Um dia antes antes da morte de Clarinha, paciente que ficou internada em estado vegetativo por 24 anos, a Justiça do Espírito Santo autorizou o registro civil da mulher. A informação não chegou a tempo ao conhecimento da equipe médica que assistia a paciente. Clarinha morreu após complicações de uma broncoaspiração na noite de quinta-feira (14).
Mesmo assim, o Ministério Público do Espírito Santo (MP-ES) acredita que com o documento será possível enterrá-la em um cemitério público e não como indigente.
Será feita solicitação judicial para que a certidão de óbito seja lavrada em nome de Clarinha, contendo informações como o local definitivo do sepultamento do corpo, além do registro fotográfico e papiloscópico.
Quem é Clarinha
O caso da paciente “misteriosa” ganhou repercussão após uma reportagem sobre o caso ser exibida no Fantástico. Clarinha, como era chamada pela equipe médica, foi atropelada no Dia dos Namorados, em 12 de junho de 2000, no Centro de Vitória.
O local exato do atropelamento e o veículo que atingiu a mulher nunca foram identificados, segundo a polícia. Ela foi socorrida por uma ambulância, mas não possuía documentos. Clarinha chegou ao hospital já desacordada e sem ser identificada.
A mulher estava internada em estado vegetativo no Hospital da Polícia Militar (HPM), em Vitória. Nenhum parente ou amigo a visitou em todos esses anos.
Corpo ainda está no DML
Neste sábado (16), o médico que cuidou da paciente por mais de duas décadas, o coronel Jorge Potratz, disse que ficou surpreso com a autorização do nome de Clarinha.
“O Ministério Público soltou uma nota, a gente não estava sabendo disso e não deu tempo de efetivar essa situação. Pelo menos ela consegue sair com uma declaração”, pontuou o médico.
Ele disse que após a morte, surgiu um homem no Departamento Médico Legal (DML) de Vitória que acredita ser filho de Clarinha e solicitou o DNA.
“Como o DML tem apenas possibilidade de fazer comparação com impressões digitais, e Clarinha não as tem, será necessário exane de DNA. Todo esse procedimento pode atrasar a liberação do corpo”, explicou.
O registro civil
O MP-ES informou que realizou um intenso trabalho por anos para buscar familiares ou conhecidos da paciente.
“No ano de 2022, as demandas relacionadas a Clarinha passaram a ser encaminhadas ao Promotor de Justiça Cível de Vitória em razão da necessidade de confeccionar o registro civil de nascimento, para que fosse reconhecida juridicamente sua existência, garantindo-lhe o atendimento junto à área da saúde em instituições e órgãos públicos. Deu-se início, então, à ação judicial em setembro de 2022, e, na quarta-feira (13), o Juízo da 2ª Vara da Fazenda Pública Estadual e Municipal, Registros Públicos, Meio Ambiente e Saúde de Vitória julgou procedente o pedido “para determinar que seja lavrado o assento de nascimento tardio da pessoa apelidada por “Clarinha”, no Cartório de Registro Civil ”, com os demais dados necessários”, diz a nota.