A apresentadora e atriz Regina Casé está em Salvador desde sábado (4). Nas redes sociais, ela contou que a primeira parada pós desembarque foi o terreiro Ilé Ìyá Omi Àṣẹ Ìyámase, conhecido popularmente como Gantois, no bairro da Federação.
“A gente chega na Bahia nem vai em casa… vem direto pra essa Casa que há 38 anos é nossa também 🤍 A gente corre pra esse colo de amor, de cuidado, de proteção… Mãe Carmen além de sábia e poderosa Iyalorixá e sua filha Mãe Angela, zelosa e dulcíssima Iyakekerê são extensão da nossa família…” escreveu Regina na legenda de um carrossel de fotos.
Nas imagens, ela aparece ao lado da filha, Benedita Casé Zerbini, do genro, o fotógrafo João Pedro Januário, dos netos, da design Manuela Leal, dos cantores Rubel e Xande de Pilares, com a esposa Thay Pereira, e o roteirista e diretor de cinema Estevão Ciavatta. Todos estavam com roupas brancas.
Mãe Carmen, atual ialorixá da casa e a filha dela, Mãe Ângela, reverenciadas por Regina, também estão nos registros.
“Quantas lembranças ontem à noite… quantos risos, quantas lágrimas de 1986 pra cá… Um dia conto pra vocês a primeira vez que vim aqui chamada por Mãe Menininha… Nem sei como agradecer a maneira tão carinhosa como sempre recebem nossos amigos e amores…A força do Gantois continua lá!”, declarou a artista.
Depois da visita, o grupo passeou pelo Centro Histórico e jantou em um restaurante de culinária espanhola no bairro boêmio do Rio Vermelho, na orla da capital baiana.
Terreiro do Gantois
Fundado em 1849 pela nigeriana Maria Júlia da Conceição Nazareth, o Terreiro do Gantois é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) desde 2002. O local leva esse nome por ter sido construído em um terreno que pertencia a um traficante de escravizados belga, Édouard Gantois, que arrendou as terras à negra liberta.
O terreiro é um dos mais tradicionais de matriz africana em todo o país e é frequentado por famosos como Caetano Veloso e Gilberto Gil, além de Regina Casé.
Maria Escolástica da Conceição Nazaré, conhecida como Mãe Menininha, foi uma das principais articuladoras do término das restrições e proibições ao candomblé nos anos 30. Ela enfrentou perseguições, fez articulações religiosas, políticas e também abriu as portas do Gantois aos brancos e católicos, ganhando, por tudo isso, notoriedade nacional.
A ialorixá era bisneta de Maria Júlia e sucedeu a tia-avó Pulquéria Maria da Conceição em fevereiro de 1922. A natural sucessora, mãe de Menininha, morreu ainda durante o período de luto pela morte da então mãe de santo.
“Assumindo a direção do Gantois muito jovem, aos 28 anos, Mãe Menininha […] foi mãe, mulher, líder religiosa, tornando-se uma verdadeira instituição do Brasil”, afirma sua biografia oficial, divulgada pela administração do terreiro.
“Deixou ensinamentos de grande valia para a perpetuação da religiosidade de matriz africana na Bahia, com uma forte contribuição ao professar a fé, dando lições de poder, humildade e respeito.”
“A sua história se confunde com a própria história do candomblé no Brasil, pelo fato de ser oriunda de família de linhagem nobre africana, uma das responsáveis pela implantação do candomblé na Bahia”, prossegue a nota biográfica.
Mencionada em obras de Jorge Amado, canções de Caetano Veloso e Dorival Caymmi, em 1976 ela foi homenageada no carnaval carioca com o enredo da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel — de autoria de Arlindo Rodrigues (1931-1987), o samba foi interpretado por Elza Soares (1930-2022). Em 2017, foi a vez da agremiação paulistana Vai-Vai celebrar o legado de Mãe Menininha.
A líder religiosa morreu em Salvador, em 13 de agosto de 1986, de causas naturais, aos 92 anos de idade. Os filhos deixaram o quarto dela intacto, com objetos de uso pessoal e ritualísticos. O aposento foi transformado em um memorial.