Ex-comandante de Operações da Polícia Militar do Distrito Federal, o coronel Jorge Eduardo Naime é suspeito de ter usado a estrutura da corporação para escoltar valores em dinheiro, sem declaração e de forma extraoficial, apontam os documentos da Polícia Federal que resultaram na operação desta sexta-feira (18) contra policiais militares do DF.
Em uma dessas ocasiões, em junho de 2021, ele teria promovido o transporte de R$ 1 milhão em espécie partindo de São Paulo com destino a Brasília, em benefício de uma pessoa chamada Sérgio Barbosa de Assis.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) viu indícios de corrupção contra o coronel, além da suposta prática de desvios de recursos da Associação dos Oficiais da Polícia Militar do Distrito Federal, entidade presidida por Naime.
Segundo a PGR, a transação faria parte de “relações econômicas aparentemente ilícitas” entre Naime e Assis, que envolveria possivelmente lavagem de dinheiro.
“A movimentação de vultuosos valores em espécie, sem declaração correspondente e de forma não oficial, tem por propósito burlar os mecanismos de monitoramento antilavagem existentes de forma permanente no sistema financeiro, dificultando a identificação da origem, da localização, da propriedade e da própria movimentação dos valores”, disse no documento o subprocurador Carlos Frederico Santos, responsável pelas investigações dos atos de 8 de janeiro.
“Tais condutas só se justificam logicamente nos casos em que os recursos possuem origem ilícita, considerando o elevado risco e os maiores custos da operação”.
Por não ter relação direta com os ataques às sedes dos Três Poderes, Santos pediu ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), o envio desses indícios ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios “para as providências que entender cabíveis”.
Suspeitas de corrupção
As suspeitas de corrupção contra Naime constam de denúncia apresentada pela PGR ao Supremo contra a cúpula da PM-DF, por suposta omissão nos atos de 8 de janeiro.
Preso desde fevereiro, Naime foi um dos denunciados pela PGR. Ele é acusado de omissão, combinado com os crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça, com emprego de substância inflamável contra o patrimônio da União e com considerável prejuízo para a vítima e deterioração de patrimônio tombado.
Enquanto presidente da Associação da PM, Naime contratou a empresa “Pico Serviços de Comunicação”, de propriedade de Sérgio Assis, para trabalhos de assessoria e marketing.
O contrato, assinado em fevereiro de 2022, previa pagamento mensal de R$ 8.900,00
Segundo a PGR, no entanto, uma semana depois de assinado o contrato, Sérgio passou a fazer pagamentos mensais a Naime no valor de R$ 8 mil. O órgão apontou que a operação indica suspeita de que o coronel usava da sua posição na associação para desviar recursos obtidos pela entidade por meio da contribuição dos oficiais da PM.
“Nesses moldes, além de se constatar evidente lesão contínua – por pagamentos sucessivos decorrentes de contrato simulado – aos associados da Associação dos Oficiais da PMDF, há indícios de corrupção por parte de Jorge Eduardo Barreto Naime”, disse a PGR.