
O governo do presidente argentino, Javier Milei, classificou a greve geral desta quinta-feira como um “ataque à República”. Convocada pela Confederação Geral do Trabalho (CGT), a maior central sindical da Argentina, a paralisação é a terceira desde que o líder ultraliberal assumiu a Casa Rosada em dezembro de 2023 e marca uma deterioração no clima social após dezenas de milhares de demissões e 15 meses consecutivos de queda no consumo. Sua adesão, porém, foi parcial.
“Ataque à República. A casta sindical atenta contra milhões de argentinos que querem trabalhar. Se te extorquirem ou te obrigarem a parar, denuncie”, diz a mensagem divulgada pelo governo nas estações de trem.
As reações dos ministros e outras autoridades do governo foram surgindo ao longo do dia após o Executivo realizar, mais cedo nesta quinta-feira, uma reunião de Gabinete. Um dos primeiros a comentar, o presidente da Câmara dos Deputados, Martín Menem, escreveu no X:
“Hoje se trabalha”. Pouco antes, na mesma plataforma, ele havia publicado outra mensagem na qual afirmou que “nunca uma greve trouxe qualquer benefício para a sociedade como um todo”.
Por sua vez, a ministra da Segurança Nacional, Patricia Bullrich, publicou uma mensagem nas redes sociais afirmando que “as ruas já não pertencem aos que pressionam, mas aos que trabalham”:
“As marchas multitudinárias e greves ficaram para trás. Hoje, os argentinos escolhem o esforço e apoiam um governo que faz o necessário para tirar o país do buraco”, acrescentou a ministra, que compartilhou imagens do operativo policial realizado na quarta-feira durante um protesto de aposentados apoiado por numerosos sindicatos.
Milei, usuário frequente do X, não publicou nenhuma opinião própria sobre a greve, mas compartilhou várias mensagens contrárias à paralisação, entre elas as do deputado de seu partido (A Liberdade Avança, de ultradireita), Bertie Venegas Lynch:
“Um sindicato deve oferecer serviços de representação em regime de concorrência. O trabalhador escolhe quem o representa ou se prefere não ser representado. É preciso acabar com esses monopolistas repugnantes que usam trabalhadores como escravos para pagar seus Audis e comer caviar há mais de 80 anos”, declarou o parlamentar.
Após acompanhar ontem a manifestação semanal dos aposentados, a CGT realiza nesta quinta-feira uma greve para reivindicar negociações salariais livres, homologação de acordos coletivos de trabalho, aumento das aposentadorias e pensões, assim como a atualização de bônus e a liberdade de protestar sem repressão policial, publicou a EFE.
A paralisação se estenderá por 24 horas em todo o país e afetará principalmente o transporte, já que conta com a adesão dos sindicatos ferroviários, do metrô e dos táxis. No entanto, os ônibus funcionam normalmente — embora com grande demanda — em Buenos Aires, já que a União Tranviários Automotor (UTA) decidiu não aderir à greve.
O transporte aéreo opera com 45% de sua capacidade, com os controladores aéreos mantendo serviços mínimos por se tratar de uma atividade essencial. A companhia aérea estatal Aerolíneas Argentinas cancelou mais de 250 voos, prejudicando mais de 20 mil passageiros.
— A greve é maciça, todos os escritórios estão fechados — disse Rodolfo Aguiar, secretário geral da Associação dos Trabalhadores do Estado, à estação de rádio La Red. — É a medida de força mais consensual em rejeição às políticas do governo nacional.
Na quarta-feira, a Casa Rosada minimizou a greve, que descreveu como “política” e que acredita que “exporá a casta”, o termo usado por Milei para rotular aqueles que se opõem às suas políticas.