A Bahia teve queda de 4,1% no número de mortes violentas em 2023, mas segue como estado com maior registro de mortes violentas no Brasil pelo 5º ano seguido. Os dados fazem parte do Monitor da Violência, índice nacional de homicídios, com base em informações oficiais dos 26 estados e o Distrito Federal. O levantamento foi divulgado nesta terça-feira (12)
Os dados apontam uma média de 404 assassinatos por mês. As 4.848 mortes violentas na Bahia representam uma fatia de 12,2% de todos os casos no Brasil: 39.492. Em 2022, o estado registrou 5.057 mortes violentas.
Ao analisar a quantidade de habitantes do estado no mesmo ano, um total de 14.141.626 pessoas, a Bahia contabilizou 34,3 mortes violentas por cada grupo de 100 mil habitantes. Também é possível observar que a cada 2.916 pessoas na Bahia, uma foi assassinada.
A maioria das vítimas de homicídios dolosos na Bahia é formada por jovens adultos negros. Especialistas apontam que o envolvimento direto (por atuação) ou indireto (por morar em localidades onde há atuação) com o tráfico de drogas é a principal motivação destes assassinatos.
Em setembro do ano passado, o secretário de Segurança Pública da Bahia, Marcelo Werner, admitiu que a guerra de facções é a principal responsável pela violência no estado. À época, o bairro de Valéria, na periferia de Salvador, era o ponto central de uma onda de violência após uma operação terminar com um policial federal e quatro homens mortos, é alvo de duas facções criminosas.
Outro caso de repercussão que terminou com morte relacionadas ao tráfico de drogas foi o ataque a tiros que terminou com três homens e um bebê assassinados, em agosto do ano passado, em uma localidade conhecida como Tubarão, no bairro de Paripe, em Salvador.
As investigações apontaram que dois dos homens mortos tinham envolvimento com o tráfico de drogas e o outro respondia por tentativa de feminicídio contra a ex-companheira.
Outro caso de grande repercussão foi a morte do dentista Lucas Maia de Oliveira, de 36 anos, em novembro, no apartamento em que morava, no prédio de luxo Celebration Garibaldi, localizado no Rio Vermelho, bairro boêmio da capital baiana.
O suspeito foi preso quase um mês depois e contou para a polícia que tinha uma relação de amizade com a vítima, mas os dois brigaram por causa de uma dívida por drogas no valor de R$ 100.
Em 2023, 63 pessoas morreram vítimas de latrocínio, quando criminosos assassinam para roubar os pertences.
Logo no primeiro mês do ano, o técnico de enfermagem André Chagas Leite, de 26 anos, foi morto com um tiro na cabeça, no bairro Felícia, que fica na cidade de Vitória da Conquista, sudoeste da Bahia. Ele foi assaltado após comprar produtos em um supermercado.
Dois suspeitos do crime foram presos ainda em janeiro, na cidade de Poções, a cerca de 70 km de Vitória da Conquista, onde o caso foi registrado.
Na mesma cidade, o vigilante de uma escola municipal de Vitória da Conquista, Zilto Lima de Oliveira, de 51 anos, foi encontrado morto com marcas de tiros, próximo ao antigo aeroporto da cidade. A motocicleta dele foi roubada.
Já em setembro, Wdsoncley Lourenço Batista foi morto a tiros em Feira de Santana, cidade a cerca de 100 km de Salvador, após sair do Rio Grande do Norte para comprar um carro na Bahia. Um amigo do homem, que estava com ele no momento dos disparos, também ficou ferido.
As vítimas foram surpreendidas por dois homens armados, que dispararam contra eles e fugiram. Dias depois, um dos suspeitos foi preso e confessou que o crime foi um latrocínio.
Mortes violentas no Brasil
Em 2023, o Brasil registrou 39.492 homicídios dolosos (com intenção de matar), feminicídios, latrocínios (roubos seguidos de morte) e lesões corporais seguidas de mortes, o que representa média de mais de 108 vítimas por dia. Em 2022, o total havia sido de 41.140 mortes violentas, ou 113 por dia.
A queda foi puxada pelos estados de São Paulo, Pará e Bahia – que, juntos, respondem por 53% das 1.648 mortes a menos registradas em 2023 – mas foi disseminada pelo país. Das 27 unidades da federação, 21 tiveram queda nos assassinatos.
Levantamento periódico é encerrado
O levantamento periódico dos assassinatos é um dos projetos do Monitor da Violência, criado em 2017 pelo g1 em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV-USP).
Naquela época, o governo federal não tinha uma ferramenta que permitisse à sociedade – jornalistas, pesquisadores, gestores públicos e demais cidadãos – acompanhar, de forma atualizada, os dados sobre homicídios do país. O único levantamento nacional era o do FSBP, divulgado no segundo semestre de cada ano.
A divulgação dos dados pelos estados também não era padronizada, e não havia uma frequência definida.
A partir da parceria, as centenas de jornalistas do g1 espalhados pelo país passaram a levantar junto aos estados dados sobre as mortes violentas ocorridas mês a mês, por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI) e das assessorias de imprensa dos governos.
Esse trabalho contribuiu para aumentar a transparência e a precisão das informações sobre segurança pública divulgadas no Brasil e, em 2024, o governo federal passou a publicar os dados de crimes violentos em um painel interativo com informações de todos os estados.
Os dados do governo federal, embora usem uma metodologia diferente da do Monitor (por incluir, por exemplo, mortes suspeitas e encontro de corpos e ossadas, que podem não ser homicídios), apontam para um cenário semelhante, de redução de 4% nas mortes violentas em 2023.