Em reunião ministerial, Lula reforça críticas à guerra em Gaza e a Trump: ‘Não seremos subalternos’

 Foto: Reprodução/ CanalGov

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reuniu na manhã desta terça-feira (26), no Palácio do Planalto, sua equipe de ministros para projetar a entrega de ações consideradas prioritárias pelo governo.

Na abertura da reunião, que foi transmitida pela imprensa, o presidente reforçou críticas à guerra em Gaza, e também ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (leia mais abaixo).

O presidente e seus ministros usavam bonés da cor azul com a frase: “O Brasil é dos brasileiros”.

“Somos um país soberano, temos uma Constituição, temos uma legislação, quem quiser entrar nesses 8,5 milhões de quilômetros quadrados, no nosso espaço aéreo, no nosso espaço marítimo, nas nossas florestas, tem que prestar contas à nossa Constituição e à nossa legislação”, afirmou.

“Esse homem aqui [Alckmin], aquele homem ali que é o Haddad, aquele ali que é o Mauro Vieira, estão 24 horas por dia à disposição de negociar com quem quer que seja, o assunto que for, sobretudo na questão comercial”, completou.

Segundo Lula, o Brasil está disposto a sentar na mesa “em igualdade de condições”.

“O que não estamos dispostos é sermos tratados como se fôssemos subalternos. Isso nós não aceitamos de ninguém”, prosseguiu.

Trump e ‘big techs’

Lula mais uma vez criticou o presidente dos EUA, Donald Trump, por causa da guerra tarifária em curso.

“[Trump] tem agido como se fosse o imperador do planeta terra. É uma coisa descabida, mas ele continua fazendo ameaças ao mundo inteiro”, afirmou Lula.

O presidente citou que Trump ameaça quem tenta adotar medidas contra as grandes empresas de tecnologia, as chamadas “big techs”.

Lula, que pretende enviar ao Congresso um projeto de regulação das “big techs”, afirmou que o Brasil é “soberano” e que empresas estrangeira devem respeitar a legislação local.

O presidente também lamentou a suspensão do visto do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, pelos EUA. Segundo ele, foi um “gesto irresponsável”.

Segundo o Ministério da Justiça, até o momento, o Lewandowski não foi notificado oficialmente sobre a medida.

Israel e Faixa de Gaza

No discurso, Lula voltou a afirmar que Israel comete um genocídio contra os palestinos na Faixa de Gaza. O conflito na região foi iniciado após um ataque terrorista do Hamas no território israelense, há quase dois anos. À época, o Brasil condenou o ataque.

“Temos a continuidade do genocídio na Faixa de Gaza, que não para, todo dia mais gente morre”, declarou Lula.

Segundo o presidente, crianças que passam fome são “assassinadas como se fossem do Hamas” pelas tropas israelenses.

A declaração acontece em meio ao aumento de tensão entre os dois países.

🔎 Na segunda-feira (25), o Ministério das Relações Exteriores israelense anunciou que vai “rebaixar” as relações diplomáticas com o Brasil após o Itamaraty “ignorar” a indicação de um novo embaixador em Brasília. Em resposta, o assessor de Assuntos Internacionais da Presidência, Celso Amorim, disse que a indicação não foi ignorada.

🔎 E nesta terça-feira (26), o ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, chamou Lula de antissemita “apoiador do [grupo terrorista] Hamas” e o associou ao líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei.

Ucrânia e Rússia

Lula também afirmou que a guerra entre Ucrânia e Rússia “está para chegar ao final” e que há uma preocupação entre os principais atores, como EUA e União Europeia, sobre quem ficará com a dívida do conflito.

“Eu acho que tanto o presidente [Vladmir] Putin e quanto o presidente [Volodymyr] Zelensky já sabem o limite de onde vai essa guerra, a Europa já sabe o limite, Trump já sabe o limite. Então eu acho que estão apenas aguardando o momento que eles tenham coragem de anunciar o fim dessa guerra. Na verdade, eu acho que preocupação maior é quem vai ficar com a dívida da guerra”, afirmou o presidente.

‘Traidores da pátria’

Lula voltou a criticar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP).

O parlamentar está desde março nos EUA, onde articula com autoridades locais medidas para interferir no julgamento do pai, réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe.

Lula voltou a classificar Eduardo como um traidor da pátria e disse que ele já deveria ter sido cassado pela Câmara dos Deputados.

“O que está acontecendo hoje no Brasil com a família do ex-presidente e com o comportamento do filho dele nos EUA é, possivelmente, uma das maiores traições que uma pátria sofre de filhos seus”, disse.

“Não conheço na história desse país algum momento em que um traidor da pátria teve a desfaçatez de mudar para o país, que ele está adotando como pátria, negando a sua pátria e tentando insuflar o ódio de alguns governantes americanos contra o povo brasileiro”, acrescentou.

Lula ainda orientou seus ministros a destacarem a defesa da soberania do país em declarações públicas e entrevistas.

“Se a gente gostasse de imperador, a gente não tinha acabado com o Império”, afirmou.

Equipe de ministros

Atualmente, Lula tem 38 ministros e planeja executar projetos em diferentes áreas até o final de 2026, quando se encerra o atual mandato do presidente.

Entre as prioridades estão a aprovação pelo Congresso do projeto que isenta de Imposto de Renda quem ganha até R$ 5 mil mensais e o avanço de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

O governo também monitora e adota mediadas para compensar os impactos do tarifaço para entrada de produtos brasileiros nos EUA.

Lula e ministros intensificaram a busca por novos mercados diante da dificuldade de negociação com o governo americano.

A reunião desta terça foi o segundo encontro ministerial de 2025, convocado a pouco mais de um ano da corrida presidencial de 2026. No próximo ano, Lula deve tentar a reeleição e o inédito quarto mandato.

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