Homem morto em ação da polícia teve o filho tirado do colo antes de ser ‘fuzilado’ em mangue, diz esposa

Cleiton Barbosa Moura morreu durante operação da polícia em Guarujá (SP) — Foto: Arquivo Pessoal e Reprodução

A esposa de Cleiton Barbosa Moura, uma das pessoas mortas durante a operação policial em Guarujá, no litoral de São Paulo, afirmou que o marido foi executado a sangue frio. Ela contou ao g1, nesta terça-feira (1º), que o homem foi arrastado de casa para um mangue e “fuzilado” perto do filho de 10 meses 

Cleiton, de 24 anos, morreu baleado na Rua Operária, no Sítio Conceiçãozinha, ao lado de casa, no último dia 29 de julho. Segundo a esposa dele, que preferiu não se identificar, o marido era ajudante de pedreiro, mas havia sido preso por tráfico de drogas em 2020.

“Ele estava terminando de pagar o ‘BO’ dele, mas isso não justifica o que fizeram”, desabafou a mulher. “O sentimento é de tristeza. Antes de dormir o nosso filho chama ‘papai’. Ele agora não tem mais o papai perto dele”.

A mulher disse também que os policiais ‘forjaram’ crimes de Cleiton na ocasião. De acordo com ela, os agentes pegaram uma das mochilas das crianças e colocaram drogas – não especificadas – dentro, assim como registraram que o marido dela estava com uma pistola no local.

Morte de Cleiton

A mulher disse que morava com Cleiton e mais cinco filhos dela no local, sendo apenas um – o bebê de 10 meses – fruto da relação com o homem baleado. Ela afirmou que, na data do ocorrido, trabalhava fora de casa e havia deixado o marido cuidando da criança.

À reportagem contou ter sido informada que policiais entraram no imóvel e arrastaram Cleiton para fora, levando o homem para uma área de mangue ao lado da casa. A mulher afirmou que o marido foi executado por um tiro de fuzil, mas não soube dizer a parte do corpo onde ele foi atingido.

De acordo com a viúva, instantes após a suposta execução, um dos filhos dela, de 13 anos, voltou para casa e viu a situação. “Perguntaram: ele mexe com vocês? Maltrata? Meu filho disse que não. E foi ai que esse policial [voltou ao beco e] deu dois tiros para o alto, para fingir que foi o meu esposo”.

Por fim, ela relatou que o bebê foi entregue por um policial ao outro filho dela, de 13 anos, antes dos agentes deixarem o local. Segundo a família, Cleiton foi enterrado na última segunda-feira (31), no Cemitério Consolação, também em Guarujá (SP).

Moradores realizaram uma manifestação, na noite de segunda-feira (31), na entrada do bairro Sítio Conceiçãozinha, em Guarujá, no litoral de São Paulo, contra a operação da Polícia Militar (PM), iniciada, na última sexta-feira (28), após a morte do PM da Rota Patrick Bastos Reis.

“A população inteira do Guarujá (SP) só quer paz […]. O direito é de levar e prender, não é estar matando ninguém que nem bicho. Cada um tem que pagar o preço pelo que fez, [mas] não acontecer do jeito que estão fazendo. Matando, desovando e desrespeitando. Não é dessa forma”, disse uma das moradoras, que preferiu não se identificar.

Os manifestantes informaram que os policiais estão invadindo residências da comunidade, agredindo e matando, de acordo com eles, trabalhadores. (Veja os relatos completos no áudio acima).

“Nem todo mundo é bandido. A gente é trabalhador. Só está morrendo trabalhador […]. Já mataram vários e a gente precisa acabar com isso. A gente precisa de segurança. Nós estamos pedindo socorro”, afirmou outra moradora da comunidade.

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