Catástrofes naturais cada vez mais frequentes, guerras, pandemia e a ideia constante de que o planeta está prestes a acabar. A ansiedade profunda relacionada à chegada de um suposto apocalipse pode virar doença. Assim como fobias específicas, a calipsefobia leva a pessoa a ter medo em relação a um objeto fóbico — neste caso, o temor da chegada de um cenário apocalíptico.
A ansiedade e o medo são componentes importantes e intrínsecos à natureza humana, são emoções normais do dia a dia, mas que podem se tornar patológicos, explica Elton Kanomata, psiquiatra no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.
Kanomata lembra da virada do ano de 1999 para 2000, quando, mundialmente, acreditou-se em um possível “bug do milênio”, que gerou um alarde e ansiedade nas pessoas. Para ele, esta insegurança também está relacionada ao “instinto primitivo de sobrevivência”.
Atualmente, a tragédia que assola o Rio Grande do Sul, por exemplo, pode ser gatilho ou até mesmo levar ao diagnóstico de um quadro profundo e intenso de ansiedade, preocupação e medo. Para o médico, trata-se, principalmente, da questão da incerteza e do desconhecido.
“Muitas vezes pode ser algo que já tenha de base ou pode desenvolver ao longo da vida. A fobia específica acaba se desenvolvendo quando jovem, mas pode acontecer mais para frente, quando mais velho. Pode surgir do nada ou por conta de uma experiência, como quem sofreu um trauma”, avalia.
A elevação do nível de estresse e de outros sentimentos psíquicos deve ter um acompanhamento psicológico, principalmente quando o sintoma extrapola e leva a um sofrimento significativo para a vida da pessoa, um medo que paralisa, explica o psiquiatra.
Prevenção para o fim do mundo?
A paulistana Aline de Oliveira, 43 anos, head em agência de marketing, descobriu há pouco tempo o termo calipsefobia. Foi na busca de informações sobre o fim do mundo que ela identificou a sua preocupação sobre o futuro do planeta.
Apesar de não ser paralisada pelo medo e também não sentir necessidade de seguir um tratamento psicológico, ela conta que esta é uma preocupação constante que tem e que se vê fascinada por filmes sobre o fim do mundo. “Assisto muito filme de fim de mundo porque a ideia é ver como se safar. Eu levo na esportiva, sempre brincando, mas estou com o assunto em pauta. É um assunto constante. Aí acontecem essas coisas, como aconteceu a tragédia do Sul, e eu falo ‘tá vendo, não é tão longe da nossa realidade'”, conta.
Em troca de mensagens com amigos e familiares, Aline diz “encher o saco das pessoas” falando sobre o armazenamento de comidas não perecíveis, de água e de formas como se prevenir. “Se eu fosse milionária com certeza eu teria um bunker”, brinca. Ela diz, inclusive, que usa a brincadeira como um recurso para lidar com o medo. “Não é apavoramento, não chega a ser uma coisa que me bloqueia, mas algo que eu penso sempre”.