Os buracos gigantes que escondem tesouros na China e estão ameaçados por invasão de turistas

 Foto: Xiqing Wang

Um casal se posiciona na borda de um penhasco íngreme de calcário.

Mais de 100 metros abaixo deles, fica um mundo perdido de florestas antigas, plantas e animais. Tudo o que eles conseguem ver é a densa copa das árvores, ao som das cigarras e aves que circundam os rochedos.

Por milhares de anos, este “poço do céu” – 天坑, tiānkēng, em mandarim – permaneceu inexplorado.

As pessoas tinham medo dos fantasmas e demônios que estariam escondidos na névoa que emerge das suas profundezas.

Mas drones e algumas pessoas corajosas desceram até aqueles locais, intocados desde o tempo dos dinossauros. Eles revelaram novos tesouros, transformando os poços gigantes da China em atrações turísticas.

A caverna

Um grito de satisfação ecoa quando Rui surge no ar, antes de começar a descida.

Para ela e Michael, este é apenas o início da aventura. Chegando ao interior da caverna, eles têm muito trabalho pela frente.

Depois de uma curta caminhada por um labirinto de estalactites, Michael desce para o escuro. O guia vasculha a área com lanternas, iluminando a rede de cavernas que se ergue sobre as nossas cabeças. Em seguida, ele dirige a luz para as passagens estreitas mais abaixo, onde, um dia, o rio escavou a rocha.

É para lá que nos dirigimos. Os guias precisam se esforçar para posicionar as cordas corretamente.

“Não sou uma pessoa de fazer muitos exercícios”, conta Michael. Suas palavras ecoam pela caverna.

A aventura é o ponto alto das duas semanas de férias do casal em Guangxi. Eles são de Xangai, a maior cidade da China, e este é o tipo de viagem que eles desejavam fazer durante os longos lockdowns da pandemia no país.

“Este tipo de turismo está cada vez mais presente na internet chinesa”, conta ele. “Vimos e parecia muito bom. Por isso, quisemos experimentar.”

Vídeos dos buracos gigantes de Guangxi viralizaram nas redes sociais. As arrojadas e divertidas proezas dos jovens geram uma fonte de receita muito bem-vinda em uma província que saiu recentemente da zona da pobreza.

Existem poucas terras agrícolas no relevo incomum e deslumbrante de Guangxi. E suas fronteiras montanhosas dificultam o comércio com o resto da China e o vizinho Vietnã.

Mas muitas pessoas visitam a região para conhecer suas belas vistas. Rios intocados e os imensos picos calcários de Guilin e Yangshuo, no norte da província, atraem mais de um milhão de turistas chineses todos os anos.

Imagens de Guangxi coberta pela névoa aparecem no verso da nota de 20 yuans.

Ainda assim, poucas pessoas já ouviram falar da aldeia de Ping’e, a mais próxima dos buracos gigantes. Mas isso já está mudando. O Irmão Fei conta que há um fluxo constante de visitantes mudando a vida das pessoas em Ping’e.

“O lugar costumava ser muito pobre”, ele conta. “Começamos a desenvolver o turismo e vieram muitos benefícios, como a construção das autoestradas. Ficamos muito felizes em saber que temos algo tão valioso por aqui.”

Mas existe o receio de que a receita do turismo possa se sobrepor às necessidades das pesquisas científicas.

A cerca de 50 km de Ping’e, foi construída uma plataforma de observação, anunciada como a mais alta do mundo. Ela fica sobre Dashiwei, o segundo poço mais profundo do planeta. Os turistas podem descer até 500 m de profundidade naquele “poço do céu”.

A caverna

Um grito de satisfação ecoa quando Rui surge no ar, antes de começar a descida.

Para ela e Michael, este é apenas o início da aventura. Chegando ao interior da caverna, eles têm muito trabalho pela frente.

Depois de uma curta caminhada por um labirinto de estalactites, Michael desce para o escuro. O guia vasculha a área com lanternas, iluminando a rede de cavernas que se ergue sobre as nossas cabeças. Em seguida, ele dirige a luz para as passagens estreitas mais abaixo, onde, um dia, o rio escavou a rocha.

É para lá que nos dirigimos. Os guias precisam se esforçar para posicionar as cordas corretamente.

“Não sou uma pessoa de fazer muitos exercícios”, conta Michael. Suas palavras ecoam pela caverna.

A aventura é o ponto alto das duas semanas de férias do casal em Guangxi. Eles são de Xangai, a maior cidade da China, e este é o tipo de viagem que eles desejavam fazer durante os longos lockdowns da pandemia no país.

“Este tipo de turismo está cada vez mais presente na internet chinesa”, conta ele. “Vimos e parecia muito bom. Por isso, quisemos experimentar.”

Vídeos dos buracos gigantes de Guangxi viralizaram nas redes sociais. As arrojadas e divertidas proezas dos jovens geram uma fonte de receita muito bem-vinda em uma província que saiu recentemente da zona da pobreza.

Existem poucas terras agrícolas no relevo incomum e deslumbrante de Guangxi. E suas fronteiras montanhosas dificultam o comércio com o resto da China e o vizinho Vietnã.

Mas muitas pessoas visitam a região para conhecer suas belas vistas. Rios intocados e os imensos picos calcários de Guilin e Yangshuo, no norte da província, atraem mais de um milhão de turistas chineses todos os anos.

Imagens de Guangxi coberta pela névoa aparecem no verso da nota de 20 yuans.

Ainda assim, poucas pessoas já ouviram falar da aldeia de Ping’e, a mais próxima dos buracos gigantes. Mas isso já está mudando. O Irmão Fei conta que há um fluxo constante de visitantes mudando a vida das pessoas em Ping’e.

“O lugar costumava ser muito pobre”, ele conta. “Começamos a desenvolver o turismo e vieram muitos benefícios, como a construção das autoestradas. Ficamos muito felizes em saber que temos algo tão valioso por aqui.”

Mas existe o receio de que a receita do turismo possa se sobrepor às necessidades das pesquisas científicas.

A cerca de 50 km de Ping’e, foi construída uma plataforma de observação, anunciada como a mais alta do mundo. Ela fica sobre Dashiwei, o segundo poço mais profundo do planeta. Os turistas podem descer até 500 m de profundidade naquele “poço do céu”.

“Deveríamos proteger melhor estes habitats”, lamenta Lina Shen, uma das principais pesquisadoras dos buracos gigantes da China. “Os buracos são paraísos para muitas espécies vegetais raras e ameaçadas. Estamos sempre fazendo novas descobertas.”

Estudando os buracos gigantes, os cientistas também esperam descobrir como a Terra mudou ao longo de dezenas de milhares de anos e compreender melhor o impacto das mudanças climáticas.

Pelo menos um buraco de Guangxi já foi fechado aos turistas, para proteger variedades únicas de orquídeas.

“O desenvolvimento excessivo pode causar imensos danos. Devemos preservar o estado ecológico original”, orienta Shen. Para ela, a solução é procurar o equilíbrio.

“Balões de ar quente, drones para fotografia aérea e caminhos apropriados para observação à distância poderão permitir que os turistas observem os buracos detalhadamente, mas à distância, perturbando os organismos ao mínimo possível.”

O Irmão Fei não discorda. Ele insiste que existem “regras claras” para proteger os poços gigantes e sua riqueza natural.

Para ele, os buracos são uma descoberta valiosa que mudou a sua vida. Hoje, ele é um dos mais qualificados alpinistas de Guangxi, reconhecido como guia para turistas e cientistas. Fei Ge conta que é “muito feliz” por isso.

Enquanto atravessamos hectares de florestas verdejantes no interior do poço, ele aponta para um rochedo mais acima. Fei nos aconselha a retornar na época das chuvas, para ver as cachoeiras que se formam por ali. Ele garante que vale a pena voltar para vê-las.

Rui e Michael preparam as cordas, incentivando um ao outro a fazer rapel mais para dentro da caverna. Tudo o que se consegue enxergar abaixo deles é um abismo estreito, iluminado pela lanterna. É tudo o que resta do leito do rio, que catalisou o surgimento do poço.

“Precisamos encontrar o equilíbrio entre esta alegria e a proteção deste lugar”, afirma Michael, olhando à sua volta.

Ele sorri e é lentamente levado para baixo, até desaparecer na caverna.

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