ENEM 2025: O EXAME QUE SE DISTANCIOU DA REALIDADE DA ESCOLA PÚBLICA

Um teste que mediu muito menos o conhecimento e muito mais a distância social entre os estudantes.

O Exame Nacional do Ensino Médio sempre carregou o discurso oficial de democratização do acesso ao ensino superior. Porém, em 2025, esse ideal parece ter ficado no passado. O que se viu foi uma prova marcada pela complexidade, pelo excesso de conteúdos não abordados na maioria das escolas públicas e por escolhas temáticas que mais distanciaram do que aproximaram o estudante brasileiro do sonho universitário.

O Enem deste ano se revelou, para muitos, um exame mais excludente do que inclusivo. O tom ideológico presente em algumas questões — associado a uma profusão de temas altamente específicos, de difícil assimilação e pouco presentes no currículo básico — criou um cenário de desigualdade ainda maior. Enquanto parte dos alunos de escolas privadas encontraram um terreno familiar, muitos estudantes da rede pública encararam um universo praticamente desconhecido. Para quem não teve acesso a recursos, aulas de reforço ou metodologias avançadas, a prova soou como uma sentença anunciada.

A promessa de avaliar competências e habilidades foi substituída por uma espécie de triagem social. Questões densas, de alta especialização, ultrapassando o que a Base Nacional Comum Curricular prevê, reforçaram a sensação de um Enem desalinhado da realidade de milhões de jovens. E nesse cenário, o caminho para o ensino superior volta a se estreitar — não por falta de capacidade, mas por falta de equidade.

As cotas seguem sendo a porta de entrada para muitos estudantes da rede pública, mas o sentimento que 2025 deixa é de que o mérito passou a depender de fatores externos: estrutura, acesso, preparo que a maioria não tem. Já para quem disputa vagas sem políticas afirmativas, a sensação é de que o jogo ficou quase impossível. A prova se tornou um obstáculo que não mede sonhos, esforço ou potencial, mas sim a distância social entre quem pode e quem não pode se preparar adequadamente.

Especialistas em políticas educacionais ouvidos pelo site De Cara com as Feras afirmam que o Enem 2025 reforça um modelo que aprofunda disparidades. Em vez de reduzir desigualdades históricas, o exame deste ano acabou reproduzindo uma lógica meritocrática injusta, onde o desempenho depende mais das condições socioeconômicas do estudante do que de suas reais habilidades.

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