A revista britânica The Economist, uma das maiores defensoras do pensamento liberal, publicou um editorial nesta quinta-feira (31) defendendo o voto em Kamala Harris nas eleições dos Estados Unidos que acontecem na semana que vem.
A revista, que se autodefine como “de centro radical”, diz que muitos de seus leitores podem estar inclinados a votar em Donald Trump por considerar Harris uma “marxista radical”, mas alerta que esses eleitores podem estar subestimando os riscos de uma gestão de Trump.
A publicação, que é acompanhada de perto pelo mercado financeiro, questiona a crença de americanos liberais que defendem que “os piores instintos do Sr. Trump” seriam restringidos por sua equipe, pela burocracia, pelo Congresso e pelos tribunais.
E afirma que o país pode até “passar muito bem por mais quatro anos de Sr. Trump, assim como o fez nas presidências de outros homens falhos de ambos os partidos”, mas ao eleger Trump como líder do mundo livre, os americanos estariam colocando “a economia, o Estado de direito e a paz internacional” em risco.
“Não podemos quantificar a chance de algo dar terrivelmente errado: ninguém pode. Mas acreditamos que os eleitores que minimizam isso estão se iludindo”, afirma a The Economist.
A revista prossegue dizendo que alguns podem tachá-la de alarmista e admite que seus piores temores sobre o primeiro mandato de Trump não se concretizaram. Mas a publicação pondera que “hoje os riscos são maiores”.
“E isso porque as políticas do Sr. Trump são piores, o mundo é mais perigoso e muitas das pessoas sóbrias e responsáveis que frearam seus piores instintos durante seu primeiro mandato foram substituídas por verdadeiros crentes, bajuladores e oportunistas”, afirma.
A revista argumenta que Trump defende medidas como: aplicação de tarifas de 20% sobre importações e de até 500% sobre carros fabricados do México; deportação de milhões de imigrantes irregulares, muitos com empregos e filhos americanos; e cortes de impostos, “embora o déficit orçamentário esteja em um nível geralmente visto apenas durante guerras ou recessão”.
Segundo a Economist, essas políticas seriam inflacionárias, criariam um conflito com o Federal Reserve, o Banco Central americano, e poderiam desencadear uma guerra comercial que acabaria empobrecendo os Estados Unidos.
O editorial afirma que a economia americana “causa inveja no mundo” por ser um mercado aberto, que abraça a destruição criativa, a inovação e a competição e diz que Trump parece querer voltar ao século XIX.
O texto menciona ainda preocupações sobre política externa, alegando que o candidato republicano faz promessas superficiais de trazer paz à Ucrânia, incentiva as ofensivas de Israel e despreza alianças, “que são a maior força geopolítica dos Estados Unidos”. “Arrogância e ameaças podem ajudar o Sr. Trump, mas também podem destruir a Otan”, diz.
Por fim, a revista defende que perto de Trump, Kamala Harris representa a estabilidade. Apesar de dizer que Harris “é uma máquina política decepcionante” e que “parece indecisa e insegura”, a Economist diz que a candidata democrata “abandonou os ideias mais esquerdistas dos democratas” e está fazendo campanha perto do centro.
“Presidentes não precisam ser santos e esperamos que uma segunda presidência de Trump evite o desastre. Mas o Sr. Trump representa um risco inaceitável para a América e o mundo. Se The Economist tivesse um voto, nós o daríamos para a Sra. Harris”, finaliza o editorial.