Donald Trump e o jogo do caos: poder, protagonismo ou interesses estratégicos?

Por De Cara com as Feras

Donald Trump sempre foi um personagem que desafia qualquer tentativa de leitura simples. Em seus discursos, gestos e decisões, ele mistura símbolos religiosos, bravatas nacionalistas e uma política externa marcada por contradições profundas. É como se, ao mesmo tempo em que reza para Deus em público, flertasse com o caos em suas ações práticas. A pergunta que ecoa no cenário internacional é direta e inquietante: afinal, o que Donald Trump realmente quer?
De um lado, Trump se apresenta como o homem que pode acabar com a guerra entre Rússia e Ucrânia, prometendo soluções rápidas para um dos conflitos mais graves da atualidade. De outro, acena com a possibilidade de confronto e tensão na América do Sul, especialmente em relação à Venezuela. Esse comportamento ambíguo revela uma lógica que não está necessariamente ligada à paz ou à estabilidade global, mas a algo maior: o protagonismo absoluto no tabuleiro mundial.
Ao longo do tempo, Trump “atira para todos os lados”. Do Norte ao Sul global, sua política externa acumulou conflitos, atritos e crises diplomáticas. No Oriente Médio, envolveu-se em guerras e reposicionamentos estratégicos que aumentaram a instabilidade da região. Na Europa, tensionou relações com a União Europeia, questionando alianças históricas e enfraquecendo consensos diplomáticos. Com a China, abriu uma guerra comercial marcada por taxações e retaliações. Com o Brasil, acumulou episódios de ruído político e econômico. Poucos líderes, na história recente, conseguiram gerar tantos focos de tensão simultaneamente.
Essa postura levanta outra questão central: Trump busca apenas poder simbólico ou interesses materiais concretos? Há quem aponte para a corrida por minérios estratégicos, como as chamadas terras raras, essenciais para a indústria tecnológica e militar. Outros veem no petróleo e nos recursos energéticos um dos motores de sua política agressiva. Mas, acima de tudo, parece haver uma obsessão pelo poder — pelo controle da narrativa global, pelo papel de “dono da cena”, aquele que dita as regras, provoca reações e ocupa permanentemente o centro do palco internacional.
O problema é que o mundo de hoje já vive um nível elevado de instabilidade. Há guerras em curso, crises humanitárias, desigualdades crescentes e uma população global cansada de conflitos. A “zoada”, a revolta e o medo se espalham com rapidez. E é justamente nesse contexto que a humanidade mais precisa de paz, diálogo e cooperação internacional.
Nos anos 1990, após o fim da Guerra Fria, o mundo experimentou — ainda que de forma imperfeita — um período em que o diálogo, os acordos multilaterais e a diplomacia pareciam caminhos possíveis para o desenvolvimento global. Foi um momento em que se compreendeu, ao menos em parte, que a guerra não gera vencedores duradouros, apenas destruição. A paz, por outro lado, mostrou-se capaz de impulsionar crescimento econômico, avanços sociais e integração entre os povos.
Nesse cenário conturbado, chama atenção o protagonismo inesperado de líderes que apostam no diálogo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva é um exemplo disso. Lula tem conseguido conversar com diferentes blocos políticos, ideológicos e econômicos, dialogando com países do Norte e do Sul global. Sua atuação evidencia uma visão de que o crescimento econômico e social do Brasil não precisa ocorrer às custas dos outros, mas pode caminhar junto com o desenvolvimento global.
Enquanto Trump aposta no confronto, na tensão e no choque permanente, outras lideranças tentam resgatar a ideia de um protagonismo baseado na diplomacia, na democracia e no diálogo internacional. O mundo, hoje, precisa menos de líderes que atiram para todos os lados e mais de estadistas dispostos a sentar à mesa, negociar e construir consensos.
No fim das contas, a pergunta permanece: Donald Trump quer paz, recursos estratégicos ou apenas poder? Talvez um pouco de tudo — ou talvez apenas o aplauso constante de estar no centro do caos. O desafio global é não permitir que esse tipo de protagonismo se sobreponha àquilo que a humanidade mais necessita neste momento histórico: paz, diálogo e cooperação para um futuro comum.

Repórter \ Alenilton Malta

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