Recusa de Alexandre Nardoni em realizar teste psicológico pode impedir que ele ganhe liberdade

Condenado a 30 anos, dois meses e 20 dias de prisão pela morte da própria filha, jogada da janela do sexto andar aos 5 anos, Alexandre Nardoni terá dificuldades para migrar para o regime aberto, quando o preso passa a cumprir o restante da pena fora da cadeia. Segundo o promotor Luiz Marcelo Negrini, que acompanha a execução da pena dos presos de Tremembé, o maior obstáculo será justamente o assassinato cometido por ele. “Quando o crime é hediondo e muito violento, a Justiça dificulta mais a liberdade”, diz.

No entender da Justiça, Nardoni, hoje com 42 anos, matou Isabella no dia 29 de março de 2008. Ele foi preso temporariamente quatro dias depois. É a partir desse momento sua sentença começou a ser contabilizada para progressão de regime. Em 11 de agosto de 2010, com um sexto da pena cumprido, Alexandre migrou para o semiaberto, beneficiando-se das famosas saidinhas cinco vezes por ano.

Daqui a pouco mais de um mês, no dia 4 de abril de 2024, Nardoni terá cumprido dois quintos da sentença e estará apto a pedir progressão para o regime aberto. “Mas isso não quer dizer que a saída da penitenciária seja automática. Ele vai ter que fazer o exame criminológico e o teste de Rorschach para mostrar como lida com o crime que cometeu e, principalmente, para provar que está arrependido de ter matado a própria filha”, pontua Negrini.

Eis aí o principal empecilho a ser superado por Nardoni: ele nunca admitiu ter matado Isabella. Sustentou ser inocente no Tribunal do Júri, em 2010, e em todos os exames criminológicos que fez dentro de Tremembé. Segundo a sua versão, um ladrão entrou em seu apartamento quando a menina estava sozinha. O assaltante teria pego uma tesoura na gaveta da cozinha, cortado a tela de proteção da janela do quarto das crianças e arremessado a vítima lá do alto.

No passado, a Justiça já havia determinado que Nardoni fizesse a prova de Rorschach. Conhecido como “teste do borrão de tinta”, o exame traz dez pranchas brancas, oito delas com manchas abstratas pretas e duas com desenhos coloridos. O psicólogo apresenta uma a uma ao detento, que precisa dizer o que vê em cada uma delas durante duas horas.

É comum que criminosos, principalmente os não-confessos, evitem passar pelo teste por receio de que ele revele elementos como uma personalidade violenta e desejos assassinos. Ao final da aplicação, o profissional responsável elabora laudos remetidos ao juiz responsável, que leva o resultado em consideração ao decidir se autoriza ou não a liberdade.

Para se ter uma ideia de como Nardoni não deve obter facilmente a progressão de regime, basta observar a jornada de Suzane von Richthofen, de 40 anos, também em Tremembé. Por ordem judicial, ela foi submetida quatro vezes ao teste de Rorschach, mas em todas não foi detectado, pelo psicólogo aplicador, arrependimento pela morte dos pais.

  • Nos laudos, foram constatados narcisismo, agressividade camuflada e personalidade infantil. O resultado contribuiu para que a saída da cadeia demorasse mais. Embora já estivesse apta, pelo tempo cumprido de pena, a obter o regime aberto em 2018, Suzane só deixou a penitenciária no ano passado.
  • Outro preso que enfrenta dificuldades para obter a progressão é Gil Rugai, de 40 anos. Condenado a 33 anos de reclusão por ter matado o pai e a madrasta, ele já deveria estar cumprindo a pena em liberdade há três anos. Entre outras razões, não obteve o benefício porque, tal qual Alexandre Nardoni, se recusa a fazer o teste de Rorschach. “Gil Rugai apresenta comportamento egocêntrico, com traços de impulsividade, imaturidade e fantasias ligadas às suas necessidades pessoais”, escreveu o promotor Paulo José de Palma ao dar parecer desfavorável à mudança de regime.

Enfrentar uma batalha jurídica para se livrar do teste de Rorschach não será nenhuma novidade para Nardoni. O Ministério Público já havia recomendado o exame em 2019, mas ele se recusou a fazer. Ainda assim, a Justiça concedeu as saidinhas de Páscoa, Dia das Mães, Dia dos Pais, Dia das Crianças e Natal/Ano Novo.

Os promotores , contudo, recorreram a instâncias superiores, e Alexandre acabou perdendo o benefício. “A Justiça costuma ser mais benevolente quando concede as saidinhas porque é uma liberdade muito curta (cada uma tem sete dias). Mas, para mandar o preso para a liberdade, as exigências são mais rigorosas”, explica Luiz Marcelo Negrini. A pena de Nardoni só termina em 2035.

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