Aliados de Jair Bolsonaro (PL) e alvos da investigação da Polícia Federal rechaçam a versão de que o ex-comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, ameaçou prender o ex-presidente se ele insistisse numa trama golpista.
A cena teria ocorrido no Palácio do Alvorada e foi descrita no depoimento do ex-comandante da Força Aérea Brasileira (FAB), Carlos Baptista Júnior.
Freire Gomes confirmou na oitiva dele ter participado de reuniões no Palácio do Alvorada em que foram discutidos os termos de minutas golpistas. Na versão que consta nos registros da PF, não há referência específica de Freire Gomes a um pedido de prisão, mas que o general teria dito que “o Exército não aceitaria atos de ruptura institucional”.
Os depoimentos dos dois ex-comandantes e de outros 25 militares e políticos tiveram o sigilo levantado na última sexta-feira (15) pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF).
Bolsonaristas apontam que a versão de ameaça de prisão é uma tentativa de tirar a suspeição de omissão e prevaricação do ex-comandante do Exército diante da suposta trama golpista.
Além disso, argumentam que Bolsonaro não ouviria uma ameaça de prisão sem reação. Apontam ainda que, como ainda estava no poder, o então presidente poderia ter substituído Freire Gomes e colocado um general aliado à frente do Exército, que não colocasse empecilho a um suposto golpe de Estado.
Nesta segunda-feira (18), o ex-ministro-chefe da Casa Civil de Bolsonaro, senador Ciro Gomes, criticou Freire Gomes.
“Está absolutamente provado que há um criminoso. Ou o criminoso que cometeu prevaricação ao não denunciar ao país o “golpe” ou o caluniador que o denuncia hoje, não tendo ocorrido”, escreveu nas redes.
Já o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou ter certeza de que o país correu “sério risco” de sofrer um golpe.
Na avaliação do petista, a tentativa de ruptura institucional não se confirmou porque parte dos comandantes das Forças Armadas não aceitaram a ideia do ex-presidente. Lula ainda chamou Bolsonaro de “covardão”.
“Hoje temos certeza que esse país correu sério risco de ter um golpe em função das eleições de 2022. E não teve golpe não só porque algumas pessoas que estavam no comando das Forças Armadas não quiseram fazer, não aceitaram a ideia do presidente, mas porque o presidente é um covardão, não teve coragem de executar aquilo que planejou”, declarou Lula.