A greve que paralisou as linhas do Metrô e da CPTM em São Paulo nesta terça-feira (3) gerou repercussões que, além dos 767 quilômetros de lentidão no trânsito e da intensificação do fluxo dos transportes que mantiveram a operação, anteciparam pautas e confrontos que devem ser discutidos na capital nas eleições de 2024.
Especialistas avaliam que greve evidenciou a polarização entre o prefeito Ricardo Nunes (MDB), que tentará se reeleger, e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), que o desafiará no pleito, e criou um fato a ser explorado por ambos na campanha do próximo ano.
Ainda pela manhã, o prefeito classificou a paralisação como “ideológica, apoiada por partidos como o PSOL” em publicação numa rede social.
Ainda pela manhã, o prefeito classificou a paralisação como “ideológica, apoiada por partidos como o PSOL” em publicação numa rede social.
Para Jairo Pimentel, pesquisador do Centro de Política e Economia do Setor Público (Cepesp) da Fundação Getulio Vargas, a fala é “calculada” e deixa o embate entre Nunes e Boulos “mais evidente”.
Rachel Meneguello, cientista política da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), pondera que a crítica de Nunes é “inevitável”, já que o deputado deve ser seu principal adversário. Ela ressalta que esse embate, contudo, remete a algumas décadas atrás, quando esquerda e direita “debatiam entre privatização e estatização”.
A greve tem como premissa protestar contra as concessões, terceirizações e privatizações propostas pelo governo estadual. Em linha com o mandatário municipal, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirmou que a paralisação é movida por interesses “políticos e ideológicos” e visa “promover o caos”.
Saldo eleitoral
Pimentel ressalta que tanto Tarcísio quanto Nunes aproveitaram para “marcar terreno” e se afastar dos opositores: “Eles demonstraram que estão ‘ao lado’ da ordem e da manutenção das regras vigentes”.
Por sua vez, Guilherme Boulos chamou o governo estadual de “intransigente” e “grande responsável” pelo ato em publicação numa rede social.
O pesquisador pontua que, ao endossar o movimento, o parlamentar pode ter sua imagem vinculada a “um campo mais radical”: “Do ponto de vista da comunicação, esse é o movimento oposto do que ele busca fazer para conquistar votos em 2024. O eleitorado de São Paulo é bastante avesso a situações do tipo”.
O cientista político e especialista em pesquisas qualitativas Renato Dorgan lembra que Nunes não está no cargo desde o início do mandato (ele era o vice e assumiu com a morte de Bruno Covas, em 2021) e, por isso, a avaliação da gestão deve dar lugar a um debate nacionalizado e ideológico no pleito. Neste sentido, é o prefeito quem capitaliza: “A esquerda é estigmatizada pela direita como quem faz baderna e desordem”.
“Ele faz uma gestão sem marcas e [pode aproveitar] a rejeição considerável a Boulos na capital”, complementa.
Em meio às discussões, a própria pauta dos transportes públicos é quem parece ficar em segundo plano. Meneguello, contudo, considera que o tema “não teve solução satisfatória nos grandes centros” e, sem dúvida, terá espaço na campanha.