Como é o novo tipo sanguíneo ultrarraro detectado em 3 pessoas

Pesquisadores identificam uma mutação única na Tailândia que desafia a classificação tradicional do sangue. Conheça a variação “B(A)”

 Foto: Pexels/Karolina Grabowska

Uma análise de mais de meio milhão de amostras de sangue revelou um tipo sanguíneo até então desconhecido. Os pesquisadores da Universidade Mahidol, na Tailândia, identificaram uma nova variação do fenótipo B(A), considerada tão rara que apareceu em apenas três pessoas entre 544 mil amostras analisadas ao longo de oito anos. A descoberta foi descrita em um estudo publicado na revista Transfusion and Apheresis Science.

Uma anomalia sutil

A descoberta desse tipo sanguíneo raríssimo não era o objetivo inicial da pesquisa. A equipe examinava mais de meio milhão de amostras para entender como e por que ocorrem incompatibilidades entre os testes diretos e reversos do sistema ABO. Essas discrepâncias surgem quando a tipagem das hemácias e a tipagem do soro apresentam resultados conflitantes, algo que pode colocar pacientes em risco durante uma transfusão. Esse tipo de incompatibilidade, ainda que rara, é considerado um dos maiores desafios das doações de sangue.

A nova pesquisa, conduzida por especialistas do Hospital Siriraj, avaliou 285.450 amostras de doadores e 258.780 de pacientes. A equipe liderada pela hematologista Janejira Kittivorapart notou que, dos mais de 544 mil exames, apenas 396 amostras de pacientes mostraram esse tipo de discrepância, o que representa 0,15% do total. Após a exclusão de casos que poderiam ser explicados por transplantes de células-tronco, restaram 198 amostras de pacientes com resultados realmente divergentes.

Entre elas, apenas uma apresentou o fenótipo B(A). Além que, entre os doadores, a taxa de discrepância foi ainda menor, de 0,03%, e apenas duas pessoas apresentaram a mesma variação sanguínea.

O que é o tipo B(A)?

O fenótipo B(A) é uma peculiaridade extremamente rara dentro do sistema ABO. Embora o sangue seja classificado como do tipo B, mutações específicas fazem com que a enzima responsável por adicionar antígenos às hemácias apresente uma atividade semelhante à do tipo A, ainda que em níveis bem baixos.

Nos três casos identificados, os pesquisadores encontraram quatro mutações inéditas no gene ABO, que nunca haviam sido relatadas. Essa combinação altera o funcionamento da enzima e confunde os testes tradicionais, que podem não detectar a presença mínima do antígeno A.

Foto: FernandesJCR /Wikimedia Commons

Para os médicos, isso é um alerta: a tipagem sanguínea padrão pode falhar em algumas situações raríssimas, e exames genéticos podem ser essenciais quando os resultados de laboratório não são conclusivos.

O que a descoberta revela

Os autores destacam que a raridade desse fenótipo não reduz sua importância. Pelo contrário: mostra que o sistema sanguíneo humano é mais complexo do que as oito categorias mais conhecidas (A, B, AB e O, todas positivas ou negativas). Entender essas sutilezas pode evitar incompatibilidades em transfusões e ajudar em casos clínicos desafiadores.

Além disso, a descoberta contribui para um cenário mais amplo. Para além do grupo “ABO” e “Rh”, (que diz que um sangue é O+, por exemplo) existem pelo menos outros 45 grupos sanguíneos, que separam as tipagens de sangue a partir de suas diferentes características.

Nos últimos anos, outras variações sanguíneas inéditas foram identificadas. Como contamos aqui na GALILEU, em 2024, cientistas resolveram um mistério de 50 anos ao descobrir que uma amostra coletada em 1972 continha um novo sistema de grupos sanguíneos. Já em 2025, pesquisadores franceses identificaram o “Gwada-negativo”, considerado o grupo sanguíneo mais raro já registrado encontrado em apenas uma mulher, da ilha de Guadalupe. Segundo os especialistas, ela é a única pessoa no mundo compatível consigo mesma.

Esses novos achados reforçam a ideia de que ainda há muito a ser explorado no campo da hematologia. Como concluem os autores, estudos futuros serão necessários para entender como as mutações recém-identificadas afetam a estrutura e a função da enzima envolvida no sistema ABO.

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