À frente do Rubro-Negro, técnico tem sucesso em mais uma campanha de permanência: “Quinta vez que assumo um time na zona de rebaixamento e quinta vez que fico na Série A”

O Vitória confirmou a permanência na Série A 2026 ao bater o São Paulo por 1 a 0, neste domingo, no Barradão, pela última rodada do Campeonato Brasileiro. O volante Gabriel Baralhas foi o herói da partida ao anotar o gol salvador já no segundo tempo
Em entrevista coletiva após o jogo, o técnico Jair Ventura exaltou o feito ao garantir a permanência na Série A pela quinta vez na carreira. Além do Rubro-Negro, o treinador salvou Botafogo (2016), Sport (2020), Juventude (2021) e Goiás (2022) da degola.
– Não tenho responsabilidade nenhuma em mudar e me preocupar com o que os outros pensam de mim. Tenho acessos, títulos estaduais, disputei a Libertadores já. Faço meu trabalho. Sei o que eu sou, sei do meu tamanho, não tenho assessoria para cavar nome. Sempre que tenho oportunidade, tento ajudar os clubes. São dez anos como treinador, fui efetivado no Botafogo para salvar do rebaixamento e levei para a Libertadores. Agora deu certo mais uma vez aqui, mas o próximo passo é sobreviver ao estadual, porque eu sei como funcionam as coisas no futebol. Feliz por poder ajudar um clube a alcançar seus objetivos mais uma vez.
“Quinta vez que assumo um time na zona de rebaixamento e quinta vez que fico na Série A. Então estou feliz por ajudar. O mais importante é que o Vitória está na Série A”.
Com Jair Ventura, o Vitória teve 55% de aproveitamento (sete vitórias, dois empates e cinco derrotas) e arrancou para terminar o returno com a décima melhor campanha.
– Falar do se é complicado. Vale o que deu certo. Temos percentual de G-6, sim. Seria Libertadores pelo percentual. Mas não temos como controlar o que aconteceu antes. Bom que ano que vem vamos estar na Série A, vamos fazer mais grandes jogos. Que bom que no final deu certo – celebrou o treinador.
Jair Ventura também fez um balanço da carreira, que está perto das 400 partidas. A marca deve ser atingida em 2026, com boa probabilidade de ser pelo Vitória se o treinador renovar contrato.
“Torcida me abraçou, feliz demais. Tem tudo para dar certo, vamos ver as cenas dos próximos capítulos”.
– Você vai ganhando casca, se adaptando, mas não fazemos nada para mostrar para ninguém. Hoje a gente fica feliz porque mostrou para quem está com a gente que é possível. Para quem está contra, não preciso dizer nada. São dez anos de carreira, oito na Série A, faço 400 jogos como treinador ano que vem. Vamos estudando muito, e a experiência nos ajuda a ter uma percepção melhor.
Confira outros trechos da entrevista coletiva de Jair Ventura
Permanência
– Os atletas são os protagonistas do jogo, os grandes responsáveis. Hoje eu acordei cedo, ansioso, estava tomando café, e um jogador meio pessimista veio falar que preferia pegar o Palmeiras porque a gente não ganha do São Paulo. Eu não sabia, já fiquei com uma pulga atrás da orelha. Rafael estava fazendo milagre. Cheguei no vestiário e acalmei eles. Na volta fizemos nosso gol com muita organização ofensiva. Feliz demais em poder ajudar essa torcida. Já trabalhei em equipes gigantes, aqui toda hora é Aeronego, corredor, é diferente mesmo. O treinador é o grande vilão quando as coisas não acontecem, mas a gente tem convicção, não é teimosia, iniciou o técnico.
Gol do Baralhas
– Um dos meus melhores trabalhos na carreira o Baralhas foi protagonista. A gente conseguiu um tricampeonato inédito juntos, um acesso e 15 vitórias consecutivas. Ele voltou a ser esse cara. Um herói improvável hoje. A gente fez um grande jogo. Tirei o Camutanga por causa do cartão. Zé fez um grande jogo, Willian fez um grande jogo. Quando eu cheguei aqui ninguém queria ver eles. A vida é para quem faz diferente. A gente tem que ter convicção. Uma coisa que eu aprendi é a fazer aquilo que você acha que tem que ser feito. Todo mundo queria tirar os três zagueiros, mas dentro de uma convicção nossa, de um grupo que comprou nossa ideia, a gente fez o improvável.
Rivais diretos e entrada de Fabri
– O Inter também conseguiu se salvar. Feliz demais pelo Abel, era chacota por causa da idade e mostrou por que é campeão do mundo. É uma referência para mim. Pela amizade e carinho que tenho por ele. Ele apanhou bastante pela declaração que deu, não vou entrar nesse mérito, mas conseguiu dar a volta por cima. (..) Fabri estava atropelando nos treinos, pedindo passagem. Mas se eu perco hoje, iam reclamar que eu não coloquei Osvaldo. A gente estava doido para usar o Fabri, mas ele estava sempre machucando. Quando ele entrou eu ouvi vaias, mas o importante é que o Vitória está na Série A.
Futebol nordestino
– Nossa grande responsabilidade não é sobre a região, é sobre investimento. É como falar de treinadores estrangeiros. Não importa onde você nasceu, importa se você é bom. Existem treinadores bons e ruins em todos os lugares, não dá para colocar todo mundo em um pacote. A dificuldade não é do Nordeste, é das equipes com menos orçamentos. Você tem Palmeiras e Flamengo cada vez mais fortes, estão virando Barcelona e Real Madrid. Ano passado teve o Botafogo que quebrou, mas conseguiu o título depois de virar SAF. É um gigante, me formou como pessoa e profissional, gratidão imensa, mas a gente sabe que a realidade dos clubes é muito difícil se você não tiver o apoio da SAF.
– Quantas vezes aparece um trabalho como o do Mirassol? É cada vez mais difícil. Vai ser sempre muito difícil equiparar essa força. Nosso vizinho virou SAF, tem mais orçamento, estrutura, voo fretado. É difícil, mas a gente sabe que a paixão é igual. Acho que não tem essa de região, é mais sobre a situação financeira. Aqui a margem de erro é muito pouca. A continuidade do trabalho também ajuda. Teve ano que eu livrei do rebaixamento e caí depois com cinco jogos do estadual. Não vamos mudar o futebol, então vamos seguir aí. Espero ajudar mais times com seus objetivos.
Principal virtude na salvação
– Os atletas. Sempre eles. São os caras que pagam o preço. A responsabilidade é toda deles e dessa torcida maravilhosa. São os grandes protagonistas. Depois do 8 a 0 o Barradão estava lotado. Tomamos 4 a 0 e o Barradão lotado hoje. Esse dia eu não vou esquecer nunca mais. A gente fez a nossa parte e ficou. Vamos curtir. Assistam cenas dos próximos capítulos.
União torcida e time
– Me sinto privilegiado. Hoje amanheceu um dia lindo, parecia um bom dia para o torcedor tomar uma cervejinha e ver o time dele. Não troco essa profissão por nada. O sentimento é de dever cumprido depois do dia de hoje. É gostoso demais quando conseguimos isso dentro das nossas convicções. Essa tarde, quase noite já, vai ficar marcada para minha história. Não sei o que vai acontecer. Mas quando eu lembrar de 2025, vou lembrar desse jogo, desse elenco. Com certeza foi um dia mágico. Entre vitórias e derrotas, sete vitórias que ajudaram o Vitória a ficar na Série A.
Mudanças no intervalo
– A gente sabia que o tempo era cada vez menor. As principais ações ofensivas do São Paulo eram no contra-ataque, e a gente tinha o Camutanga amarelado. Então trouxemos o Willian para a construção. E o Dudu foi para dar gás, é um jogador identificado com o Barradão. Fizemos mudança para ganhar mais força, mais fôlego. Gostei do primeiro tempo, mas preservei um atleta amarelado.
Como se define? Pode dançar?
– Já dancei muito. Me marca nos vídeos que eu vou repostar. Não tenho como me definir em uma palavra. Eu fui auxiliar, né?! Estou com meus dois auxiliares aqui, sem eles eu não sou nada. Nosso salário é por pacote, quanto menos auxiliar eu tiver, mais eu ganho. Mas sem esses dois eu não sou nada. Estou com eles desde 2012. Então não posso falar de mim sem falar deles. Estou sempre crescendo e preciso deles. Teve também todo o staff que nos abraçou aqui, um ambiente muito leve, agradável. Hoje a declaração de Osvaldo antes do jogo foi a coisa mais linda, e ele nem entrou em campo. Esse é nosso trabalho, é trazer todo mundo para o projeto.
Reconhecimento pelo trabalho
– É falar sobre gestão, é difícil, dá trabalho, mas me dá muito orgulho. Tenho orgulho de recuperar atletas, de potencializar eles. Pedro Raul, Bruno Silva, Coutinho, Baralhas, extrair o máximo desses atletas é muito gratificante para a gente. São dez anos de treinador e dez anos de auxiliar.
Construção do gol e marcação pressão
– Algumas equipes montadas com pouco investimento tentaram ter posse e controle de jogo. Você tem que saber. Hoje, contra o São Paulo, conseguimos jogar mais, contra o Ceará conseguimos propor. Contra o Palmeiras só nos defendemos. Se eu tentar propor contra o Palmeiras a goleada vai acontecer. O treinador tem que saber esses limites. A gente veio fazendo um 3-4-3, mas hoje jogou diferente, principalmente depois da entrada do Fabri.




