O diagnóstico de Tabata Amaral (PSB) é que ela precisa vencer o desconhecimento do eleitorado para viabilizar sua candidatura. E é exatamente a busca para superar esse desafio que tem balizado as principais estratégias de campanha da deputada federal na disputa da eleição municipal para a Prefeitura de São Paulo.
Para torná-la mais familiar ao eleitor, o principal método adotado na fase de pré-campanha foi apostar em um conteúdo não muito tradicional da política – ou, como definiu a própria candidata em entrevista, “quase beirando o entretenimento”.
No dia 22 de julho, a deputada lançou a série ‘Tabata’, contando a sua própria história de vida, com mais foco nos dramas familiares do que propriamente em temas políticos. Os episódios são postados toda segunda-feira em seu canal no YouTube – repetindo o mesmo modelo de distribuição de superproduções do streaming, como Amazon, Apple TV e Max.
O primeiro episódio conta a história do pai de Tabata e foi lançado com sessão especial no cinema Belas Artes, em São Paulo. Usuário de drogas, o pai da deputada cometeu suicídio quando ela tinha 16 anos.
Recentemente, esse tema foi explorado por um dos adversários de Tabata à Prefeitura de São Paulo. O coach Pablo Marçal (PRTB) acusou a deputada de abandonar o pai no momento de dificuldade para ir para os Estados Unidos, após ganhar uma bolsa de estudos em Harvard.
O contra-ataque veio com uma representação do diretório municipal do PSB ao Ministério Público Eleitoral, requerendo a abertura de inquérito para investigar Marçal pela suposta prática de pagar eleitores para distribuir seus cortes de vídeos nas redes sociais, o que configura abuso de poder econômico.
“Eu vivi esse episódio cretino de ter a história do meu pai usada de maneira mentirosa e suja. Eu estava no Brasil, ao lado do meu pai, quando tudo aconteceu. Mas quero dizer que isso [o ataque de Marçal] não pautou nossa série. O primeiro episódio já estava escolhido. Foi uma coincidência, mas isso deu mais ânimo para a gente levar adiante o projeto”, disse Tabata.
A série terá dez episódios, sendo os quatro primeiros focados inteiramente na vida pessoal da candidata. “As pessoas até querem falar com você de política. Mas só depois que você já conquistou a atenção delas. Nesse viés, estamos competindo com as dancinhas do TikTok e com os conteúdos do BBB. Então, não vai ser falando da minha proposta da cracolândia que vou conseguir chamar a atenção delas, mas talvez falando da minha história, que eu consiga”, analisa.
“Entre os candidatos, eu tenho a maior [taxa de] conversão de votos. De cada três pessoas que me conhece, uma diz que vota em mim. E esse é um eleitor que não tende a mudar. E eu sou a segunda opção de todos os meus adversários. Mas o meu desafio é ser conhecida. Eu ainda tenho o desconhecimento de 67% do eleitorado”, disse a deputada, citando números do instituto Datafolha.
Traição de Datena
Deputada federal no segundo mandato, Tabata estreia em uma eleição majoritária. No início deste ano, de acordo com as pesquisas de intenção de voto, chegou a ocupar o terceiro lugar na preferência do eleitorado paulistano, mas, com o ingresso de novos atores na disputa, despencou e passou a figurar como quinta força.
Pela pesquisa Quaest, divulgada no fim de julho, Tabata aparece com 5%, atrás de Pablo Marçal (12%), José Luiz Datena (19%), Guilherme Boulos (19%) e o atual prefeito Ricardo Nunes (20%).
“No nosso monitoramento, eu não caí nem um ponto de intenção de votos. O que acontece é que agora tem outros atores que atingem pessoas que eu não consigo atingir ainda. Se você pega o Marçal, tira ou coloca ele da disputa, eu continuo com a mesma quantidade de votos. Se você pega o Datena (PSDB), tira ou coloca ele da disputa, eu também continuo com a mesma intenção de votos. Eu não estou disputando eleitor com eles. Eles são muito mais conhecidos e acessam um eleitor que ainda não me conhece”, se defende.
Dos principais adversários, além de Marçal, com quem já teve um entrevero público, Tabata também teve um estremecimento com Datena, com quem manteve longas conversas para tê-lo como vice na sua chapa, representando o PSDB.
O apresentador do programa policial Brasil Urgente, da TV Bandeirantes, no entanto, anunciou seu nome como indicação tucana – sendo, inclusive, confirmado oficialmente na convenção do partido, formando uma chapa puro-sangue com José Aníbal (PSDB). Tabata, por sua vez, ainda não escolheu o nome do seu novo vice.
“Foi firmado um acordo com as lideranças do PSB e do PSDB, incluindo a disputa da prefeitura de outras cidades, e também com o próprio Datena. Quem mudou de palavra, quem tomou um rumo diferente, foi o PSDB. O descumprimento deste acordo deve ser questionado a eles”, diz Tabata.
“O que quero dizer é que nosso projeto para disputar a Prefeitura de São Paulo não depende do apoio do PSDB. Nosso plano de governo, formado por 150 pessoas, com grandes quadros, com 56 candidatos a vereador, não depende do PSDB nos apoiar”, completa.
Em sabatina feita pelo UOL, Datena negou ter traído Tabata. O apresentador disse que foi “jogado no colo do partido” pela própria deputada, no intuito de aumentar seu tempo de televisão. “Ela insistiu e eu fui para o PSDB. Se o PSDB me fez um convite para ser prefeito, o problema é entre ela e o PSDB. Eu não sou traidor de ninguém”, afirmou.
Críticas a Boulos e Nunes
Apesar de ainda ser desconhecida por parte do eleitorado, Tabata rebate com veemência quando indagada se a eleição de 2024 seria uma forma de catapultar seu nome para colher resultados mais à frente.
“Minha candidatura é para agora. Tirando dois, os prefeitos eleitos em São Paulo, estavam em terceiro, quarto ou quinto lugares, a essa altura do campeonato. Todos tinham intenção de voto e nível de conhecimento do eleitor menores do que os meus. O caso mais emblemático foi do João Doria [em 2016] e, mais recentemente, do Bruno [Covas, em 2020]. A eleição mostra é que o debate, a cobertura diária e a atenção das pessoas mudam completamente o jogo. E eu estou melhor hoje em conhecimento e intenção do que quem venceu as últimas eleições”, projeta.
A candidata do PSB também nega qualquer diálogo com Guilherme Boulos, do PSol, para figurar em um eventual segundo turno ao lado dele, subindo no mesmo palanque eleitoral.
Boulos tem feito acenos à Tabata, elogiando sua atuação parlamentar e defendendo sua presença no primeiro turno da campanha em São Paulo. “Tabata ajuda a qualificar e discutir a cidade, que é o que eu quero fazer”, disse o psolista, em entrevista.
“A gente não está aqui para ser escadinha de outro projeto. Não existe conversa com Boulos e nem com outro adversário. Eu não sentei com ele e nem ninguém da minha equipe. Até o segundo turno, quando eu for atrás de apoio, não vou sentar com ninguém”, rebate Tabata.
Tabata também faz críticas ao atual prefeito Ricardo Nunes (MDB), a quem classifica como alguém “pequeno” para o “tamanho dos desafios da cidade”.
“Essa foi a primeira vez, em muitos anos, que São Paulo tinha dinheiro em caixa. Ele não fez nada como prefeito. Não se vê nada estruturante. São Paulo foi a cidade que mais caiu em educação. Ele agora está torrando R$ 5 bilhões em obras, sem licitação e sem transparência. A maioria respondendo por superfaturamento e indício de conluio. Esse é o prefeito que a gente tem hoje”, diz.
Além da gestão, as críticas também se estendem aos movimentos políticos de Nunes, que se aproximou de Jair Bolsonaro (PL), em busca do apoio dessa fatia do eleitorado. Coube ao ex-presidente indicar Ricardo Mello de Araújo, coronel da reserva da Polícia Militar, como vice na chapa.
“São Paulo é a maior cidade do Hemisfério Sul. São Paulo deveria, no mínimo, ter distância dessa polarização nacional. Porque um bom prefeito, uma boa prefeita, trabalha com o governador, trabalha com o presidente, traz recurso para cá. Ele não teve nem coragem de bancar o vice que ele queria. Ele se ajoelhou”, aponta.
Quem é Tabata Amaral, candidata a prefeita de São Paulo
Tabata Amaral tem 30 anos e é formada em Ciência Política pelo Departamento de Governo da Universidade Harvard, nos Estados Unidos. Filha de uma diarista e de um motorista de ônibus, cresceu ao lado do irmão na Vila Missionária, bairro periférico na Zona Sul de São Paulo.
Aluna destaque, em 2012, Tabata Amaral ganhou uma bolsa para estudar no exterior, onde concluiu seus estudos de graduação com uma dissertação sobre reformas educacionais em municípios brasileiros.
Seis anos depois, Tabata Amaral deu início à sua trajetória política ao ser eleita deputada federal por São Paulo, representando o PDT. Foi a sexta parlamentar mais votada do estado naquela eleição, com mais de 260 mil votos. Antes de terminar o mandato, pediu desfiliação da legenda, por divergência sobre a reforma da Previdência. Em 2022, foi reeleita novamente para a Câmara dos Deputados, ampliando sua base eleitoral para mais de 330 mil votos.
Tabata Amaral é namorada do atual prefeito de Recife, João Campos, filho do ex-governador Eduardo Campos, morto em um acidente aéreo em 2014. Neste ano, os dois vão disputar as eleições municipais, ambos pelo PSB.