Caminho da vitória da Ucrânia passa pelas ruas de Moscou

Imagem- Matthew Schmidt

A viagem do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, a Washington, na semana passada, marcou a nova fase da guerra do seu país.

Com a luta em impasse no campo de batalha, e com o apoio ocidental à Ucrânia vacilando, a batalha no Congresso dos Estados Unidos pode ser a mais importante no conflito.

É claro que a Ucrânia precisa assegurar fisicamente as linhas do front contra as forças russas. Mas não está claro se o presidente da Ucrânia pode avançar a linha de frente política nas capitais ocidentais longe e rápido o suficiente para empurrar a Rússia para fora do solo ucraniano.

Com o desenrolar do drama diplomático e político, fica cada vez mais evidente que só há três formas de a guerra na Ucrânia acabar. Uma é a Rússia ganhar pura e simplesmente, com a tomada permanente do território e a cessão da Ucrânia. A segunda é a vitória da Ucrânia.

Nesse cenário, a Ucrânia teria de recuperar a Crimeia, o centro de gravidade em torno do qual a guerra piorou desde 2014, quando foi ocupada pela Rússia. O terceiro –e cenário mais provável– é com os combates sendo congelados e seguidos por uma resolução política daqui a anos.

Depois de mais de 600 dias desde fevereiro de 2022 –e quase 3.600 dias desde que os ucranianos começaram, em 2014, a lutar e morrer para repelir as forças do presidente russo, Vladimir Putin– as forças de Kiev conseguiram parar a tentativa da Rússia de tomar conta da Ucrânia por inteiro.

Agora, a vitória russa parece ser uma na qual a Ucrânia faria concessões numa mesa de negociações. Ou seja, uma batalha jurídica pela paz em meio ao apoio ocidental estagnado e perda legal dos seus direitos a Donbas, Crimeia e a outro território que a Rússia tomou.

A solução certamente seria desagradável para os ucranianos. Uma pesquisa do Gallup feita no meio do ano mostrou que os ucranianos se comprometiam totalmente a continuar a luta contra a Rússia.

Aqueles que queriam continuar lutando foram quase unanimidade na pesquisa. Para eles, declarar a vitória exigirá recuperar todo o território perdido desde 2014. Para Zelensky, esse sentimento público torna a negociação muito difícil.

Não está claro se os líderes ocidentais reconhecem a firmeza de posição do povo. Porém, neste momento, os ucranianos não parecem querer que os seus líderes cedam permanentemente um território tão querido pelo qual não lutam apenas soldados, mas sim toda uma população que sofreu dois anos de ataques de mísseis, destruição de cidades e atrocidades nas mãos do exército invasor da Rússia.

Possibilidades de vitória ucraniana

Deixando de lado a perspectiva complicada e deprimente de a Ucrânia dar terras e ceder à Rússia, Kiev fica com duas formas de ganhar. Se os governos dos EUA e da União Europeia conseguirem ultrapassar o impasse político e oferecer uma nova rodada de ajuda, e talvez armas mais avançadas, a Ucrânia pode tentar usá-la numa tentativa drástica de capturar a Crimeia.

Ou Kiev pode tomar o caminho mais longo e mais provável: não buscar um acordo que acabe com a guerra e ceda território, mas um cessar-fogo que pause os combates, preservando as reivindicações legais da Ucrânia sobre o seu território, na esperança de que um dia possa recuperá-los.

São as únicas possibilidades por uma razão simples: não importa o que aconteça, a forma de a Ucrânia vencer esta guerra – se isso for, de fato, vencer – é nas ruas de Moscou.

Apesar de todos os esforços ucranianos e ocidentais para se opor ao pesadelo fantasmagórico de Putin de um grande “mundo russo”, e apesar das fortunas gastas em armas de alta e baixa tecnologia serem usadas no campo de batalha, a natureza subjacente da guerra não mudou.

A guerra continua a ser uma batalha de força letal cujo objetivo é resolver o que é, na verdade, uma questão política. Nas palavras de Carl von Clausewitz –o general do século 19 que meus estudantes militares chamam de “Carl Morto”– a guerra é uma questão política usando “outros meios”. O que acontece no campo de batalha, em última análise, deve chegar à política na capital do inimigo para que assim a luta mude o curso de uma guerra.

Perdoe esse momento professoral, mas vale a pena entender que a visão básica de Clausewitz sobre a natureza da guerra tem um efeito profundo sobre como os oficiais militares em todo o mundo ocidental e como eles pensam sobre quando a força militar funciona e não funciona.

Para ter uma noção de como esses oficiais enxergam o que está em jogo na Ucrânia hoje, e das formas do que pode acontecer no ano-chave de 2024, é fundamental saber algo sobre a abordagem de “Carl Morto” à guerra e à política.

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