
Você já se imaginou em um mundo onde robôs formam times de futebol, ajudam socorristas em operações de resgate, deixam sua casa arrumada? Para especialistas em tecnologia, em um futuro não muito distante essas cenas serão comuns. E uma demonstração dessa realidade pode ser conferida no Campeonato Mundial de Robótica e Inteligência Artificial (RoboCup), conhecido como “Copa do Mundo de Robôs”, em Salvador.
Os brasileiros trouxeram uma nova modalidade de disputa para o evento, entre robôs voadores, e a venceram. A competição foi realizada como um teste e, se for bem avaliada, se tornará permanente.
A programação segue até segunda-feira (21), com participação do público até domingo (20), e reúne um número recorde de brasileiros. Pela segunda vez o evento é realizado no Brasil.
A proposta é que os drones operem de forma autônoma, sem controle humano, e simulem missões em ambientes perigosos. Entre as dinâmicas estão entrega de kits de primeiros socorros, inspeções e busca por vítimas em locais de difícil acesso.
Parte da prova, segundo os organizadores, é feita sem o uso da fala, pois entendem que, em situações de desastres, esse recurso pode não funcionar devido a barulhos e interferências externas. Por isso, o robô também deve ser capaz de executar alterações no percurso através da interpretação de gestos feitos pela equipe de resgate ou até mesmo das vítimas.
“Quando se está em uma situação de resgate, você não quer que o humano entre em um ambiente de desastre, em um ambiente inóspito. Então, cada um dos desafios aqui representa algo que o robô precisa fazer em uma emergência”, explica Rafael Lang, vice-presidente da RoboCup Brasil.
Ao todo, quatro equipes competem na categoria de drones e três são brasileiras. Os adversários do Brasil nesta modalidade são australianos.
De acordo com a organização, 200 brasileiros de diversos estados compõem 45 equipes – esta é a maior quantidade de ligas formadas por um país em 2025. O número atual é 20% a mais do que o registrado na última edição, realizada em Eindhoven, na Holanda, em 2024.
“Isso mostra que o interesse dos brasileiros por tecnologias está aumentando e que o Brasil está se consolidando cada vez mais como uma potência na área de robótica e Inteligência Artificial no mundo”, destaca Marcos Simões, presidente da Robocup Brasil.
O Brasil compete em todas as 15 modalidades, com destaque para os robôs que “jogam” futebol. O país já venceu edições anteriores nestas modalidades. Desta vez, assim como na Copa do Mundo de Futebol em 2014, os alemães são os principais adversários dos brasileiros em busca de novos títulos.
No campo, o objetivo não é somente acertar o gol. É usar desafios práticos para avançar em outras áreas, com tecnologias que têm mudado o mundo.
“Os robôs que varrem, aspiram nossas casas, vão desempenhar cada vez mais funções. Em um futuro muito breve, esses robôs jogadores poderão competir contra os melhores atletas humanos do mundo. E talvez sejam até capazes de ganhar”, aposta o competidor Thomas O’Brien, que estima que, até 2050, robôs e jogadores humanos vão dividir os mesmos gramados.

Entre os times brasileiros, a RoboCin, da Universidade Federal de Pernambuco, chama atenção por esbanjar dois títulos mundiais no currículo. Os prêmios foram conquistados na série B da modalidade de futebol não-humanoide. Em 2025, eles competem pela primeira vez na série A.
“Nosso objetivo é evoluir cada vez mais. Queremos bater de frente com os alemães e chineses, países que são referência nessa competição”, detalha Victor Sabino, integrante do grupo.
A equipe Warthog Robotics, do campus da Universidade de São Paulo (USP) em São Carlos, tenta conquistar o primeiro título mundial com robôs humanoides. Disputando a série B, na qual estão invictos, eles venceram os três confrontos que participaram, até o momento. Além das vitórias, os números impressionam: foram 36 gols marcados e nenhum sofrido.
“A nossa equipe já existe há muito tempo e essa categoria é nosso carro-chefe, então estamos esperando um bom resultado final”, completa Rhayna Christiani Casado integrante da equipe.

Após o Brasil, no ranking de países com mais equipes estão Alemanha (26), China (17), Japão e México (15 cada). Entre os vizinhos sul-americanos, marcam presença Uruguai, Chile e Argentina. Juntos, todos os países reúnem mais de 800 robôs, entre humanoides e não-humanoides.
“Esse campeonato tem o que é mais de ponta na área de inteligência artificial e robótica do mundo. São diversas áreas que a robótica envolve. Todas as engenharias, basicamente, elétrica, mecânica, toda a área da computação, física, matemática, está presente”, resume Reinaldo Bianchi, vice-presidente da RoboCup Brasil.