Um pacote de calabresa por mais de mil reais, dois frangos por R$ 700 e um botijão de gás de cozinha por R$ 665. Estes são os valores de alguns produtos vendidos por garimpeiros ilegais dentro da Terra Indígena Yanomami. Eles foram encontrados durante uma operação para destruir acampamentos clandestinos.
Os valores estavam anotados em alguns cadernos, encontrados em um garimpo localizado na região de Surucucu. As informações foram divulgadas na noite dessa sexta-feira (20) pelo governo federal.
Na lista havia os preços de combustíveis, botas de borracha, caixa de chocolate, cigarros e produtos de primeira necessidade, como arroz, feijão, leite e açúcar. O ouro extraído do garimpo ilegal era usado como moeda de troca. Atualmente, a grama do minério está cotada em R$ 350.
No local, um pacote de calabresa era vendido por 3 gramas de ouro, equivalente a R$ 1.050. Um galão de 50 litros de combustível chegava a R$ 2,8 mil e alimentos mais básicos, como 3 kg de farinha, custavam R$ 1.260.
Um par de botas de borracha era vendido a 1,5 gramas de ouro, mais de R$ 500. O acesso à internet, por aparelhos via satélite, também era vendido. Um dia de acesso custava 0,5 gramas de ouro, correspondente a R$ 175.
“Esses valores revelam o custo humano e econômico da exploração em áreas remotas. O trabalhador do garimpo não só se submete a condições perigosas e ilegais, mas também enfrenta uma economia inflacionada devido à dificuldade de acesso a bens essenciais”, afirmou Nilton Tubino, diretor da Casa de Governo, que tem o objetivo de monitorar e enfrentar a crise na terra indígena.
A estrutura dos garimpos ilegais dentro da floresta pode ser, muitas vezes, comparada a uma minicidade na floresta. Operações da Polícia Federal já encontraram prostíbulos, boates, festa de carnaval, bingos, serviço de Wi-fi, restaurantes e até um consultório odontológico em plena floresta.
Cercado pela densa floresta amazônica, o território Yanomami é de difícil acesso. As mercadorias dos garimpeiros são transportadas por aviões e helicóptero, que aterrissam em pistas improvisadas para aeronaves de pequeno porte, ou por embarcações até o interior da terra indígena.
O acesso a muitos garimpos é feito principalmente por meio aéreo, em voos clandestinos. Um voo partindo de Boa Vista, capital de Roraima, até um desses garimpos pode custar até R$ 20 mil.
A geografia isolada faz com que cada item tenha um preço inflacionado, forçando os garimpeiros a usarem grande parte do ouro extraído para adquirir produtos de primeira necessidade, segundo o governo.
Para o governo federal, os presos “evidenciam o peso financeiro que recai sobre os trabalhadores ilegais da mineração”, que entram no território com a esperança de ficar rico com o ouro do garimpo ilegal.
“Muitos entram nesse ambiente com a esperança de ganhos céleres, mas rapidamente se veem presos em um ciclo de dívidas e despesas altíssimas. Enquanto os garimpeiros gastam grande parte de seus lucros em logística e materiais essenciais, como comida e combustível, o maior lucro do garimpo acaba nas mãos do dono ou financiador, que muitas vezes nunca pisou no local. Esses financiadores controlam a operação a distância, acumulando a maior parte dos ganhos”, disse o governo
No início deste mês de setembro, a Polícia Federal cumpriu, em Roraima e Rondônia, cinco mandados de prisão preventiva e 15 de busca e apreensão em uma operação para combater a logística e o financiamento das organizações que favorecem o garimpo ilegal da Terra Indígena Yanomami. Além disso, foram bloqueados R$ 834 mil em bens.