
A entrevista do novo presidente do PT, Edinho Silva, ao JOTA, junto com as falas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e da ministra do Planejamento, Simone Tebet, nesta terça deixaram claro que a tônica de cobrar taxação dos mais ricos e redução de privilégios tributários será crescente, enquanto a agenda do lado dos gastos tende a ser algo mais residual neste mandato.
Para Edinho, em entrevista aos analistas de política do JOTA Naira Trindade e Fabio Murakawa, ainda que seja importante “revisar” despesas, o desafio maior é reduzir renúncias tributárias que agora o governo estima em mais de R$ 800 bilhões — mesmo que nessa conta estejam itens que não serão enfrentados, como Simples, Zona Franca de Manaus e cesta básica.
Embora assuma o comando do PT com fama de conciliador e defendendo que se busque reeditar a frente ampla de 2022, fica clara a continuidade da aposta no lado da arrecadação para fechar as contas e sustentar as políticas sociais defendidas pelo petismo, a despeito das críticas ao aumento de carga tributária pelas forças políticas de centro e de direita.
Atlas anima governismo
A pesquisa Atlas, divulgada nesta terça-feira (8/7), deu indícios de que a estratégia de confronto no tema da desigualdade tributária começou a surtir efeitos na percepção sobre o governo, que teve ganho de aprovação, e reduziu significativamente a percepção negativa sobre a imagem de Haddad.
O chefe da Fazenda voltou a dizer que os níveis de gastos tributários no Brasil são “absurdos” e que a hora é de enfrentar essa questão para ajudar a cumprir a meta fiscal dos próximos anos. Em entrevista ao Metrópoles, Haddad também comentou sobre o barulho do 1% mais rico contra a agenda que busca taxar as rendas mais altas para desonerar os mais pobres e a classe média.
Tebet reforça defesa de taxação de ricos
Um pouco mais sumida do debate econômico recente, a ministra Simone Tebet voltou aos holofotes em audiência pública na Comissão Mista de Orçamento e também cerrou fileiras na disputa política pelo fim dos privilégios aos mais ricos.
“Estamos dizendo para aqueles que não pagam, ou pagam 3% ou 4%, que eles paguem 10%. Se isso não for justiça tributária, se isso for ser de esquerda, eu, que nunca fui de esquerda, tenho que me considerar de esquerda”, afirmou a ministra, cuja fala também teve repercussão positiva nas redes sociais, aproveitando a onda favorável ao governo.
Gastos: uma agenda de eficiência, não de corte
Apesar de os representantes do governo ainda mencionarem aqui e ali a necessidade de contenção de gastos (há intenção de conter despesas como Fundeb, FCDF e limitar crescimento de gastos de saúde e educação), fica claro que o espaço político para uma agenda mais ousada nesse campo é muito restrito, pelo menos no atual ciclo político.
Ainda que tenha colocado a agenda “ricos contra pobres” como uma “reação” ao Congresso, algo sobre o qual o governo não teria alternativa, o tom do novo presidente do PT mostra a convicção de que o caminho da disputa política deve mesmo se manter no campo tributário. E os próximos dias e semanas, com as negociações em torno da reforma do IR, do IOF e da MP 1303, devem dar bastante munição para o debate