
O mundo parou nesta terça-feira para assistir ao discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York. Como manda a tradição, coube ao Brasil a primeira fala — e Lula fez valer o peso desse espaço. Em um tom firme, sóbrio e direto, ele reforçou que a democracia deve falar mais alto em tempos de crises e ataques autoritários.
O presidente brasileiro chamou a atenção ao destacar o papel dos líderes mundiais diante de regimes autoritários e das ameaças à paz global. Ao contrário das expectativas de que se curvaria à pressão econômica, Lula manteve a postura de independência, defendendo a soberania nacional e um multilateralismo mais justo. Sua fala repercutiu como um contraponto ao cenário de instabilidade internacional.
O que achou Trump?

Logo após Lula, foi a vez de Donald Trump discursar. Fiel ao seu estilo polêmico e agressivo, o presidente norte-americano não poupou críticas à Europa, dizendo que o continente estaria “se destruindo”. No entanto, surpreendeu ao dirigir palavras inusitadamente amistosas a Lula: disse que os dois tiveram “39 segundos de ótima química” e que pretendia se encontrar com o brasileiro já na próxima semana para tratar das tarifas impostas ao Brasil.
Esse gesto, ainda que carregado do tom peculiar de Trump, gerou um contraste. O mundo assistiu à cena com desconfiança, imaginando se o Brasil cederia à pressão. Mas o que se viu foi diferente: mesmo diante de tarifas pesadas, Lula mostrou que não se ajoelharia. Sua fala foi recebida como um sinal de firmeza e de que o Brasil quer dialogar de igual para igual, reafirmando a democracia e a dignidade nacional em um palco global.
E como fica a direita?

O discurso de Lula na ONU não foi apenas um marco diplomático, mas também um momento simbólico para a política interna brasileira. Enquanto o presidente mostrava firmeza e sobriedade diante do mundo, a direita se via ainda mais fragmentada, afundada em contradições e disputas internas.
Nos últimos meses de 2025, a direita brasileira não conseguiu apresentar uma liderança coesa. Bolsonaro continua rejeitando alternativas, como o nome de Tarcísio, ao mesmo tempo em que vê antigos aliados, como Caiado, lançarem críticas diretas ao seu comando. Do outro lado, Tarcísio resiste em aceitar a tutela da família Bolsonaro, expondo fissuras que fragilizam o bloco conservador. Esse cenário de ataques mútuos só reforça a percepção de uma direita em declínio e sem rumo.
Nesse contexto, a fala de Trump na ONU gerou ainda mais ruído. O presidente norte-americano, outrora apresentado pela direita como aliado incondicional contra Lula, surpreendeu ao elogiar a “química” com o presidente brasileiro. Mesmo que em tom irônico, a declaração abalou a narrativa de setores bolsonaristas que pintavam os EUA como trincheira contra o governo petista. Ficou claro que, na política internacional, interesses falam mais alto do que afinidades ideológicas.
Para o Brasil, a sinalização é clara: os Estados Unidos seguem de olho em ativos estratégicos, como as terras raras — das quais o país detém 25% das reservas mundiais. A pressão via tarifas pode ser apenas parte de um jogo maior, em que o objetivo central é o acesso a recursos minerais fundamentais para as tecnologias do futuro. É nesse tabuleiro que Lula mostra sua experiência de três mandatos, equilibrando firmeza e diplomacia.
Assim, enquanto a direita se desgasta em brigas internas e contradições, a esquerda se beneficia desse espaço, ganhando musculatura política para 2026. O episódio na ONU não foi apenas um triunfo diplomático, mas também uma amostra de que Lula e seu grupo souberam transformar um momento de pressão em fortalecimento político — dentro e fora do Brasil.