Quando a seleção brasileira leva mais de uma hora de jogo para dar a primeira finalização (com um zagueiro, para fora), está claro que algo de muito errado acontece.
No principal desafio da era Fernando Diniz até agora, o Brasil não só perdeu para o Uruguai por 2 a 0 como teve uma de suas piores atuações em muito tempo. Nem mesmo nas derrotas para Marrocos e Senegal houve tantas dificuldades criativas e desorganização tática quanto se viu no Estádio Centenário nessa terça-feira.
Jogando em um gramado melhor e contra um adversário que teoricamente agrediria mais – cedendo mais espaços, consequentemente – esperava-se que o Brasil criasse mais oportunidades de gol do que no empate em 1 a 1 com a Venezuela, na última quinta. Não foi o que aconteceu.
A estratégia de Diniz deu errado. A Seleção preparou uma armadilha da qual o Uruguai de Marcelo Bielsa soube escapar. O plano era claro: trocar passes perto da própria área, recorrendo muitas vezes ao goleiro Ederson, para atrair o rival e, então, gerar espaços às costas da marcação.
Não funcionou principalmente por dois motivos: o Brasil cometia muitos erros técnicos (passes e domínios) e o Uruguai neutralizava as jogadas, ora desarmando no campo de ataque, ora evitando subir tanto as linhas de marcação, e em muitos momentos fazendo faltas táticas.
Aos 24 minutos, numa das poucas vezes que a proposta encaixou, a Seleção não soube aproveitar.
Se no Fluminense, com tempo para treinar, tal estilo de jogo vem funcionando, na Seleção parece haver ainda um longo caminho para coordenar os movimentos do “Dinizismo”. Enquanto isso não acontece, o que se vê é Neymar extremamente longe do gol, Rodrygo correndo para todos os lados sem conseguir ser participativo e um enorme buraco no meio de campo.
Este último problema se agravou após a lesão de Neymar e a escolha do técnico por Richarlison. Ficaram quatro atacantes e nenhum armador de ofício. Casemiro e Bruno Guimarães ficaram sobrecarregados na transição e não deram conta.
O camisa 10 se machucou minutos após o gol celeste, na primeira finalização dos donos da casa, que também não jogavam bem.
Na etapa final, o Brasil enfim conseguiu finalizar, mas o desempenho seguiu pífio. A Seleção seguia perto dos 70% de posse de bola, mas sem gerar qualquer risco ao gol adversário.
A principal chance veio num lance de bola parada. Aos 22, Rodrygo bateu falta no travessão.
Diniz tentou deixar o time mais agressivo e colocou David Neres no lugar de Yan Couto. Mal deu para assimilar a alteração, e o Uruguai marcou o segundo, aniquilando o pouco que restava de confiança aos brasileiros. No lance, Darwin Nuñez, mesmo colado à linha de fundo, conseguiu passar entre Casemiro e Gabriel Magalhães.
O Brasil encerrou o jogo com mais um centroavante, Matheus Cunha, e a entrada de Raphael Veiga não deu conta de resolver a falta de criação no meio.
O saldo da data Fifa é extremamente negativo e preocupante em termos de desempenho, resultados e perspectivas. Coletivamente, a Seleção não evoluiu – algo até certo ponto compreensível pelo pouco tempo de trabalho (foram apenas quatro treinos completos nestes oito dias em que a Seleção esteve reunida). Individualmente, há muitos jogadores abaixo do que se espera. E, se já não bastasse, há um risco grande de perder Neymar para os próximos meses, por conta da lesão no joelho.
Pra piorar, novembro reserva os jogos mais difíceis para o Brasil em 2023: Colômbia, no caldeirão de Barranquilla, e a embalada Argentina, em clássico no Maracanã.
Como testar novos jogadores em partidas tão duras e depois de dois tropeços? Por outro lado, como manter essa base que jogou tão mal?
Fernando Diniz poderia começar a se debruçar sobre esses problemas a partir dessa quarta-feira, mas terá de preparar o Fluminense para o enfrentar o Corinthians, já na quinta. Depois, ainda terá mais quatro partidas até a final da Libertadores contra o Boca Juniors.
A situação em que o Brasil se colocou nessa data Fifa evidencia o problema de ter um técnico dividido com o clube. Às vésperas do jogo mais importante da carreira, como Diniz encontrará soluções para os problemas da Seleção? Que tempo ele terá para observar jogadores para a convocação de daqui a dez dias?
A CBF e o treinador sabiam do risco que estavam assumindo ao fecharem acordo três atrás. Mas talvez não imaginassem os desafios que novembro reservaria para eles…