
A morte de uma jovem de 22 anos em Rio do Sul (SC), vítima de um choque anafilático durante uma tomografia com contraste, chamou a atenção para os riscos — raros, mas possíveis — do uso da substância em exames de imagem. O caso ocorreu nesta sexta-feira
O que é o contraste usado nos exames
O contraste é uma substância química à base de iodo, bário ou gadolínio, administrada antes ou durante exames para melhorar a visualização de órgãos e tecidos. Ele funciona aumentando a diferença de densidade ou de sinal entre estruturas do corpo, o que facilita a detecção de alterações.
Na prática, isso significa que tumores, inflamações, vasos sanguíneos entupidos ou pequenas lesões ficam mais visíveis para os equipamentos e para o médico que analisa as imagens.
Segundo Vanessa Prado, cirurgiã do aparelho digestivo do Hospital Nove de Julho, cada tipo de exame exige um contraste diferente.
“O iodo é o mais importante para tomografias, enquanto o bário é usado em exames do aparelho digestivo. Já a ressonância pode recorrer ao gadolínio ou até aos próprios fluidos do corpo como forma de contraste”, explica.
Por que pode causar alergia
Embora seguros na maioria dos casos, os contrastes podem provocar reações adversas em alguns pacientes. Segundo o coordenador do Núcleo de Alergia do Hospital Sírio-Libanês, Luis Felipe Ensina, isso acontece porque a substância pode ativar células inflamatórias no organismo, liberando histamina e outros mediadores químicos.
“O paciente pode apresentar desde sintomas leves, como náusea, calor e urticária, até quadros graves, como broncoespasmo, edema de glote e choque anafilático”, explica Augusto Villela Polonia, radiologista e membro do Colégio Brasileiro de Radiologia.
De acordo com estudos citados pelo especialista, reações leves ao contraste iodado moderno ocorrem em até 3% dos pacientes. Já os casos graves são raríssimos, variando de 0,01% a 0,04%. No caso do gadolínio, usado em ressonâncias, a taxa de reações graves é ainda menor, em torno de 0,001%.

Quem está mais vulnerável
Pacientes com histórico de alergias diversas ou de asma estão entre os grupos mais vulneráveis. Mas há um ponto de atenção que nem todos conhecem: a relação com frutos do mar.
“Uma das primeiras perguntas é se o paciente já usou contraste ou se tem alergia a camarão ou peixe. Isso porque o iodo presente nesses alimentos pode estar associado às reações adversas. Se houver suspeita, buscamos alternativas de exame”, alerta Vanessa.
O radiologista acrescenta que pacientes renais e cardíacos exigem cuidados redobrados. “Nos rins, há risco de sobrecarga ou lesão associada ao contraste iodado. Já nos cardíacos, qualquer reação grave pode gerar instabilidade hemodinâmica mais acentuada”, afirma.
Sintomas: do leve ao grave
Os sintomas de uma reação adversa ao contraste podem surgir imediatamente ou em até algumas horas após o exame. Segundo Ensina, eles são divididos em três grupos:
- Leves: náusea, vômito, calor, coceira, urticária.
- Moderados: taquicardia, broncoespasmo, edema facial, queda leve de pressão.
- Graves: choque anafilático, edema de glote, dificuldade respiratória severa, risco de morte.
Por isso, o protocolo prevê que clínicas e hospitais tenham equipes treinadas e medicações disponíveis para agir de forma imediata.
Protocolos de segurança
Antes do exame, os profissionais devem realizar uma entrevista detalhada com o paciente. O histórico de alergias, uso de medicamentos (como metformina) e presença de doenças renais ou cardíacas precisam ser informados.
Segundo a cirurgiã, esse cuidado não deve ser responsabilidade apenas do paciente. “Não é o paciente que tem que lembrar de avisar. O laboratório e a equipe de saúde precisam investigar ativamente e seguir protocolos de segurança”, diz.
Durante o exame, a equipe mantém prontos adrenalina, corticoides, anti-histamínicos e equipamentos de suporte ventilatório. “Existe sempre um time preparado para agir rapidamente em casos de reação. Essa resposta imediata pode ser decisiva”, reforça Polonia.
O que o paciente deve saber
Após o exame, a recomendação geral é manter boa hidratação para acelerar a eliminação do contraste pelos rins. Em pacientes com doenças renais, porém, esse cuidado precisa ser individualizado e pode incluir outras medidas, sempre sob orientação médica.
Em casos de histórico de alergia comprovada ao contraste, existem alternativas. Algumas lesões podem ser avaliadas por ressonância magnética sem contraste, tomografia simples ou até ultrassonografia.
Em situações em que o contraste é indispensável, médicos podem prescrever uma pré-medicação com corticoides e anti-histamínicos para reduzir o risco de reação.