A frieza de Lessa ao contar como matou vereadora e Anderson Gomes no momento mais tenso de julgamento

 Foto: Reprodução

O momento mais tenso do julgamento do caso Marielle Franco, que começou nesta quarta-feira e segue nesta quinta, foi quando o ex-PM Ronnie Lessa, que confessou ter atirado na vereadora, começou a depor. Com muita naturalidade e sangue frio, ele contou como foi contratado e atirou em direção ao carro em que estavam as vítimas. A família e os amigos da vereadora assistiram ao depoimento em completo silêncio, que só foi rompido pelo choro de Luyara e Marinete, filha e mãe da parlamentar, que saíram do plenário amparadas. A assistência de acusação perguntou se o réu focou na cabeça da vereadora ao efetuar os disparos.

— Foquei — respondeu Lessa, com frieza.

Por videoconferência, o ex-PM afirmou que, no dia da execução, pensou em matar Marielle quando ela saísse de um evento na Lapa, na região central do Rio, as lembrou que havia um prédio da Polícia Civil próximo.

— Já era uma afronta, porque era uma vereadora em exercício. Fazer perto do pátio da Polícia Civil seria uma afronta maior ainda — afirmou.

Ele narrou que esperou Marielle sair e iniciou uma perseguição ao carro:

— O Anderson dirigia muito rápido. O Élcio quase os perdeu. Parecia uma perseguição. Quando eles pararam no sinal vermelho, o Élcio emparelhou o carro, e eu fiz os disparos.

Plano da defesa

Numa estratégia da defesa de livrar o réu da acusação de um dos homicídios e da tentativa de homicídio, Lessa disse que a morte de Anderson não era para ter acontecido e que foi resultado de uma munição inadequada:

— Tentei concentrar ao máximo no alvo, que era a Marielle. Mas sabia que a arma (uma submetralhadora MP5, de calibre nove milímetros) não era adequada para isso. Se fosse um revólver, só a vereadora teria morrido.

Durante o interrogatório, o ex-PM contou que no fim de 2016 recebeu uma proposta feita por Edmilson Oliveira da Silva, o Macalé, para que ambos ficassem milionários. Lessa afirmou que o primeiro pedido dos mandantes foi para assassinar o então deputado Marcelo Freixo, o que ele considerou “inviável”.

Lessa também disse que, quando apresentaram o nome de Marielle, a condição era que o crime não acontecesse perto da Câmara Municipal, o que atrasou a execução, que deveria ter ocorrido meses antes do dia 14 de março de 2018:

— Fizemos até uma reunião com os mandantes tentando desfazer a exigência, mas não conseguimos.

De acordo com o ex-PM, Élcio de Queiroz — que dirigiu o carro usado na emboscada — só soube que Marielle seria o alvo no dia do crime, quando mandou para ele a foto da parlamentar.

— Desde que ele foi expulso da PM, ele sempre me pediu para arrumar algo, dizendo que tinha que se levantar. Pedia um trabalho de segurança, alguma coisa. Quando eu o chamei para o trabalho, não disse diretamente que era algo do Macalé. Ficou meio nublado — explicou.

Na tentativa de reduzir a pena de Lessa, uma das perguntas da defesa permitiu que o réu falasse longamente sobre o patrimônio que adquiriu, sendo um ex-PM. Para justificar ter lancha e casa na Barra, alegou ser dono de academia e quiosques.

Aquilo é dinheiro suado, limpo. Andei fazendo umas besteiras, tudo bem — disse. — Mas o que eu tenho foi comprado na luta, no suor.

Por fim, a defesa do ex-PM deu a ele a oportunidade de dizer que está arrependido e de pedir perdão.

— Eu preciso pedir perdão a essas famílias. Perdi meu pai recentemente e já foi péssimo. Perder um filho deve ser a coisa mais triste do mundo, um marido — afirmou. — Infelizmente, não podemos voltar no tempo. — Tirei um peso confessando o crime. Tenho certeza que a Justiça será feita, inclusive no STF.

Depois de Lessa, Élcio de Queiroz prestou depoimento. Os dois assinaram acordos de delação premiada.

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