
O encontro no Alasca entre Donald Trump e Vladimir Putin foi um daqueles momentos que entram para a história não pelo que se decidiu, mas pelo que se insinuou. Não houve acordo, não houve cessar-fogo, não houve nada de concreto. Mas, cuidado: às vezes, o silêncio fala mais alto que mil comunicados oficiais.
Putin não precisava de muito. Apenas posar ao lado de Trump, em solo americano, já foi uma vitória. O homem acusado de crimes de guerra, isolado pela maioria do Ocidente, agora é recebido como um “parceiro de diálogo”. Isso é mais do que ele poderia sonhar há um ano. Foi como sair do banco dos réus direto para a mesa de negociações.
E Trump? Ah, Trump nunca joga sem pensar em si mesmo. Ele quer a imagem de “pacificador pragmático”, aquele que ousa fazer o que os outros líderes não têm coragem. Mas essa ousadia tem um preço. Ao insinuar que a Ucrânia deveria “fazer um acordo” e ceder territórios, Trump legitima a ideia de que quem tem força bruta pode redesenhar mapas à vontade. Que mensagem é essa para o mundo? É o manual da lei do mais forte reeditado em horário nobre.
E onde estava a Ucrânia nessa conversa? Do lado de fora. Zelensky virou figurante da própria tragédia nacional. O recado é brutal: os donos do jogo estão em Washington e Moscou, e Kiev que aguente o que vier.
Este encontro pode não ter trazido assinaturas em papel, mas trouxe algo ainda mais perigoso: a normalização de Putin e o risco de a Ucrânia ser vendida em pedaços, como quem negocia um terreno de esquina.
Trump saiu de lá sorrindo, Putin saiu de lá fortalecido. E o mundo? Saiu mais inseguro. Porque quando se naturaliza o poder do tanque sobre a soberania de um país, o próximo mapa a ser redesenhado pode não estar tão longe de nós.
Por| Alenilton Malta
