Novas tarifas dos EUA sobre aço e alumínio atingem em cheio o Brasil, mas o primeiro a pagar a conta será o consumidor americano

 Foto: Oliver Contreras / AFP

A nova alíquota sobre aço e alumínio reforça a análise de que o presidente americano Donald Trump quer uma guerra comercial, o que é muito perigoso para o mundo todo, inclusive para os Estados Unidos. Nunca estive no grupo que enxerga benefício nessa política americana, achando que a disputa comercial com China, México e Canadá poderia ser positiva para o Brasil. O anúncio da tarifas de 25% sobre importação de aço e alumínio afeta em cheio o Brasil, já que 48% do aço exportado pelo país tem como destino os EUA. Em 2024, mais de quatro milhões de toneladas de aço saíram do território brasileiro para o americano, o que representou US$ 3 bilhões na nossa balança comercial e 15% da importação americana do produto. O Brasil é o segundo maior exportador de aço para os EUA, atrás apenas do Canadá.

O aço sempre é um produto muito visado nas brigas comerciais. Trump já havia adotado essa estratégia em seu primeiro governo, substituída depois pela cota tarifária. O que significa dizer que parte do aço e do alumínio chegam ao país com a tarifa “normal” e acima dessa cota o percentual é mais elevado. O risco é que Trump não restrinja o “tarifaço” a esses produtos.

O Brasil, por sua vez, é um país que tem alíquotas altas no comércio internacional. Na Organização Mundial do Comércio (OMC), o Brasil consolidou seu limite tarifário no máximo permitido pela organização, que é de 35%. Então, o Brasil é um país que adota barreiras tarifárias e não tarifárias ao comércio, o que deixa o país mais exposto nesse ambiente.

O primeiro a pagar o custo dessa sobretaxa, no entanto, é o consumidor americano, porque o importador é quem recolhe o imposto. Ou seja, o alumínio chega mais caro aos Estados Unidos, tornando os produtos feitos com a matéria-prima mais caros. Se o Brasil perde com menos comércio, nos Estados Unidos o efeito é mais inflação, o que pode ser um tiro no pé de Donald Trump.

Responder à elevação das tarifas americanas não é simples. Em uma guerra comercial, todos perdem. Nesta segunda-feira, entram em vigor as novas alíquotas impostas pelos EUA à China e também as tarifas impostas em retaliação pelo governo chinês. Os maiores países do mundo têm um comércio intenso e este é o começo da guerra comercial.

Com esse novo movimento de Trump, o adiamento da entrada em vigor das novas alíquotas contra o México e o Canadá, que deu um refresco na semana passada, parece apenas, de fato, uma postergação e não uma mudança de atitude do presidente americano.

Se Trump colocar em prática tudo o que ele ameaça fazer, vai produzir um choque inflacionário no mercado americano, e ele prometeu reduzir a inflação. Durante toda a campanha, Trump atacou Joe Biden pela inflação, que está acima da meta: está em 2,9%, quando a meta é de 2%. Em alguns produtos manufaturados, essa alta é muito maior. Como Trump vai explicar um aumento inflacionário, se começar uma onda de aumentos generalizados?

A questão é que a política protecionista trumpista é inflacionária não só para os EUA, mas para todo mundo. O tamanho da economia americana faz com que qualquer medida tomada lá tenha reflexo global. Essa é a preocupação em ter um presidente americano tão conflituoso quanto Donald Trump.

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