Vélber foi destaque da “era de ouro” de um time que surpreendeu o Brasil e a América do Sul no início do século. Atuando pelo Paysandu, o ex-jogador conquistou a Copa do Campeões em 2002, torneio que garantiu vaga na Libertadores do ano seguinte. Na competição continental, o Papão da Curuzu derrotou o Boca Juniors em plena La Bombonera, feito que apenas o Santos de Pelé e o Cruzeiro de Ronaldo tinham alcançado até então.
Esse desempenho chamou atenção de gigantes do futebol brasileiro, inclusive do São Paulo, que foi atrás de Vélber e contratou o jogador em 2004. Em entrevista ao podcast GE na Rede, do ge.globo/pa, o “Risadinha” revelou os bastidores do período em que jogou pelo Tricolor, desde o início na cidade paulista até uma polêmica com Rogério Ceni, um dos maiores ídolos do clube.
Com pouca idade e menos ainda experiência, Vélber precisou “se virar” rapidamente na cidade paulista. Logo nos primeiros dias em São Paulo, Vélber passou pelos transtornos que qualquer paulistano sofre em algum momento do ano, as enchentes. O ex-meia queria jantar em um shopping e chamou um táxi para chegar até o local, mas ele ficou parado no carro por conta das fortes chuvas e foi “enrolado” pelo motorista.
– Saí de um hotel que eu estava e andamos uns 50 metros, mas tinha chovido. O táxi ficou parado, pois o trânsito fechou. Passei cerca de 1h30 dentro do táxi. Eu já estava saturado de estar ali dentro e eu pedi para o motorista voltar para o hotel, só que ele disse que esqueceu de desligar o taxímetro. Eu disse que iria descer lá. Ele cobrou entre R$250 e R$300. Disse que quase não tínhamos saído do hotel e ele pediu desculpa. Eu era novo e tive que pagar.
Esse foi apenas um pequeno problema diante da oportunidade de jogar com craques como Luis Fabiano, Grafite, Cicinho, Júnior e tantos outros. Dividir o gramado com essas estrelas do futebol brasileiro e jogar no Morumbi lotado pode intimidar vários jogadores, mas não foi o caso de Vélber. Ele já chegou na equipe como titular e sabia que precisava se esforçar para agarrar a oportunidade que tinha conquistado.
– Foi fera demais, tanto que fui campeão da Libertadores pelo São Paulo. A perna não tremia. A torcida me cobrava e perguntava o motivo de não ir comemorar com eles quando fazia gol. Eu tinha uma concentração tão grande, pois eu vim de uma família muito humilde. A ponte da minha casa era dois açaízeiros, no bairro do Guamá (em Belém). Hoje, graças a Deus, moramos bem. Eu botei na minha cabeça que o futebol podia mudar a minha vida, da minha família e podia dar um lugar melhor para a minha mãe. Eu levei a sério tudo que diziam que fazia mal no futebol. Nunca bebi nem fumei. Eu me cuido, frequento academia. Levei muito a sério.
Apesar do início promissor, o paraense já não aparecia tanto nas escalações do time paulista. Ele revela que passou por um problema que o deixou impossibilitado de atuar por um ano e quase custou sua carreira.
Tive contusões que muitas pessoas nem sabem. Em um treino, eu dei um carrinho no Luis Fabiano e fiquei sujo de tinta, só que nessa tinta tinha um bichinho que fica na grama e ele acabou entrando na minha perna e comeu ela. Se eu demoro mais 30 minutos para ir ao médico, eu teria que amputar minha perna. Por conta disso, passei seis meses fazendo uma câmara hiperbárica, pois eu estava com foliculite. Tive que fazer um trabalho para recuperar e colocar esse bicho para fora. Depois, eu tive que fazer um trabalho para recuperar a minha forma física. Só que o Danilo estava fazendo gol até de tiro de meta quando voltei.
Só que esse não foi o único motivo que afastou Vélber do time. Ele admitiu que teve uma discussão ríspida com Rogério Ceni, que era goleiro e o maior ídolo do São Paulo na época. De acordo com o ex-jogador paraense, Rogério foi desrespeitoso com Belém e isso gerou uma discussão ainda dentro do avião após uma partida contra o Once Caldas, na Libertadores.
Eu ainda joguei bastante, mas foi aí que veio a situação com o Rogério. Antes de conquistarmos a Libertadores (em 2005), nós viajamos para jogar contra o Once Caldas, na Colômbia (em 2004). Nós tomamos um gol aos 50 minutos do segundo tempo. O jogo seguinte seria com o Paysandu, em Belém, pelo Campeonato Brasileiro. Eu estava feliz por ver a família, os meus filhos. Eu não sabia que ele estava puto e perguntei: “Rogério, em quantas horas vamos chegar em Belém?”. Ele respondeu: “Velbinho, o c… do mundo é longe”. Perguntei: “como o c… do mundo é longe?”, e ele respondeu que Belém é o c.. do mundo. Cara, falou em Belém o bicho pega. Apesar desse tamanho, eu mandei ele para longe.
Eu estava como titular na equipe. Discutimos dentro do avião, mandei ele para longe e falei que se ele não me respeitasse, eu iria dar uma entrevista dizendo o que ele tinha falado. Acabou que ele ficou calado e acabei não comentando. Ele pegou um frango aqui. Chutaram no gol, ele foi pegar e passou por baixo das pernas dele.
Vélber afirma que esse episódio dificultou a vida no time do São Paulo. Ele lembra que o afastaram da equipe titular, mas que se manteve firme e bateu o pé.
– Depois (da discussão com Rogério Ceni), queriam me afastar do time titular, só que eu ganhava R$ 125 mil, tinha uma multa rescisória de R$ 68 milhões, a multa do Rogério era de R$ 50 milhões. Eu ainda tinha um ano de contrato e disse que eles iriam ter que me engolir até o término do meu contrato, que eu não sou doido de pedir para ir embora. Disse que se eles quisessem me emprestar para qualquer lugar eu iria, só que o São Paulo iria pagar.
Se o Vélber era irredutível, o São Paulo tampouco era flexível. Apesar do interesses de outros clubes do Brasileirão, o Tricolor não liberava o paraense, pois não gosta de reforçar concorrentes, de acordo com o ex-jogador.
Vélber teve a chance de jogar até no Japão, pelo Kashima Antlers, porém ele não conseguiu sair do time paulista. Ele chegou a ser emprestado para Fortaleza e Ponte Preta antes do fim do contrato.
– Palmeiras, Cruzeiro e Santos queriam me contratar. Joguei contra o Santos e fiquei na reserva mesmo com um time misto. A torcida santista me perguntou o que eu estava fazendo lá e pediu para assinar com o Peixe, pois era reserva do reserva. Tive uma proposta do Kashima Antlers, mas eles não liberaram. Mandaram um outro moleque e só depois que descobri. Eles estavam fazendo de tudo para pedir para ir embora. Me colocaram até para treinar separado e disseram que eu estava com um problema de cabeça. A imprensa pegou no pé deles e me colocaram para jogar. Entrei em um jogo contra o Fortaleza, fui o melhor em campo e não tinha mais desculpa. Fiquei até o término do meu contrato e vim para o Remo.
Sua última partida oficial pelo São Paulo foi no dia 12 de novembro de 2005, quando entrou no segundo tempo da partida contra o Palmeiras, pelo Brasileirão daquele ano. Após o contrato terminar com o Tricolor Paulista, Vélber ainda passou por América-SP, Remo Itumbiara, América-RN, Luverdense, São Raimundo, Rio Verde e Paysandu antes de pendurar as chuteiras, em 2016.