Com dificuldades para emplacar novos apadrinhados e maior concorrência no campo da direita, lideranças de igrejas evangélicas terão menos representantes nas Câmaras Municipais do Rio e de São Paulo no ano que vem. Na capital fluminense, aliados de lideranças como Silas Malafaia, R.R. Soares e Valdemiro Santiago ficaram de fora, enquanto a bancada ligada à Igreja Universal encolheu. À exceção de Malafaia, o cenário é parecido no Legislativo paulistano.
Líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo e um dos principais aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Malafaia diz ter apoiado 11 candidatos a vereador pelo país, dos quais oito se elegeram. A lista inclui nomes atrelados ao bolsonarismo, como Douglas Gomes (PL), em Niterói, e apadrinhados por outras lideranças, caso de Gilberto Jr. (PL), em São Paulo.
O maior revés ocorreu no Rio, onde Malafaia optou por lançar o cantor gospel Waguinho (PL) no lugar de seu antigo representante, Alexandre Isquierdo (União). Além da ligação com Malafaia, Isquierdo, que estava no terceiro mandato consecutivo, mantinha redutos eleitorais em outros segmentos, inclusive em torcidas organizadas de clubes de futebol. Com cerca de 9 mil votos, metade do que Isquierdo havia conseguido em 2020, Waguinho ficou de fora.
Na avaliação de Malafaia, a “guerra” travada contra Pablo Marçal (PRTB) em São Paulo o impediu de ajudar seu candidato a vereador no Rio.
— Tenho mais de 80 igrejas no Rio e não fui a nenhuma com ele. Se eu tivesse andado com ele, como sempre fiz, estaria eleito. Mas me desgastei por um bem maior, que era a derrota daquele farsante. Se fosse uma questão de o povo evangélico não estar entendendo a liderança, era para eu não eleger ninguém — argumentou Malafaia.
No caso da Igreja Universal, duas tentativas de lançar novatos ligados ao Grupo Arimateia, braço de coordenação política da igreja, acabaram frustradas no Rio e em São Paulo. Na capital paulista, o bispo André Souza (Republicanos) concorreu apoiado pelo vereador Atílio Francisco, também bispo da igreja, e que não disputou após seis mandatos consecutivos.
Souza ficou na primeira suplência, mesma situação de Deangeles Percy (PSD), representante da grupo da Universal no Rio. Após fechar uma aliança com o prefeito Eduardo Paes (PSD), a igreja optou por não lançar um de seus vereadores, João Mendes de Jesus (Republicanos), e abrir espaço a Deangeles. Ele se filiou ao partido de Paes e percorreu templos da Universal na campanha, inclusive acompanhado pelo prefeito.
Outros dois vereadores ligados à Universal, Inaldo Silva e Tânia Bastos, ambos do Republicanos, se reelegeram.
— Quem tinha trabalho consolidado na política saiu na frente. No meu caso, além da igreja, carrego há anos a bandeira dos direitos dos autistas, o que também gera credibilidade — avalia a vereadora.
Além da dificuldade para eleger novatos, outros integrantes de bancadas evangélicas avaliam, reservadamente, que a polarização nacional entre o presidente Lula (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pode ter sido empecilho para candidatos que acabaram mais atrelados a um ou a outro lado dentro das igrejas.
Há casos em que a fragmentação de apoios foi o pano de fundo de dificuldades para eleger candidatos. No Rio, por exemplo, o vereador Eliseu Kessler (MDB), ligado à Assembleia de Deus de Madureira, não se reelegeu. O partido de Kessler fez parte da coligação de Alexandre Ramagem (PL), mas a cúpula da igreja apoiou Eduardo Paes (PSD).
À direita, parlamentares e pastores avaliam que a concorrência pelo voto de fiéis foi intensa neste ano, agravada pela forma como candidatos bolsonaristas, não necessariamente vinculados a lideranças de igrejas, mobilizam pautas de costumes que são caras a uma parcela deste eleitorado.
Sem representantes
Dois televangelistas populares no país, Valdemiro Santiago, líder da Igreja Mundial do Poder de Deus, e R.R. Soares, da Igreja Internacional da Graça, ficaram sem representantes nas Câmaras do Rio e de São Paulo. Soares abraçou na capital fluminense a candidatura do pastor Josias Cruz (MDB), outro novato, que não se elegeu. Na campanha, Cruz apostou na vinculação de sua imagem à do líder da igreja.
Representante de Valdemiro na eleição carioca, Sandro Alves, também do MDB, foi outro que ficou de fora. Valdemiro viu frustrada ainda sua tentativa de eleger Delegado Roberto Monteiro (União) em São Paulo. Apesar do apelo à pauta de segurança pública, Monteiro apostou igualmente na vinculação ao líder religioso, e participou de cultos da Igreja Mundial na campanha, ao lado do prefeito Ricardo Nunes (MDB) e do governador paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Outro nome da bancada evangélica paulistana que ficou de fora foi o vereador Rinaldi Digilio (União), ligado à Igreja do Evangelho Quadrangular, que não se reelegeu.