A Eletrobras apresentou uma proposta de acordo coletivo de trabalho aos sindicatos que prevê, entre outros pontos, corte de 12,5% em salários e a autorização para “demissões em massa”, hoje proibidas.
As medidas foram propostas durante a renegociação do acordo coletivo, que vence neste semestre – as discussões começaram já em abril. O g1 questionou a companhia sobre a proposta e aguarda retorno.
Dessa forma, caso o novo acordo seja aprovado, a Eletrobras vai poder demitir trabalhadores em massa sem apresentar um plano de demissão voluntária — que garante alguns benefícios àqueles que escolhem se desligar da empresa.
Já a proposta de corte dos salários prevista na proposta da Eletrobras vale para os funcionários que recebem até R$ 15,5 mil. Quem recebe esse valor, por exemplo, pode ter um corte de mais de R$ 1,9 mil por mês.
A legislação trabalhista atual prevê que salários acima desse patamar podem ser negociados fora do acordo coletivo.
A cláusula sétima, que trata das demissões, não está nessa lista. O trecho que a Eletrobras não quer renovar por mais um ano diz que:
“Para o período de 01.05.2022 a 30.04.2024 fica definido para as Empresas Eletrobras que as dispensas em massa efetuáveis de uma só vez; as coletivas, realizadas em lotes; e as individuais sucessivas, caracterizadas pelo somatório como massivas, ficarão condicionadas à prévia oferta do plano de desligamento voluntário incentivado, nos termos do parágrafo segundo.”
Trabalhadores citam negociação difícil
O assunto chegou ao governo federal no início de abril. O ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, recebeu integrantes da Confederação Nacional dos Urbanitários (CNU), que reclamaram de dificuldades para negociar com a nova gestão da Eletrobras privatizada.
Segundo a coordenadora do Coletivo Nacional dos Eletricitários (CNE), Fabíola Latino Antezana, o sindicato questionou a Eletrobras sobre a redução da folha salarial durante a segunda rodada de negociação.
“Questionamos também na proposta uma tentativa de redução salarial sem o que está estabelecido na CLT pós-reforma trabalhista, que traz algumas premissas de redução, entre elas a garantia de emprego. E a empresa foi categórica em afirmar que não há na proposta a garantia de emprego aos trabalhadores”, disse.
Segundo Antezana, a preocupação dos sindicatos é que, com menos empregados, haja precarização dos serviços prestados pela Eletrobras, de geração e transmissão de energia.
“Por isso que, para nós, é tão importante que haja a cláusula da garantia de emprego para evitar essas demissões em massa, que a Eletrobras inclusive já tem, através de seus atos de gestão internos, comunicado a algumas categorias de trabalhadores”, declarou.
A Eletrobras foi privatizada em junho de 2022. O Estado brasileiro continuou acionista da companhia, embora não tenha mais controle acionário — ou seja, não pode mais decidir os rumos da Eletrobras.
A nova gestão que a assumiu a Eletrobras após a privatização, em uma chapa composta por alguns dos acionistas privados, iniciou um processo de redução de custos e lançamento de planos de demissão voluntária com o objetivo de “enxugar” a companhia.