As mortes confirmadas de três militares americanos em um ataque com drones a uma base militar na fronteira entre a Jordânia e a Síria vão arrastar de vez os Estados Unidos para um envolvimento mais direto na guerra no Oriente Médio.
O presidente Joe Biden disse que as Forças Armadas ainda estavam investigando os detalhes do ataque, que também deixou cerca de 30 feridos, mas já responsabiliza diretamente milícias financiadas e armadas pelo Irã que atuam na Síria e no Iraque.
Esta foi a primeira vez que soldados americanos foram mortos em ataques diretos contra suas bases no Oriente Médio desde o início da guerra entre o Hamas e Israel, em 7 de outubro.
Dois outros marinheiros desapareceram e foram considerados mortos no início do ano, mas eles atuavam em uma missão ofensiva americana na tentativa de bloquear o envio de armas iranianas para os rebeldes Houthis, no Iêmen.
Até aqui, Washington vinha tentando atuar com cautela nos conflitos interligados na região. Afinal, Biden não tinha o menor interesse numa escalada que transformasse o conflito entre Israel e o Hamas em uma guerra regional, especialmente em um ano eleitoral.
Foi por isso, por exemplo, que o presidente americano colocou pressão, sem sucesso, sobre Israel para adotar ações militares mais precisas, com menos mortos entre os civis palestinos.
Os Estados Unidos também adotaram uma tática relativamente moderada nas retaliações aos rebeldes Houthis, do Iêmen, que continuam atacando navios cargueiros no Mar Vermelho, alegando solidariedade aos palestinos.
Como resposta, os americanos optaram por fazer uma série de ataques pontuais contra os rebeldes, na tentativa de destruir com precisão os pontos de lançamento de mísseis e drones. Além disso, adotaram sanções econômicas, mas evitaram um conflito militar maior e generalizado contra o grupo.
E mesmo as reações contra centenas de ataques anteriores às suas bases na Síria e no Iraque tiveram como resposta bombardeios muito limitados às posições das milícias aliadas do Irã.
Cálculo político
Agora, com a morte de seus militares, o cálculo político de Biden tende a ser outro.
Ele já indicou que vai retaliar as milícias no próprio comunicado que soltou, confirmando as mortes: “não tenham dúvidas: vamos punir todos os responsáveis. No momento e da maneira que escolhermos”.
Biden sabe que, desta vez, precisa atacar com uma força muito maior.
No início da campanha eleitoral, ele já está sendo acusado por seu provável adversário nas eleições de novembro, o ex-presidente Donald Trump, de “ser fraco” contra o Irã e ter uma política relaxada na região, o que teria estimulado o Hamas a realizar as atrocidades de outubro do ano passado.
Imediatamente depois da confirmação das mortes, vários políticos conservadores passaram a cobrar ações enérgicas do presidente.
O senador Roger Wicker, o principal republicano na Comissão de Serviços Armados do Senado, exigiu que os militares do país ataquem “diretamente” alvos iranianos, seus líderes e aliados.
O senador Tom Cotton, do Arkansas, disse que “a única resposta a estes ataques deve ser uma retaliação militar devastadora contra as forças terroristas do Irã, tanto no Irã como em todo o Oriente Médio”.
O presidente da Comissão Serviços Armados da Câmara, o deputado republicano Mike Rogers, também apelou a Biden para responsabilizar o Irã e os seus aliados de forma dura.
E vários outros começaram a atacar diretamente o presidente. O senador republicano Lindsey Graham, por exemplo, disse que a “política de dissuasão do seu governo falhou miseravelmente” e apelou para ataques contra alvos dentro do território do Irã.
O próprio Trump não vai perder a oportunidade de fustigar duramente o adversário.
Na defensiva e acusado de fraco, Biden vai quase inevitavelmente ter que ordenar bombardeios mais intensos e generalizados contra as milícias e vários alvos ligados ao Irã.
E era justamente isso que os aliados de Teerã, que incluem o Hamas, o Hezbollah, os Houthis e as várias milícias querem: dragar de vez os Estados Unidos para uma participação direta na guerra, na tentativa de demonstrar força, ganhar adeptos e desestabilizar ainda mais a região.
O conflito no Oriente Médio já é regional e vai se expandir.