Como era o rosto de uma mulher que viveu 10 mil anos atrás?

 Foto: Kennis & Kennis Reconstructions

Uma equipe de cientistas e artistas reconstruiu o rosto de uma mulher que viveu há aproximadamente 10.500 anos no Vale do Meuse, na Bélgica. A imagem, criada a partir de DNA antigo bem preservado, mostra uma caçadora-coletora de cabelos escuros curtos, olhos azuis e pele mais clara do que a de outros indivíduos mesolíticos já estudados na Europa Ocidental.

Os restos mortais da mulher foram descobertos em 1988 na caverna de Margaux, próximo à cidade de Dinant, durante escavações arqueológicas. Ela foi enterrada ao lado de outras mulheres, uma prática incomum para a época, com seus ossos cobertos por fragmentos de pedra e pigmentos de ocre. Agora, décadas depois, avanços tecnológicos permitiram extrair e analisar seu material genético, revelando detalhes físicos e aspectos de seu estilo de vida.

Ainda sem nome, a mulher será batizada por votação pública até 30 de junho, com três opções inspiradas na região: Margo (referência à caverna de Margaux), Freyà (alusão à cordilheira Freyr) ou Mos’anne (derivado do Vale do Meuse). A partir de setembro, sua reconstrução fará parte de uma exposição itinerante por museus belgas, organizada pelo projeto ROAM (Regional Perspectives on Ancient Migrations), que estuda a ocupação humana pós-era glacial no norte da Europa.

Traços e origens

Os pesquisadores, liderados por Isabelle De Groote, arqueóloga da Universidade de Ghent, conseguiram determinar que a mulher tinha entre 35 e 60 anos ao morrer, com sobrancelhas proeminentes e ponte nasal alta. Além de descobrirem que seu DNA a conecta à mesma população de caçadores-coletores do famoso Homem de Chedda, encontrado na Inglaterra em 1903, que tinha pele escura e olhos azuis. No entanto, a pigmentação da mulher belga era ligeiramente mais clara, sugerindo maior diversidade na aparência desses grupos do que se imaginava.

“Até agora, a maioria das descobertas daquela época indicava uma pele mais escura”, explicou De Groote ao London Times. “Isso mostra que havia variação na pigmentação, possivelmente influenciada por dieta, migrações ou adaptações climáticas.”

 Foto: Vakgroep Archeologie/illustratie Ulco Glimmerveen

Com os artefatos encontrados no Vale do Meuse, como ferramentas de pedra, ossos de animais caçados e restos de peixes, os estudiosos notaram que o seu grupo era nômade, deslocando-se conforme a disponibilidade de recursos. A presença de estruturas como postes sugere acampamentos temporários.

Curiosamente, a caverna onde a mulher foi enterrada parece ter sido usada por séculos, indicando que, apesar do nomadismo, aquela comunidade retornava a locais específicos para rituais funerários. “Eles tinham lugares de memória, mesmo com um estilo de vida itinerante”, destacou De Groote à CNN.

Reconstrução tecnológica

A reconstrução facial foi feita pelos artistas holandeses Kennis & Kennis, conhecidos por trabalhos similares, como o do Homem de Cheddar. Já a cena digital que retrata seu cotidiano foi criada por Ulco Glimmerveen, baseada em dados arqueológicos, como conchas, pigmentos e ferramentas da época, de acordo com comunicado.

Além de revelar um rosto do passado distante, a pesquisa reforça a complexidade das populações mesolíticas e abre caminho para novas investigações sobre parentesco, dieta e migrações desses primeiros europeus.

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