
Enfim, chegou o dia. Um dia que ele mesmo construiu — passo a passo, afronta a afronta. Na manhã de hoje, o ex-presidente Jair Bolsonaro amanheceu sob uma nova realidade: por determinação do ministro Alexandre de Moraes, está obrigado a usar tornozeleira eletrônica. A medida faz parte de um conjunto de ações tomadas diante de indícios graves que apontam para tentativa de obstrução de justiça e possível planejamento de fuga.
A Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão em sua residência, recolhendo documentos, pen drives e cerca de 14 mil dólares em espécie. Para o STF, há elementos suficientes para justificar a cautela. O cerco apertou. E a imagem do ex-presidente, que já vinha desgastada, agora assume contornos de um projeto político desmoronado.
Desde que deixou o cargo, Bolsonaro não recuou um centímetro nos ataques às instituições, especialmente ao Supremo Tribunal Federal. Seguiu alimentando uma narrativa de conflito permanente, colocando um poder contra o outro — uma estratégia que, a longo prazo, só serviu para isolar ainda mais a direita que ele representa.
Para piorar, Eduardo Bolsonaro, seu filho e deputado federal, partiu para os Estados Unidos em meio à crise, em uma tentativa — talvez desesperada — de internacionalizar a narrativa da perseguição. Chamou atenção, mas não causou efeito algum entre as democracias consolidadas. Pelo contrário: só agravou a imagem de uma direita que parece ter perdido completamente o rumo.
A fragmentação da direita bolsonarista é visível. Não há unidade, não há projeto, não há credibilidade. E, diante disso, 2026 parece cada vez mais distante para esse grupo político. Com Lula crescendo nas pesquisas e consolidando apoios nos estados, inclusive com governadores fortalecidos, a tendência é de uma reeleição com menos resistência do que se imaginava há alguns meses.
A esquerda, por sua vez, aproveita o vácuo. Volta a protagonizar o cenário político com mais firmeza, menos ruído, e, sobretudo, com legitimidade institucional. O país assiste, mais uma vez, a um ciclo se encerrar. Resta saber se haverá algum tipo de renascimento à direita — ou se estamos diante de uma morte política anunciada.
Por| Alenilton Malta
