
Três dias após ser condenado a uma pena de 27 anos por tentativa de golpe e outros quatro crimes, o ex-presidente Jair Bolsonaro deixou a prisão domiciliar na manhã deste domingo para realizar exames e procedimentos médicos em um hospital de Brasília. Ele chegou à unidade de saúde por volta das 8h, sob forte escolta policial, e só deixou o local às 13h50, quando foi levado de volta para sua casa, em um condomínio no Lago Sul, na capital federal. O boletim médico divulgado logo após a alta apontou quadro de “anemia” e a tomografia mostrou imagem residual de uma pneumonia recente.
Foi a primeira vez que o ex-mandatário deixou a sua residência após a condenação pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF). Como está em prisão domiciliar por suspeita de obstrução de Justiça, desde o início de agosto, Bolsonaro precisou de autorização do ministro Alexandre de Moraes para poder fazer o deslocamento.
A ida ao hospital contou com um forte esquema de segurança. As medidas incluíram escolta policial, varredura na porta do hospital e até revista em mochilas de apoiadores do ex-presidente que o aguardavam em frente à unidade de saúde.
Bolsonaro chegou ao hospital pontualmente às 8h, escoltado por oito viaturas. Um grupo de apoiadores, de cerca de 30 pessoas, estava no local à sua espera. Seu comboio fez um trajeto mais longo para chegar à unidade de saúde, que não passou perto de onde ficam localizadas a maioria das embaixadas em Brasília.
Após receber alta, Bolsonaro saiu do hospital pela porta da frente acompanhado dos filhos Jair Renan e Carlos. Antes de entrar no carro que o levaria de volta para casa, ficou em pé por cerca de cinco minutos enquanto apoiadores entoavam gritos de apoio, como “volta Bolsonaro” e “anistia já”. Eles também cantaram o Hino nacional. Com um semblante sério, cumprimentou com a cabeça alguns policiais que faziam parte da escolta, mas não falou nada aos apoiadores.
O vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente, acompanhou o pai e criticou o forte esquema de segurança. “Homens fardados e armados vigiam como se um senhor de 70 anos pudesse fugir por uma janela, assim como fazem em sua prisão domiciliar”, escreveu ele na rede social X.
Quadro de saúde
Boletim médico divulgado após a alta do ex-presidente indicou a necessidade de tratamento para “hipertensão arterial, do refluxo gastro-esofágico e medidas preventivas de broncoaspiração”.
“Os exames laboratoriais evidenciaram quadro de anemia por deficiência de ferro e a tomografia de tórax mostrou imagem residual de pneumonia recente por broncoaspiração”, afirma o boletim.
Ainda segundo o hospital, Bolsonaro retirou oito lesões na pele durante sua estadia na unidade de saúde na manhã deste domingo. “O procedimento cirúrgico foi realizado sob anestesia local e sedação, e transcorreu sem intercorrências. Foi realizada a exerése marginal de oito lesões de pele, localizadas no tronco e no membro superior direito. Também recebeu reposição de ferro por via endovenosa deve seguir nos tratamentos com o tratamento da hipertensão arterial, do refluxo gastro-esofágico e medidas preventivas de broncoaspiração”, diz o texto assinado pelos médicos Cláudio Birolini, Leandro Echenique, Guilherme Meyer e Allisson Barcelos Borges.
— Está com a saúde bastante fragilizada e nós seguiremos acompanhando as condições dele — disse Birolini, chefe da equipe cirúrgica do hospital.
Conforme relatório médico, o ex-presidente foi ao hospital para remover duas lesões na pele, uma benigna (pinta) no tronco e outra ainda desconhecida que será levada à biópsia.
Agora, a defesa, então, precisará entregar um atestado médico ao STF num prazo de até 48 horas.
Os procedimentos foram considerados simples se comparados às intervenções médicas realizadas pelo ex-presidente nos últimos meses. Em abril, ele foi submetido a uma cirurgia de grande porte de reconstrução da parede abdominal, que durou 12 horas. Depois, ficou dias 21 internado.
No mês passado, quando já estava em prisão domiciliar, Bolsonaro esteve no hospital para fazer uma série de exames. Após quase cinco horas, um boletim médico informou que havia persistência de esofagite e gastrite, além de “imagem residual” de infecções pulmonares recentes.
Bolsonaro vem sofrendo com um quadro de soluços frequentes, que nos momentos de crise o impedem de falar e o fazem vomitar. A condição é uma das sequelas do ataque a faca sofrido por ele durante a campanha eleitoral de 2018.
O estado de saúde delicado de Bolsonaro deve basear um pedido da defesa para que ele cumpra a pena em regime domiciliar. Essa manifestação deve ser feita após a publicação do acordão do julgamento encerrado nesta sexta-feira.
Relembre as cirurgias de Bolsonaro em decorrência da facada
6 de setembro de 2018
Bolsonaro precisa passar por uma cirurgia de emergência no Hospital de Juiz de Fora, em Minas Gerais, após ser esfaqueado durante a campanha eleitoral.
12 de setembro de 2019
Dias depois, após ser transferido para São Paulo, precisou passar por uma cirurgia de desobstrução do intestino.
28 de janeiro de 2019
Cirurgia para retirada da bolsa de colostomia, que precisou ser colocada durante a recuperação da facada.
8 de setembro de 2019
Uma das cirurgias causou uma hérnia na cicatriz. Por isso, o presidente precisou fazer novo procedimento cirúrgico para correção.
12 de setembro de 2023
Presidente passou por nova cirurgia em decorrência da facada, quando foi preciso corrigir uma hérnia de hiato, ou seja, uma cirurgia na porção superior do estômago para resolver um quadro de refluxo.
Cirurgia do dia 13 de abril de 2025: 12 horas de operação
Após 12h de cirurgia, o último boletim médico do ex-presidente indicava que ele estava sem dor e com quadro de saúde “estável”. “O ex-Presidente da República Jair Bolsonaro foi submetido a cirurgia de extensa lise de aderências e reconstrução da parede abdominal. O procedimento de grande porte teve duração de 12 horas, ocorreu sem intercorrências e sem necessidade de transfusão de sangue”, diz trecho do comunicado dos médicos que fizeram a cirurgia no DF Star.
Os profissionais acrescentaram que a “obstrução intestinal era resultante de uma dobra do intestino delgado que dificultava o trânsito intestinal e que foi desfeita durante o procedimento de liberação das aderências. Encontra-se no momento na Unidade de Terapia Intensiva, estável clinicamente, sem dor, recebendo medidas de suporte clínico, nutricional e prevenção de infecções”.