que ela não era. O que está deixando a gente indignada, pedindo justiça pela vida dela. Eu realmente acredito que tenha sido um assassinato. Não foi um acidente, porque Emmily amava a vida dela”.

“Ela jamais tiraria a própria vida. Sempre foi preocupada com a vida, cuidava da saúde, da beleza. Então não faz sentido o que estão tentando passar. A gente só quer pedir justiça e que realmente seja investigado, porque eu acredito que seja sim um caso de feminicídio”.

Vínculo com o investigado

Ambas amigas de Emmily não sabiam se ela tinha algum vínculo com o empresário Francisco Sáenz Valiente. Joicy apontou ainda uma contradição no depoimento da segunda mulher que estava com Emmily momentos antes da queda, identificada como Juliana Magalhães Mourão.

“Estamos tentando entender qual o tipo de vínculo, porque ela nunca chegou a falar sobre esse homem – pelo menos não comigo. A mulher [Juliana], no início falou que não conhecia ela, que a menina [Emmily] era uma desconhecida. Depois ela deu outro depoimento, falando que conhecia”.

“Há controvérsias nos depoimentos, porque uma hora ela diz que não conhece, outra hora que conhece. Por que ela está mentindo? E se o cara segue preso, é porque tem alguma culpa”, analisou Joicy.

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