Adolescência: o que os pais podem fazer para proteger os filhos online, segundo especialistas

Foto: André Mello/ Editoria de Arte

Nos últimos anos, boa parte da sociedade entendeu os riscos das telas para crianças e adolescentes. Mas o fenômeno é complexo e muitas famílias ainda não sabem exatamente como lidar com a questão.

Felizmente, há muito o que pode ser feito por pais e mães no dia a dia, desde pequenos ajustes a propostas mais definitivas. Leia a seguir as medidas que os especialistas indicam.

Uma vida rica

Começando pelo básico: crianças e adolescentes que têm uma vida real rica são menos vulneráveis ao vício e riscos do mundo digital. Isso significa garantir que os jovens tenham coisas interessantes e divertidas para fazer, que envolvam socialização, natureza, esporte e cultura. E, não, não é normal ele ficar dez ou 12 horas diante de uma tela.

— A primeira coisa é lembrar a importância de oferecer um mundo real bom. Então, para criança é a pracinha, o brincar real, com os amiguinhos, na natureza. Para o adolescente, a brincadeira também está valendo. E a interação com outros. O esporte é uma grande solução, mas há outras atividades, de voluntariado, de grupos, de igreja, de escoteiro — afirma Becker.

Segundo ele, mesmo o cinema e a literatura têm um papel importante na formação de valores morais por meio da “história com personagens, com conflitos, o bem e o mal, heróis e vilões, certo e errado”, e isso não deve ser abandonado.

A hora certa

Os especialistas, incluindo o famoso psicólogo e escritor Jonathan Haidt, autor de “A geração ansiosa”, são unânimes: adiar a entrega do celular e, principalmente o acesso às redes, ainda é o caminho mais fácil.

O Movimento Desconecta criou um compromisso, assinado por mais de 10 mil famílias, para que o celular seja dado a partir dos 14 anos e os adolescentes só utilizem as redes sociais a partir dos 16 anos.

Se o problema é que todo mundo tem, se combinássemos com os amigos da sala de segurar juntos, aí eles não seriam excluídos, os únicos que não têm. Foi assim que surgiu o movimento — explica Mariana Uchoa Cinelli, cofundadora do Desconecta.

A ciência explica: o cérebro do adolescente ainda não está maduro, por isso é melhor esperar.

—Nessa fase, o comportamento dele fica direcionado por ser aceito, não ser rejeitado, o que pode ser complicado quando misturado à essa impulsividade. Há dificuldade de avaliar consequências e minimização dos efeitos, muitas vezes com uma dificuldade de empatia, de perceber o que aquilo provoca no outro — diz o psiquiatra Guilherme Polanczyk.

O risco do quarto

— O lugar mais perigoso para um adolescente hoje é dentro do quarto, com computador e celular. É como se tivesse uma porta da rua aberta para dentro, deixando entrar qualquer estranho para falar com seu filho sem você saber — alerta a juíza Vanessa Cavalieri responsável por julgar casos envolvendo menores infratores no Rio.

Então, seguindo as orientações dos especialistas, chega de adolescente pendurado nas telas atrás de uma porta fechada.

— Regra básica: não deixar dormir com o celular no quarto, isso é fundamental. À noite, o aparelho fica com os pais. Idealmente, o computador também não deve ficar no quarto, tem que ficar numa área comum, para evitar que ele derive para Discord e pornografias da vida — orienta Becker.

Monitoramento

Se a criança ou adolescente já têm celular, não tem jeito, é preciso monitorar: adotar aplicativos de controle parental (Mariana, do Desconecta, sugere o Qustodio), ler os grupos de Whatsapp, limitar as contas, e até, muitas vezes, realmente caçar apps, porque os adolescentes podem driblar as regras para acessar redes sociais.

— Não tem que pensar em privacidade, privacidade existe, sim, mas a internet não é um lugar privado. Tem que ter privacidade nas relações com os amigos, com as namoradas e namorados e tal, mas a internet é por definição um lugar público, onde todo mundo está vendo tudo o que acontece, inclusive a Interpol — afirma Daniel Becker.

O educador Fabio Campos recomenda que isso seja acertado entre pais e filhos no momento em que eles passam a ter o aparelho. Tudo muito às claras.

— Você quer um celular? A regra é que eu vou olhar. Senha? Vou ter que ter. Vai querer mandar uma foto para alguém? Vou ter que ver o que mandou. Se não tiver essas regras estabelecidas, não funciona — aconselha.

Conversar

Não adianta achar que é função da escola, da mídia, ou do governo. As famílias precisam assumir a responsabilidade de conversar com os adolescentes, mesmo antes de entregar o primeiro celular para eles.

— Não achamos que com 14, 16 anos você vai entregar o celular e seu filho vai estar pronto para acessar tudo. Tem que ir conversando antes, educando. O que fazer se você é exposto a um conteúdo impróprio, a um conteúdo de violência? Você tem que falar com um adulto sobre qualquer coisa que te deixe desconfortável. Não mande fotos sem roupa e se mandar, vem falar com a gente. Se alguém está te chantageando com essas fotos ou com alguma informação, fale com um adulto, ninguém vai te culpar. Se você vir alguma coisa como cyberbullying, não participe. Então, tem algumas conversas que dá para ir puxando para abrir esse diálogo, ir preparando para esse momento — explica Mariana.

Guilherme Polanczyk também enfatiza a importância das famílias reforçarem seus laços e criarem pontes desde cedo para enfrentar essa fase da vida:

— Uma relação de confiança, de intimidade com uma criança ou um adolescente não se constrói quando o problema surge. O que acontece em uma fase de desenvolvimento vai sendo carregado para as fases seguintes. Então, pensar que quando chegar na adolescência será a hora de conversar e estar mais atento em relação ao filho, acho que o bonde já terá passado. Isso tem que ser construído desde sempre: uma relação forte, uma estrutura de apoio demonstrando que os pais são figuras confiáveis.

Assim, como diz Fabio Campos, é botar na roda. E não adianta ter medo de falar sobre as coisas chatas. Por que tiramos o celular? Por que você não pode ter rede social? O que acontece quando fica jogando bets? Por que na sala de aula não pode mais usar dispositivo?

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