
Vivemos hoje no Brasil um dos momentos mais tensos da relação entre os Três Poderes desde a redemocratização. A harmonia institucional prevista na Constituição virou ficção diante do jogo de chantagem instalado entre Legislativo e Executivo. O Congresso Nacional, que já atravessa uma das piores fases de produtividade e credibilidade, decidiu emparedar o governo em troca de emendas — as famigeradas “emendas ” pix ”, que viraram moeda de troca em vez de instrumento legítimo de investimento público.
É uma dicotomia grotesca: ao mesmo tempo em que parlamentares bradam por cortes de gastos, votam por mais repasses bilionários via emendas, pressionando o Executivo sob ameaça de paralisar pautas importantes para o país. Um falso moralismo que tenta vestir a capa de defensores do equilíbrio fiscal, enquanto esvaziam os cofres públicos para atender interesses locais e eleitorais.
O Executivo, por sua vez, parece ter acordado. Diante da paralisia imposta por um parlamento estagnado e cada vez mais refém de interesses fragmentados, o governo Lula ensaia uma reação: traz o povo para o centro da discussão, escancarando o boicote legislativo e expondo a verdadeira face de um Congresso que pouco entrega e muito cobra. Com isso, o Planalto ganha fôlego político e fortalece seu discurso para 2026, diante de uma população que começa a enxergar com mais clareza quem trava e quem tenta governar.
A crise é real. E está longe de ser apenas uma disputa entre poderes — é uma disputa sobre qual Brasil queremos construir: um país comandado pela barganha política ou por projetos de futuro. O jogo está exposto. Agora, o povo assiste — e, talvez, finalmente comece a cobrar.
Por| Alenilton Malta
