Entenda o que é vórtice polar e se fenômeno pode impactar clima no Brasil

Cavan Images/GettyImages

Nos próximos 10 dias, mudanças na estratosfera irão alterar os padrões climáticos e provocar frio e neve em diversas regiões do hemisfério norte, como Estados Unidos, Europa e Ásia. Isso acontece devido a uma perturbação no vórtice polar norte.

O vórtice polar é uma área de baixa pressão e ar frio que circunda os dois polos da Terra (norte e sul). O termo “vórtice” se refere ao fluxo de ar no sentido anti-horário que ajuda a manter o ar mais frio próximo aos polos.

De acordo com Francisco Aquino, climatologista e professor do Centro Polar e Climático da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), o vórtice polar se organiza de 15 a 16 km de altura da superfície e vai até a estratosfera (a cerca de 30 km de altura).

“É justamente nessa altura que está ocorrendo um aquecimento súbito anômalo e isso provoca uma ruptura na organização do vórtice. E, claro, quando se rompe, ele emana ondas na atmosfera e perturba a circulação do hemisfério”, explica.

Na prática, isso significa que as correntes de ventos rápidas que circulam os dois hemisférios se reorganizam e permitem que um ar frio do Ártico avance pelo Canadá e pelo centro dos Estados Unidos com mais vigor, provocando diminuição da temperatura.

“Em resumo, a ruptura do vórtice polar impacta uma mudança do padrão do tempo ao longo das semanas, com semanas mais frias ou mais quentes em algumas regiões do hemisfério Norte”, completa o climatologista.

Por que isso é preocupante?

Apesar de a ruptura do vórtice polar ser algo normal, trata-se de um fenômeno raro. De acordo com Aquino, ele costuma ocorrer uma vez a cada 20 ou 30 anos. Porém, na última década, tem acontecido com uma frequência maior.

“O que as pesquisas estão indicando, inclusive as que fazemos aqui no hemisfério sul, é que a mudança do clima, com um planeta mais quente e evaporativo, com mais tempestades, está forçando a entrada de vapor d’água na atmosfera. Há mais umidade que vai se traduzir em calor”, explica. “Esse vapor d’água ajuda a aquecer a estratosfera e pode ter contribuído ao que estamos vendo agora: a ruptura de um aquecimento súbito da estratosfera polar”.

É incomum que eventos de aquecimento estratosférico desta magnitude aconteçam em novembro, segundo o meteorologista Judah Cohen, pesquisador do MIT.

O fenômeno pode afetar o Brasil?

Segundo Aquino, a princípio, a ruptura do vórtice polar norte não deve trazer impactos para o Brasil. No entanto, o professor explica que, nesta época do ano, considerando que tem um La Niña atuando de maneira mais fraca no planeta, o fenômeno pode deixar a circulação tropical um pouco mais fortalecida.

“Essa ainda é uma questão que estamos estudando, mas o sinal do La Niña seria mais marcante durante o auge desse rompimento do vórtice polar. Isso significa que essa região tropical (que influencia o Brasil) teria características mais fortes nessa época do ano. Poderia haver a diminuição de chuva em algumas áreas, aumento em outras, mas isso ainda é um tema em busca de entendimento”, ressalta.

O La Niña é um padrão climático natural marcado por temperaturas da água mais frias do que a média no Pacífico equatorial, o que também leva a mudanças nos padrões da alta atmosfera. Juntos, eles influenciam o clima globalmente.

O fenômeno é o oposto do El Niño – marcado por temperaturas oceânicas acima da média. No Brasil, o efeito do La Niña é caracterizado por chuvas acima da média no Norte e Nordeste do Brasil, maior risco de incêndios no Pantanal e na Amazônia e tempo mais seco no Sul do país.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

15 − 9 =