Foto: Arquivo pessoal
Kassia Freitas (@nossos4mais1), 39 anos, de Goiânia, Goiás, já era mãe de Davi, hoje com 5 anos, quando resolveu tentar o segundo filho. Era um novo relacionamento e ambos estavam de acordo. Mas apenas um mês após a decisão, veio o teste positivo — e quadruplicado! Eram quadrigêmeos. “O médico, bem tranquilo, começou o exame e disse: ‘Você sabe que é mais de um, né?’ Perguntei: ‘São gêmeos?’ Chorei copiosamente porque jamais esperava ter gêmeos. Aí, o doutor disse: ‘Calma aí. Olha a tela. Quantos bebês você vê?'”, lembra ela.
No entanto, com quatro meses de gestação, o pai dos bebês decidiu terminar o relacionamento. “Não tenho vergonha de falar, mas eu implorei para que ele não terminasse, porque achei que não daria conta de continuar sozinha. Mal sabia que minha força era muito maior do que isso”, conta. Aurora, Livia Luíza, Ulisses e Ícaro nasceram bem, saudáveis e já completaram 5 meses. Kassia mora sozinha com seus quadrigêmeos e com o primogênito. E, felizmente, conta com uma extensa rede de apoio, inclusive online, nessa missão que é a maternidade. Em depoimento à CRESCER, ela contou em detalhes dessa trajetória.
“Davi, meu primogênito, é fruto de um relacionamento que não deu certo. Mas sempre tive o sonho de ter uma família e mais filhos. Falava para o universo que minha ‘data limite’ era 40 anos para ter mais um filho — e o universo logo correu e pensou: ‘Vixi, só até 40 anos? Então vão todos de uma vez, pois ela já tem 39 (risos). Sentia que seria mãe de uma menina, e mal sabia eu que ela viria acompanhada (risos). Então, no início de 2023, iniciei um relacionamento que parecia perfeito. Tínhamos em comum a vontade de ter filhos. Decidimos não usar métodos contraceptivos para que eu engravidasse em cerca um ano — imaginamos —, enquanto organizávamos algumas coisas. Mas sconteceu rápido demais! Apenas um mês depois, eu já estava grávida.
No início, tive um sangramento e achei que tinha perdido o bebê. Fui fazer o ultrassom apreensiva, estava sozinha nesse dia. O médico, bem tranquilo, começou o exame e disse: ‘Você sabe que é mais de um, né?’ Perguntei: ‘São gêmeos?’ Chorei copiosamente porque jamais esperava ter gêmeos. Aí, o doutor disse: ‘Calma aí. Olha a tela. Quantos bebês você vê?’ Eu disse: ‘Vejo quatro pontinhos’. E ele completou: ‘É isso! Você está grávida de quadrigêmeos’. Parei de chorar na mesma hora! Perguntei: ‘Isso é possível?’ Ele respondeu: ‘Não só é possível, como está acontecendo com você!’
Na sequência, ele quis saber se eu tinha feito tratamento para engravidar ou fertilização in vitro, mas eu falei que não, não tinha feito nada, nada! Ele ainda me alertou o seguinte: ‘Kassia, é uma gravidez de muito risco, e pode ser que um fique no caminho, pois é muito difícil levar os quatro. Mesmo ele falando isso, eu saí de lá muito otimista. Acreditei, desde o primeiro momento, que viriam os quatro. A primeira pessoa que soube foi a minha irmã. Liguei enquanto ainda esperava o laudo, e ela não acreditou. Perguntou se eu entendi direito (risos). Depois disso, contei ao pai das crianças (nós ainda estávamos juntos) e, apesar de ter se assustado, ele ficou muito feliz. Nossos pais também — foi uma alegria sem fim para as nossas famílias.
O pai das crianças e eu continuamos juntos até eu completar quatro meses de gestação, então, ele terminou comigo. Me peguei vivendo o mesmo drama da gravidez do Davi — ‘fui deixada’ —, mas nem por isso deixei o brilho da minha alegria se apagar, principalmente pelos meus filhos que estavam à caminho. Eu topei engravidar acreditando que não passaria por tudo de novo, apesar de o pai de Davi ser bom pra ele. Mas a história se repetiu. Não tenho vergonha de falar, mas eu implorei para que ele não terminasse, porque achei que não daria conta sozinha. Mal sabia que minha força era muito maior do que isso.
Mesmo terminados, ele deu assistência em relação às consultas médicas, remédios, etc, mas todo o apoio que eu — como mãe e como mulher — precisava, recebi da minha família. Eles é que estiveram juntos comigo o tempo todo. Posso dizer que meu ‘luto’ em relação ao término durou três dias. Depois disso, uma força muito grande surgiu de dentro de mim, fazendo com que eu seguisse forte. E assim fiz. Foi um amparo de Deus muito grande.
A gestação foi de muitos cuidados. Meus gestores me liberaram para trabalhar de forma remota durante toda gravidez, o que me ajudou muito. Fiquei em total repouso, trabalhava deitada. Minha mãe também fazia tudo para me ajudar. Outra pessoa que me ajudou muito foi meu filho Davi, 5 anos. Como eu não conseguia abaixar, principalmente no banho, ele era quem lavava minhas pernas, meus pés, vestia minhas roupas e até minhas calcinhas. Ele cuidou muito de mim. Foi realmente um anjo!
O parto
Em um certo momento, recebi o diagnóstico de síndrome da Transfusão Feto Fetal — quer dizer que alguns estavam recebendo mais nutrientes que os outros. Eram duas placentas: uma dos meninos e outra das meninas. A síndrome afetou os meninos e já fui alertada que, possivelmente, precisaria fazer uma intervenção médica. Mudei toda a minha alimentação — cortei açúcar e carboidratos, para evitar o acúmulo de água — e, paralelo a isso, acreditei muito em Deus e pedi muita proteção. Mais tarde, os exames mostraram que o desenvolvimento dos meninos estava normal e todos estavam crescendo de maneira uniforme. Apesar do desconforto do meu corpo, principalmente as dores, consegui levar a gestação até 30 semanas e 4 dias, que foi quando aconteceu o parto.
Minha obstetra decidiu me internar alguns dias antes do previsto para o parto, já entendendo que meu corpo não daria conta de esperar mais. O parto foi agendado para às 14h, mas por volta das 10h, eu entrei em trabalho de parto — já confirmando que realmente estava na hora. Na sala de parto, havia dezoito profissionais, contando com médicos, psicólogos e enfermeiros. Deu tudo certo! As crianças nasceram nessa ordem: Aurora com 1,085 kg, Livia com 1,165 kg, Ulisses com 1,480 kg e Ícaro com 1,225 kg. Nenhum deles precisou de ser intubado e, com 7 dias, já estavam todos em ar ambiente. Os meninos ficaram 25 e 26 dias na UTI, e as meninas 31 e 32 dias, apenas para ganhar peso, sem nenhuma intercorrência.
Pós-parto e rede de apoio
No começo, tive algumas intercorrências como hemorragia, pressão alta e síndrome de Hellp [complicação grave de pressão arterial elevada durante a gravidez]. Mas consegui melhorar. Emocionalmente, foi muito difícil — estava bem, confiante, mas acompanhar as crianças na UTI durante todos esses dias não foi fácil. Nos primeiros dias, quando elas foram para casa, também foi muito cansativo. Passava as noites em claro, pois eles sentiam muita cólica. Minha irmã, meu cunhado e minha mãe foram as pessoas que mais me ajudaram. Alguns amigos colaboraram pagando uma babá para algumas noites e, em outras, algumas amigas se colocaram à disposição para me ajudar. Algumas tem dias fixos até hoje.
Fisicamente, ainda me sinto cansada. Emocionalmente, me sinto muito bem. A gratidão à Deus por todos estarem bem fala muito mais alto. Me sinto forte, às vezes, exausta, mas não tenho a opção de fraquejar. É assim que penso. Meus filhos precisam de mim. Minha rede de apoio é maravilhosa, e isso faz toda a diferença. Sei que muitas mães não tem isso. Minha mãe fica comigo, na minha casa, o dia todo, ajudando tanto com as crianças quanto com os afazeres domésticos. Meu pai me ajuda muito no ‘leva e traz’ do Davi e em toda a logística que for preciso. Tenho uma amiga que dorme comigo nas terças-feira, outra nas quintas e outra nas sextas. Minha amigas são anjos — elas saem das suas casas e deixam suas famílias para me ajudar. O pai das crianças visita os bebês sempre e, no momento certo, elas irão para a casa dele. Quanto ao financeiro, as despesas são enormes e ele não tem condições de ajudar — tanto com pensão, mas ajuda como pode
Mãe solo
Hoje, eu moro sozinha com meus cinco filhos e a licença-maternidade está terminando. Por enquanto, ainda não quero deixar as crianças em uma creche, devido a prematuridade. Então, contratei uma pessoa para ajudar minha mãe nos cuidados durante o dia, enquanto eu estiver fora. Antes, uma babá, para mim, era luxo. Mas, hoje, é uma necessidade. Eu trabalho como gerente de marketing em uma ONG. Tanto os colaboradores quanto a direção me ajudam muito, em tudo. Sonho em poder ficar com as criança em um período e trabalhar no outro. Sei que tenho que trabalhar muito para dar conta de tudo, mas sou otimista, tenho certeza de que tudo vai dar certo, que vou conseguir. As coisas vão caminhar.
Por enquanto, o maior desafio é suprir as necessidades que meus quatro bebês exigem. Às vezes, o choro vem de uma vez, assim como a fome e o sono. Consigo acalmar dois de uma só vez, mas quatro é impossível. Eles também precisam de colinho, mas terão que aprender a esperar e dividir. E quando um adoece, é uma luta, pois todos acabam contraindo e os cuidados são quadruplicados. O que deixa tudo muito mais cansativo. Mas eles me ensinam a ser mais paciente. Amamento dois de cada vez, dou a mamadeira pro terceiro, mas um acaba sobrando. Então, sempre tem que ter alguém ajudando. Dou fórmula e peito. Pretendo seguir amamentando até quando conseguir. Vou até onde der conta e sem me cobrar por isso.
E no meio disso tudo, tem Dani, meu primogênito, que é um amor! Não sei como uma criança que tinha toda atenção só pra ele, consegue dividir com mais quatro, assim, de uma hora para outra. Ele me ajuda muito com os bebês, dentro da possibilidades de uma criança de 5 anos, claro. Brinca com eles, coloca o bico, conversa e até arrisca um colinho de leve. Mas, às vezes, clama por uma atenção maior da mamãe, mas vamos dando um jeitinho. Sempre procuro observar se ele está bem e se estou dando a atenção devida. Mas confesso que não é fácil.
Recado para outras mães
Desde que engravidei, criei o perfil @nossos4mais1 — e muita da força que tenho, vem de lá! Através das redes sociais, consigo inspirar outras mães. Algumas seguidores são como pessoas da família, apesar de só conhecê-las online. Eu recebi muita ajuda — até financeira — de pessoas que conheci pela internet. Tem uma pessoa querida que manda um pix, às vezes, e diz: ‘Para te ajudar com uma diária da babá no fim de semana’. Ganhamos também muitos itens de enxoval. É muito gratificante pode dividir a rotina das crianças, e mostrar o crescimento delas é também uma forma de demonstrar gratidão por toda ajuda que recebi e que recebo até hoje.
Para as mulheres que estão passando por uma situação semelhante, o que posso dizer é: não tenham medo, Deus nos capacita. Quando é só um filho, doamos total atenção a ele — não deixamos chorar e ninamos por mais tempo. Mas quando são múltiplos, nos adaptamos e damos a atenção que conseguimos. E eles, assim como nós, também aprendem a dividir, a esperar, a dormirem sozinhos. O importante é ter paciência e não surtar. Eu jamais imaginei dar conta e, graças à Deus, tenho conseguido.
Também não desejo, aqui, romantizar a maternidade solo, até porque é muito difícil, e eu não escolhi passar por isso. E sei também que, sem rede de apoio, é impossível. Mas aprendi a pedir ajuda e não me achar autossuficiente. Sem a ajuda da minha família e dos meus amigos, jamais daria conta. Nós somos mães e, por trás de uma mãe, existe uma força enorme. Precisamos apenas confiar em Deus e em nós mesmas.”