
Em tempos de polarização política e intensa disputa de narrativas, entender as raízes e os significados das ideologias que movem os partidos — tanto de direita quanto de esquerda — nunca foi tão necessário. O debate sobre o liberalismo é central nessa discussão, mas muita gente ainda se confunde com os termos.
Afinal, o que é liberalismo econômico? E o que é liberalismo de costumes? Por que, muitas vezes, a direita política defende um, mas rejeita o outro?
Origens do Liberalismo: Um Único Conceito Que Ganhou Múltiplas Faces
O liberalismo nasceu na Europa entre os séculos XVII e XVIII, com pensadores como John Locke, Montesquieu e, mais tarde, Adam Smith. Seu objetivo era claro: limitar o poder do Estado, garantir liberdades individuais e promover a livre iniciativa no campo econômico.
No século XIX, o liberalismo era uma bandeira tanto contra as monarquias absolutistas quanto contra o controle excessivo da economia pelos reis e pela Igreja. Era, ao mesmo tempo, um liberalismo político, econômico e moral.
Mas com o passar do tempo, essas três frentes começaram a se separar.
💰 Liberalismo Econômico: Mercado Livre Acima de Tudo
O liberalismo econômico defende que o Estado deve intervir o mínimo possível na economia. Acredita que a livre concorrência, a propriedade privada e a iniciativa individual são os motores do progresso. Quem defende essa ideia acredita que o mercado deve ser o principal organizador da sociedade: menos impostos, menos regulações, mais liberdade para empreender.
Hoje, essa visão é amplamente adotada por partidos de direita em diversas partes do mundo — principalmente pela direita econômica. No Brasil, por exemplo, o PL (Partido Liberal) e setores do NOVO são fortemente identificados com esse modelo.
🌈 Liberalismo de Costumes: Liberdade para Ser Quem Se É
O liberalismo de costumes (ou liberalismo social) diz respeito à liberdade individual nas escolhas pessoais, comportamentais e culturais. É a defesa do direito de cada pessoa viver como quiser, com autonomia sobre seu corpo, sua identidade, sua fé e sua orientação sexual.
Quem defende esse tipo de liberalismo costuma apoiar: legalização de drogas leves; direitos LGBTQIA+;descriminalização do aborto; liberdade religiosa; combate ao racismo estrutural; estado laico. Essa visão é mais comum na esquerda moderna e em setores da centro-esquerda e da centro-direita progressista no mundo ocidental.
Por Que a Direita Adotou o Liberalismo Econômico Mas Rejeitou o Liberalismo de Costumes?
A partir do século XX, especialmente com o avanço das pautas feministas, LGBTQIA+ e antirracistas, muitos setores da direita passaram a ver o liberalismo de costumes como uma ameaça aos valores tradicionais, principalmente os valores cristãos e familiares. Assim, a direita conservadora abraçou o livre mercado, mas rejeitou a liberdade comportamental.
Nos Estados Unidos, por exemplo, o Partido Republicano se tornou referência de uma direita que defende armas, religião, mercado livre e moral conservadora — e esse modelo influenciou fortemente partidos como o PL brasileiro, com a chegada de Jair Bolsonaro.
Já a esquerda, historicamente mais ligada aos direitos sociais e à igualdade, passou a incorporar também a defesa das liberdades civis e individuais.
E a Esquerda? Onde Fica Nessa História?
A esquerda tradicionalmente defende maior intervenção do Estado na economia para garantir justiça social, redistribuição de renda e direitos universais. Mas, a partir da segunda metade do século XX, também passou a incorporar a defesa das liberdades de costumes, criando uma aliança entre progressismo social e justiça econômica.
No Brasil, o PT e partidos como PSOL e Rede representam essa corrente.
A Liberdade Que Serve a Quem?
O uso do termo “liberal” pode parecer o mesmo, mas os significados variam radicalmente dependendo do campo ideológico. A direita, em muitos casos, é liberal na economia, mas conservadora nos costumes. A esquerda, por sua vez, tende a ser progressista nos costumes e intervencionista na economia.
Entender essas diferenças é essencial para fazer escolhas políticas mais conscientes. Afinal, a liberdade não é um valor absoluto — ela depende sempre de quem a exerce, para quê, e sobre quem.
Por| Alenilton Malta
