
Durante séculos, o Brasil foi governado por uma elite que usava a fé como ferramenta de controle. No período da monarquia, o discurso dominante era de que a pobreza era fruto do pecado — uma visão reforçada por uma Igreja Católica profundamente aliada ao poder. O pobre era ensinado a aceitar sua miséria como parte do “plano divino”, enquanto os donos de terras e os senhores do poder viviam com a bênção e a cumplicidade do altar.
A Igreja Católica não apenas rezava com o povo, mas decidia com o rei. Durante muito tempo, ela teve papel decisivo na formação moral e política do país, sendo responsável, inclusive, por manter uma população submissa e culpada. Questionar a ordem era quase um pecado, e resistir ao sistema era visto como rebelião contra Deus.
Com a proclamação da República e, mais adiante, com a redemocratização do Brasil após a ditadura militar, muita gente lutou — e até morreu — para que tivéssemos o direito de escolher nossos representantes, de pensar livremente e de construir um país mais justo. A democracia brasileira é fruto de suor, sangue e resistência. Nada foi fácil.
Mas, apesar dos avanços, hoje vemos novas ameaças ao pensamento livre. As chamadas igrejas evangélicas neopentecostais vêm ocupando o vácuo deixado pela Igreja Católica. Não todas, claro, mas muitas delas se organizam como verdadeiros partidos políticos. Realizam leilões de apoio, vendem votos em troca de cargos e dinheiro, e manipulam a fé do povo com um discurso falso moralista. Falam em “Deus, pátria e família”, mas seus bastidores cheiram a acordos, mentiras e oportunismo.
O uso da fé como moeda eleitoral não é novo. O que muda é a roupagem. Hoje, a religião está na boca de quem promete milagres políticos, mas age como coronel dos tempos modernos. A democracia brasileira ainda é jovem e precisa ser protegida não só das balas e da fome, mas também das mentiras contadas em nome de Deus.
É preciso lembrar todos os dias: democracia se constrói com consciência, educação e verdade — não com barganhas religiosas e promessas do púlpito.
Por| Alenilton Malta
