Internada devido a fortes dores musculares provocada pela fibromialgia, uma jovem de 19 anos, L.B., acusa um técnico de enfermagem do HTO Hospital Geral, de Feira de Santana, de assédio sexual. Segundo a vítima, o homem apalpou seus seios e forçou um beijo de língua, no período em que estava na unidade para tratamento.
A mãe da jovem, A.P.S.L – que preferiu não se identificar -, fala que o caso aconteceu no dia 1º de maio, feriado do Dia do Trabalhador. Ela conta que estava a caminho do hospital para trocar o turno de acompanhante, quando foi informada pela irmã mais nova da vítima, também sua filha, de 14 anos, do que havia ocorrido.
A crise de dor, no entanto, começou dois dias antes. No dia 29 de abril a vítima foi em busca de atendimento médico e ficou em um leito de emergência de outra unidade até a disponibilidade de um apartamento, quando só então foi regulada para o HTO.
“No dia 30 de abril ela foi regulada para o HTO e o episódio aconteceu no dia 1º de maio. Nessa noite, como eu tenho uma filha de 14 anos, o namorado dela passou a noite com ela, como ele trabalha, ele me ligou e falou assim: ‘olha sogra, eu estou saindo e a senhora vai para lá’. E eu disse: ‘pronto, já estou indo para aí’. Nesse meio termo eu liguei para ela e como foi 1º de maio que aconteceu, disse: ‘vou até levar sua irmã para te visitar’. Ela me disse: ‘mãe, tô bem. O fisioterapeuta passou aqui agora, pediu pra eu andar um pouquinho no corredor, porque é bom para o processo da doença’”, detalhou.
Foi aí que a jovem saiu do apartamento, seguindo orientação médica, e foi caminhar do corredor, momento em que encontrou com o técnico de enfermagem.
“E ela saiu com o soro, andando no corredor e foi quando ela se deparou com o funcionário. Esse técnico de enfermagem estava no dia trabalhando na UTI, não estava no setor dela. Só que ele já tinha atendido ela em um momento em que ela foi somente tomar uma medicação. Na hora que ela entrou na sala para tomar medicamento, entrou com a irmã e ele perguntou: ‘cadê sua irmã, sua mãe?’. Aí, ela, na inocência, falou assim: ‘ela está vindo’. Ela foi voltando devagar e adentrou o quarto, que fica quase em frente ao posto de enfermagem, e a câmera [de segurança] dá de frente para o apartamento dela, quando ela sentou, que ela virou, ele já veio apalpando ela, pegando nos seios, apertando. Ela entrou e ele veio atrás, e entrou também, fechou a porta, apertou ela, apalpou os seios e deu um beijo de língua. Só que ela ameaçou gritar, porque quem tem fibromialgia fica muito sensível, nem toque de pele. Quando ela ameaçou gritar, ele saiu. Nas filmagens deu por conta de dois minutos ele dentro do quarto”, complementou.
As imagens da câmera de segurança foram encaminhadas para Polícia Civil, como assegura a mãe. Ela ainda questiona o motivo do funcionário ter entrado no quarto, “porque ele estava escalado para o setor da UTI e ela estava no setor de internamento”. “Não tinha nada a ver”, completou.
Conforme a família, a Polícia Civil já abriu inquérito para investigação após boletim de ocorrência. O advogado da vítima, Pedro Henrique Duarte, confirma que a jovem, o técnico de enfermagem, a mãe e a irmã mais nova já foram ouvidos pela polícia. A defesa também diz que o hospital pediu para que a queixa fosse retirada.
A família confirma ter procurado os sócios e dono do hospital, e a coordenadora de enfermagem do HTO para cobrar esclarecimentos e providências, mas não obteve retorno. Os familiares afirmam que o hospital “deu fuga” ao técnico, que não foi encontrado mais nas dependências da unidade.
“Em nenhum momento o hospital mandou um médico, não tinha nenhum um médico plantonista. O médico que estava de plantão, estava de plantão somente por telefone. Ela não foi atendida por ninguém, não teve assistência nenhuma e ela super chorosa”, fala.
Neste mesmo dia, a mãe afirma que a filha teve uma nova crise de dor e não foi medicada. “E não tinha como dar nada a ela, porque só podiam aplicar nela o que estava prescrito e como não tinha médico no momento…”. Foi quando ela afirma ter comunicado o advogado que acionaria a polícia para retirar a filha do HTO. “Foi quando o médico da UTI esteve lá e passou algo para ela, um calmante”.
Pouco dias depois, a paciente recebeu alta do HTO sem o prontuário médico. A família e o advogado solicitaram o documento e reiteraram o pedido por e-mail e solicitação impressa, no dia 8 de maio, e até hoje não obtiveram retorno. Para a família, isso atesta a “conivência” do hospital com o caso, “queriam se ver livre dela” e “culpá-la pelo aconteceu”. Após a alta, ela permaneceu em casa e não teve acompanhamento psicológico.
Diante do quadro de saúde, a mãe conta que esta não é a primeira vez que ela foi atendida no HTO. “As internações são recorrentes, ela já esteve várias vezes nesse hospital para fazer medicações, para controle de dor, na verdade”, fala.
A jovem L.B. relatou ter informado à uma enfermeira o que tinha acontecido. Na conversa com a mãe, a paciente contava o quanto de dor estava sentindo quando o técnico a teria assediado. “Deitei na cama e veio tudo à minha cabeça de novo, eu estou aqui me tremendo, não sei o que fazer”, reclamou.
Na ligação, a mãe tentava a todo tempo acalmar a filha e chega a pedir uma enfermeira que a acompanhasse.
A jovem, L.B., tem histórico de depressão e ansiedade, e a fibromialgia se manifestou em 2022, depois do divórcio dos pais, como relata a mãe ao BN. Nesse mesmo período, ela ingressou no curso de medicina em uma faculdade de Alagoinhas. “As dores dela só passam com medicação venosa. Já chegou vezes dela ficar 12 dias internada”, fala.
Segundo a mãe, após o episódio o quadro psicológico dela foi agravado, tendo sido diagnosticada, inclusive, com síndrome de borderline.