Putin pediu a Trump regiões de Donetsk e Lugansk em troca de fim da guerra

Foto: ANDREW CABALLERO-REYNOLDS / AFP

O presidente russo, Vladimir Putin, ofereceu terminar a guerra em troca de ficar com dois dos territórios ucranianos que atualmente ocupa: os de Donetsk e Lugansk, no leste da Ucrânia.

A oferta foi feita por Putin ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, durante o encontro entre os dois líderes na sexta-feira (15), segundo a agência de notícias Reuters e o jornal “The New York Times”, com base em fontes das negociações

A oferta é a primeira medida concreta que se conhece da reunião entre Putin e Trump, que terminou sem um acordo de cessar-fogo nem propostas oficiais.

Segundo as reportagens, a Rússia estaria disposta a abdicar de todos as outras regiões que atualmente ocupa militarmente na Ucrânia — cerca de 20% do total do territorio ucraniano. Para isso, o governo ucraniano teria de aceitar que os distritos de Donetsk e Lugansk se tornem parte da Rússia.

Os dois distritos, que juntos compõem a região do Donbass, no leste da Ucrânia e na fronteira com o sudoeste da Rússia, no Donbass onde fica o maior movimento de separatista pró-Rússia da Ucrânia.

Antes mesmo da guerra, Putin já reivindicava a região, alegando que a área seria parte de terras ancestrais ucranianas que integrariam originalmente o território russo. Em 2022, apenas três dias antes de a guerra na Ucrânia começar, o líder russo assinou um decreto reconhecendo o Donbass como territórios independentes.

O governo ucraniano ainda não havia se pronunciado sobre a suposta proposta de Putin até a última atualização desta reportagem.

Mas, segundo a rede de TV norte-americana Fox News, Trump já comunicou a proposta a Zelensky.

Em uma entrevista à emissora, o presidente dos EUA disse que o ucraniano deveria aceitar a proposta de Putin porque “a Rússia é uma grande potência e eles [ucranianos], não”. Quando questionado se daria algum conselho ao líder ucraniano, respondeu: “Faça o acordo. Você precisa fazer o acordo”.

Em declarações recentes, Zelensky tem dito que não abrirá mão de nenhum território ucraniano.

Putin: conversa foi ‘sincera e substancial’

Também neste sábado, Vladimir Putin disse que o diálogo com Trump na sexta-feira foi “sincero e substancial”.

Putin afirmou ainda que respeita “a posição dos Estados Unidos e também quero terminar o conflio de forma pacífica”.

Trump descarta cessar-fogo

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, classificou neste sábado (16) de “ótimo” e “bem-sucedido” o encontro que teve na sexta-feira (15) com o presidente da Rússia, Vladimir Putin.

diminuiu a importância de um acordo de cessar-fogo, que não foi alcançado na reunião — antes da cúpula, Trump disse que sairia desapontado caso não houvesse acordo. O presidente dos EUA disse que agora mira em um acordo de paz.

“A reunião com o presidente Vladimir Putin, da Rússia, correu muito bem, assim como um telefonema noturno com o presidente Zelensky, da Ucrânia, e vários líderes europeus, incluindo o respeitado secretário-geral da OTAN. Todos decidiram que a melhor maneira de pôr fim à terrível guerra entre a Rússia e a Ucrânia é chegar diretamente a um acordo de paz, que poria fim à guerra, e não a um mero acordo de cessar-fogo, que muitas vezes não se sustenta”, disse Trump em publicação na sua rede social Truth Social na manhã do sábado.

Na postagem, ele também confirmou uma reunião bilateral com Zelensky na segunda-feira (18) na Casa Branca. O anúncio foi feito por Zelensky na madrugada deste sábado (16).

A reunião, segundo os dois lados, vai tratar dos próximos passos na tentativa de colocar um fim na guerra da Ucrânia, depois de o encontro entre norte-americano e Putin terminar sem acordo.

Não havia informações, até a última atualização desta reportagem, se líderes europeus ou ainda o próprio Putin participaria do encontro na segunda-feira. Em nota publicada no X, o presidente ucraniano disse que cogita uma reunião entre Rússia, Ucrânia e Estados Unidos.

“Apoiamos a proposta do presidente Trump para uma reunião trilateral entre Ucrânia, EUA e Rússia. A Ucrânia enfatiza que questões-chave podem ser discutidas diretamente entre os líderes, e o formato trilateral é adequado para isso”, disse Zelensky.

“Na segunda-feira, me encontrarei com o presidente Trump em Washington, D.C., para discutir todos os detalhes sobre o fim dos assassinatos e da guerra. Sou grato pelo convite”.

Na sexta-feira (15), após reunir-se com Putin, Trump ligou para Zelensky e líderes da Otan.

O telefonema durou uma hora e teve a presença de outros sete líderes europeus, incluindo o chanceler da Alemanha, Friedrich Merz, o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, o presidente da Finlândia, Alexander Stubb, o presidente da Polônia, Karol Nawrocki, e o presidente da França, Emmanuel Macron.

“Muitos pontos foram acordados. Restam apenas alguns poucos – alguns não são tão significativos. Um é provavelmente o mais significativo. Ainda não chegamos lá, mas fizemos algum progresso. Há boas chances de chegar lá. Putin quer parar de ver pessoas serem mortas”, disse Trump, sem entrar em detalhes.

Sem acordo

A reunião entre Putin e Trump desta sexta-feira, que durou três horas, começou às 16h30 no horário de Brasília, após os dois protagonizarem um cumprimento efusivo após chegarem ao Alasca.

Essa foi a primeira cúpula entre os EUA e a Rússia desde o início da guerra na Ucrânia, em fevereiro de 2022, e o primeiro encontro a sós entre os dois líderes desde 2018.

Com sorrisos no rosto, os dois se cumprimentaram e tiraram fotos para a imprensa antes de se encaminharem para a base militar Elmendorf-Richardson, em Anchorage, palco da reunião.

Bombardeado de perguntas por jornalistas, Putin protagonizou um momento engraçado: atordoado, fez caras e bocas e acabou virando meme.

Em pronunciamento rápido, ambos trocaram elogios. Putin foi o primeiro a falar, agradeceu o convite de Trump e chamou a conversa de “construtiva”, mas apontou a necessidade de as preocupações da Rússia serem levadas em conta.

“A Ucrânia foi um dos principais tópicos. Vemos o desejo de Trump de entender a essência do conflito e estamos sinceramente interessados em acabar com ele, mas todas as causas fundamentais devem ser eliminadas, e todas as preocupações da Rússia devem ser levadas em conta. Concordo com Trump que a segurança da Ucrânia deve ser garantida. Espero que a compreensão mútua traga paz à Ucrânia”, declarou.

O russo também afirmou que os dois países conversaram sobre parcerias comerciais: “A parceria de investimento entre Rússia e Estados Unidos tem enorme potencial. Esperamos que a Ucrânia e a Europa não tentem sabotar as negociações. Esperamos que os acordos de hoje sirvam de ponto de partida para a restauração das relações entre nossos países”.

Depois de Putin foi a vez de Trump se pronunciar. Ele afirmou que ainda não há um acordo de cessar-fogo para a guerra, mas que a reunião foi “muito produtiva” e que ele e o presidente russo concordaram “na maioria dos pontos”.

Putin, então, encerrou a coletiva convidando o americano a ir à Rússia para o próximo encontro.

“Da próxima vez em Moscou”, disse em inglês.

Em declaração à TV estatal russa, o enviado especial russo, Kirill Dmitriev, disse que as negociações ocorreram “notavelmente” bem.

Embora tenham trocado críticas e ameaças nos últimos meses, tanto Trump como Putin sinalizaram, na véspera da reunião desta sexta, estar esperançosos com o resultado.

O líder russo elogiou os “esforços sinceros” de Washington para solucionar a guerra na Ucrânia e disse achar que o cara a cara com Trump pode selar a “paz mundial”. Mas ponderou que isso só ocorrerá caso haja um acordo para restringir o uso de armas estratégicas, incluindo as nucleares.

Trump também enviou mensagens dúbias nos últimos dias: se mostrou esperançoso e disse que “acho que ele (Putin) fará um acordo”, mas admitiu que “nada está garantido. Será como uma partida de xadrez“.

Segundo o Instituto para o Estado da Guerra (ISW, na sigla em inglês), Moscou controla militarmente cerca de 20% de todo o território ucraniano.

E nenhum dos lados sinalizou querer abrir mão dessas regiões.

Alenilton

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